A luta contra do câncer de Ana Luísa Areias

Carolina Rodriguez
Outras matérias
Published in
4 min readJan 15, 2020

Como uma doença pode afetar a vida pessoal de uma pessoa

O ano de 2013 começou de uma maneira conturbada para a professora de ciências Ana Luísa Areias, de 34 anos. Em março, após quebrar o braço, o médico havia receitado um remédio que, com base de morfina, causou diversos efeitos colaterais. Isso a fez voltar ao pronto-socorro pensando se tratar de uma virose quando foi diagnosticada com câncer no ovário e um sério problema na tireoide.

Em três semanas, a vida de Ana Luísa Areias mudou completamente: após o
diagnóstico, o sistema reprodutor e a tiroide deveriam ser retirados em uma cirurgia de risco, em que havia apenas 15% de chances de sucesso. A professora lembra-se da preocupação que tinha com o filho de 6 anos “Na hora pensei apenas no meu filho. Como ele ficaria sem mãe? Demorei 7 anos para engravidar e teria só 6 para criá-lo”.

Areias afirma que teve sorte em seu caso, não só pela sua força interior, mas pelas condições financeiras que sua família possui para ajudar no tratamento “Minha cirurgia foi bancada pelo meu pai então tive a vantagem de escolher meu cirurgião, anestesista e afins. Desculpe os idealistas, mas quem não tem dinheiro pra pagar, não sobreviveria!”.

Agora Areias vive uma vida normal, apesar de não poder ter mais filhos. Seu único tratamento contínuo é a reposição de hormônios devido à retirada da tiroide e a fisioterapia para o braço quebrado. Hoje ela vê a vida de outro jeito “O que tem de ser, será da maneira mais intensa que eu conseguir. Está sendo assim desde o dia que ouvi que estava com um tumor e que provavelmente era maligno”. Ana Luisa Areias teve pouco tempo para absorver o que acontecia e seu lado psicológico também foi afetado.

“Foi um grupo ao meu quarto pra dialogar sobre o assunto, mas tudo o que eu não queria era conversar. Meu lance sempre foi correr atrás da melhora. Ouvi muita música e li… o resto não me interessou muito”. Ela aprendeu uma grande lição com tudo o que passou.

“Realmente nada me abalou com relação à opinião doas pessoas de fora, meu foco era em sair logo e bem. Não me arrependo de nada porque na verdade o saldo está sendo positivo, aprendi muito”, diz.

Apesar de a doença se manifestar, na maioria dos casos, em mulheres com mais de 40 anos, a alta incidência de câncer na família fez com que Ana Luísa tivesse maior probabilidade de adquirir o mal. À maioria dos casos não possui sintomas até a doença atingir um estágio avançado. Nesse caso, a mulher começa a sentir aumento do volume abdominal, constipação e alterações no sistema digestivo.

Segundo dados do INCA, Instituto Nacional de Câncer, a estimativa de novos casos desse tipo de câncer é de 6.190, de acordo com as pesquisas de 2012, e o número de mortes chega a ser próximo de três mil. Ana Luisa passou por 21 exames, entre diagnósticos e pré- operatórios e sua cirurgia durou sete horas “A cirurgia começou às 17h e terminou umas 23h. Eu voltei da anestesia as 0h40min, por aí. No caso, as cirurgias que fiz foram a tireoidectomia total e
histerectomia total.”.

Segundo Areias, ela acha que os casos de câncer no Brasil são tratados de acordo com o paciente “Algumas pessoas aceitam e correm atrás da cura, outras se deprimem, se revoltam… não tem certo ou errado, tem cada caso. É particular e volto a repetir, só entende quem passou por isso. Independente da pessoa, ele surge e não é seu, portanto o lance é tirar da frente o que te atrapalha, o que não te faz evoluir enquanto “doente” o momento do doente é único e ele tem o direito e dever de ser egoísta; caso contrário não sairá dessa situação.”

Apesar de ter passado por um momento decisivo em que havia a possibilidade de algo pior, Areias revelou de onde veio toda a sua força “O Felipe sempre foi o centro de minhas ansiedades e preocupações enquanto estive no hospital.” E completa dizendo que ela mesma estava bem mais tranquila do que as pessoas que acompanhavam a situação de fora, como seus amigos e família.

“Saber as situações cotidianas do Fê me tranquilizavam e me fortaleciam, inclusive saber que ele estava começando a aprender a rezar, chorar a noite antes de dormir, sorrir, sair, coisas habituais por mais engraçado que pareça agora, me davam muita força pra eu me mexer”, finaliza.

Alguns meses depois, Areias acha engraçada a possibilidade de ter ficado doente, já que era conhecida como aquela que não parava o dia todo. Define sua própria experiência como “diferente”: “Lavei a alma, falei o que quis da forma e pra quem eu desejei… Renasci começando do zero. É muito bom.”.

--

--

Carolina Rodriguez
Outras matérias

28 anos, jornalista e técnica de museologia. Música e escritora de ficção nas horas vagas.