Carolina Rodriguez
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12 min readJan 10, 2020

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Davos: a cidade do esqui

Para quem deseja viajar, conhecer a neve e ainda fazer esportes ou alguma atividade mais radical, uma boa alternativa de roteiro é uma cidade da Suíça, Davos. Tem estado bastante em voga nestes últimos tempos por conta de seus destaques e atrativos, que não são poucos.

A cidade de Davos, na Suíça, é a cidade mais alta da Europa, chegando a 1.560m do nível do mar. Famosa por sua diversidade de atividades esportivas, culturais e de lazer, também é conhecida por conta de suas estações de esqui e por sediar o evento do Fórum Econômico Mundial. Possuindo certa de 11.166 habitantes, estende-se por uma área de 283,98 km².

O idioma mais falado e também o oficial da cidade é o alemão, mas por conta do turismo, a maioria dos lojistas, por exemplo, estão preparados para receber os visitantes e falam inglês, espanhol e até mesmo francês. É o segundo maior resort de esqui da Suíça, sendo um dos maiores do mundo.

Situada junto ao lago de mesmo nome, a cidade nem sempre esteve em destaque no que se refere aos esportes de inverno modernos. Tudo começou no século XIX, onde um trenó chamado Davos participou da primeira corrida histórica de trenós, no ado de 1883, na própria cidade. A partir daí, a cidade chamou a atenção de todos os olhos do mundo.

No ano de 1921 foi criado o Hockey Club Davos, também conhecido como HC Davos. Trata-se de um clube profissional de hóquei no gelo, que participa da Liga Nacional A, ou seja, o primeiro campeonato de hóquei criado. A equipe geralmente é bastante forte no campeonato, reforçando muitas vezes sua lista de membros com jogadores da equipe nacional suíça e jogadores que já estiveram em outras equipes da Liga Nacional de Hóquei.

Já no ano de 1923, Davos testemunhou a primeira Copa Spengler, que é o mais antigo e mais famoso torneio internacional de hóquei no gelo do mundo. No ano seguinte, em 1924, ocorreu pela primeira vez na cidade o Parsenn Derby, conhecido por ser a corrida de esqui mais tradicional da Suíça.

Dez anos depois, foi instalado e colocado em operação o primeiro teleférico t-bar do mundo, no percurso Bolgen. Nos tempos mais modernos, Davos criou manchetes e fez história quando estabeleceu a cena do estilo livre, na década de 1980. Na época, a montanha Jakobshorn era a única na qual os praticantes de snowboard podiam usar elevadores.

Davos também é conhecida por ser um ponto de encontro, uma vez que é o ponto de partida para excursões de trens famosos no país como o Glacier Express e o Bernina Express.

A qualidade e diversidade das instalações da cidade são únicas, possuindo uma infra-estrutura exemplar para eventos, tanto esportivos como culturais, que são internacionalmente acamados. O Museu Kirchner é um dos pontos turísticos mais procurados para quem visita o local, juntamente com suas estações de esqui e snowboard.

Possuindo um característico telhado plano alpino, Davos desenvolveu o seu próprio estilo de construção, fazendo com que tenha uma arquitetura única. O Estádio de Gelo Davos, inaugurado em 1981, é um estadios mais interessantes arquitetonicamente em toda a Europa.

Esqui em Davos

Dentre todas as estações de esqui, as mais famosas talvez sejam as encontradas em Davos e Klosters, na Suíça. As duas cidades são famosas por sediarem, em conjunto, o anual Fórum Econômico Mundial, além de suas estações de esquis que atraem os olhares mundo afora.

A cidade de Davos é considerada uma das melhores estações do país, já que oferece condições de esqui tanto para iniciantes quanto para experts. Suas pistas são as mais altas da Europa, além de serem as mais antigas também.

Quem já tem prática e está no estágio avançado do esporte, pode encontrar as melhores descidas na base das montanhas em Davos , que são mais íngremes.

Estão a disposição mais de 300 km de pistas para snowboard, 750 km de pistas para esqui nórdico, 75 km de trilhas para os praticantes de cross-country, 2 ringues artificiais de patinação no gelo e 3 pistas de trenó. Também oferece o maior ringue de patinação no gelo natural da Europa.

Davos é uma cidade que tem uma das maiores extensões esquiáveis dos Alpes, sendo dividida em 7 áreas: Parsenn, Gotschna, Jakobshorn, Pischa, Madrisa, Schatzalp e Rinerhorn.

  • Jakobshorn: é uma área especializada em snowboard desde meados dos anos 80, possuindo, além de percursos, uma área livre. Sendo o maior dos Alpes, é também perfeita para as famílias que queiram se aventurar no esporte, uma vez que tem trilhos para iniciantes que queiram dar seus primeiros passos no esqui ou no snowboard. O principal parque, Parque Jatz, disponibiliza 18 tipos de saltos diferentes pela montanha.
  • Parsenn Davos: considerada o berço do esqui na Suíça, é a área mais popular e mais procurada para quem quer se aventurar no esporte. Desde 1895 os esquiadores estão por suas pistas. Embora a sua maior altura tenha vindo somente 80 anos depois, com a instalação do funicular.
  • Pisha: essa é uma das áreas de estilo livre, ou freeride, mais ensolaradas na Suíça, além de ser também uma das maiores. Geralmente, é mais indicada e procurada por famílias que contenham crianças, já que suas trilhas são preparadas de forma devida para receber os pequenos. É possível andar com as raquetes de neve em Pisha, mesmo durante a noite.
  • Rinerhorn: a estação mais sofisticada da região pode ser encontrada aqui, ao pé do monte Snowdon. A atividade mais relevante de Rinerhorn são os passeios de trenó, que podem ser desfrutados tanto durante o dia quanto durante a noite, durante as quartas e sexta-feiras. Os percursos dessa área possuem mais de três quilômetros de deslize.
  • Madrisa: outra alternativa para quem deseja viajar para esquiar com crianças, porém é indicada também para iniciantes no esqui. Além de esquiar, existem outras opções como percurso de trenó e aulas de esqui e skate na neve para quem deseja aperfeiçoar a técnica.
  • Schatzalp/Strela: considerada a área de esporte mais descontraída da cidade de Davos, é uma boa opção para quem deseja esquiar sem pressa, apreciando a natureza. Também é possível deslizar em um trenó em um percurso com mais de 2,5 quilômetros de comprimento.

A ferrovia de Schatzalp desliza por toda a encosta de Davos até chegar em sua área de lazer, nas encostas a oeste da cidade. Feita em 1899, a ferrovia veio ao mesmo tempo em que um sanatório chamado Art Nouveau foi criado na cidade e se tornou um hotel em 1954. É nessa montanha em que foi inspirado o romance A Montanha Mágica, de Thomas Mann.

Além disso, a área também oferece o jardim botânico da cidade de Davos, aberto no verão. O jardim abriga mais de 3.500 variedades de plantas alpinas, além de espécies de terras altas e lugares como o Tibete e a Nova Zelândia.

A área mais popular é a de Parsenn, que é ligada à estação de Klosters, já que as cidades são vizinhas. A pista de Parsenn possui 12 km de extensão e é considerada uma lenda entre os aventureiros alpinos. Descoberta em 1895, sua história começa quando quatro turistas ingleses se perderam em Weissfluhjoch e acabaram parando nessa clássica roda de esqui de montanha enquanto desciam a montanha Küblis.

A arena de esqui de Parsenn pode ser alcançada através de um funicular ou um elevador encontrado na cidade de Davos. Possuindo 2.662 metros, é bastante procurada pela elite mundial. A montanha conta com um sistema próprio de medição de velocidade, por meio de detectores de fotocélula infravermelha.

Por meio do sistema de medição, é possível saber a velocidade em que o esquiador está e determinar a velocidade em suas manobras como para fazer uma curva ou até mesmo parar. Em contrapartida, para quem pratica snowboard, a área de Jakobshorn é a mais indicada, por conta dos seus half-pipe e monster pipe.

A maioria das pistas dos percursos encontrados em Davos são azuis e vermelhas, o que as fazem perfeitas para a maioria dos esquiadores de nível intermediário. Por sua vez, caso os atletas mais avançados queiram se aventurar fora da pista, em itinerários oficiais marcados, mas não registrados, ou até mesmo em rotas não-oficiais, é recomendado um guia.

Mesmo as pistas e itinerários oficiais podem ter mais de 10 km de comprimento, passando por diversas montanhas, através das bacias altas abertas e pelas árvores, passando por outras cidades como Klosters, Serneus ou Kublis, se as condições da neve permitirem.

Contudo, se o esquiador estiver desconfiado de sua técnica em uma jornada tão longa, existem muitas escolas de esqui em Davos que podem ajudá-lo a melhorar e a prepará-lo para o trajeto que escolher.

Os dois principais centros de esqui da cidade são Davos Dorf e Davos Platz, que ficam a cerca de 1,6 km de distância do centro. Ao redor das estações, estão disponíveis uma série de blocos de escritórios, apartamentos residenciais, hotéis, lojas, salões de chá, museus, cassinos, teatros e centros de exposições.

Em Davos ocorre, anualmente, o Fórum Econômico Mundial, onde líderes mundiais e importantes figuras do mercado financeiro participam ao final do mês de janeiro. O evento causa um aumento temporário nos preços de hotéis e chalés.

Além disso, é na cidade de Davos que está situado o famoso Instituto de Pesquisa em Neve e Avalanche de Weissfluhjoch. Assim, apesar de parecer uma vila suíça tradicional, o turismo está sempre movimentando a cidade, fazendo com que nunca fique parada.

A elite mundial do esqui se reúne na cidade todos os anos, uma vez que é o ponto de partida para o campeonato Davos Nordic. Nesse campeonato, os esquiadores devem cruzar o país realizando um percurso específico. No entanto, a pista de fundo do campeonato mundial também é popular entre os esportistas amadores.

O Davos Nordic tem seu ponto de partida na praça do vilarejo, Bünda. O trajeto também passa ao longo do bosque Obersand e pelo riacho Flüelabach, localizado no outro lado do vale. Ao longo do riacho, a velocidade pode ser reduzida nos, aproximadamente, 1,5 quilômetros, antes de chegar novamente em Obsersand.

Ao final do trajeto, os esportistas passam por uma subida dentro do Adventure Park Färich, onde no verão acontece um circuito de cabo de tração e bicicleta. Esses últimos quilômetros do percurso são, em sua maioria, levemente descendentes e levam de volta para o ponto de partida do circuito.

O ponto-chave da pista de esqui de fundo é o famoso “Cologna-Stutz”, que recebeu esse nome pelo esquiador de fundo suíço mais bem sucedido de todos os tempos, que também considerada Davos a cidade de seu coração. O percurso possui uma subida considerada a mais elevada, com 236 metros de comprimento. Nela, alguns esportistas são levados ao limite e obrigados a se esforçar ao máximo.

Para aqueles que desejam algo menos urbano, a alternativa é ficar nas pequenas vilas-satélites de Davos Monstein e Davos Cladavel. O pequeno povoado de Waldji é uma outra opção. Nele está localizado o ponto mais alto e, ao mesmo tempo, um retorno para a pista de esqui de fundo. O caminho para baixo possui algumas centenas de metros, antes de dobrar à esquerda e atravessar o riacho Flüelabach.

A cidade também apresenta como opção de lazer 700 km de trilhas na região, embora seja mais fácil fazê-las no verão. É possível alcançá-las nas montanhas por meio do teleférico, bondinho ou até mesmo a pé. Além disso, o lago de Davos é aberto para nado e possui um centro de surf e navegação bastante procurados. Também é possível fazer asa-delta, parapente, patinação in line e até mountainbike, se for na época certa e propícia para isso.

Para quem deseja aproveitar a cidade de Davos ao seu máximo, é indicado sair cedo, enquanto o sol ainda está baixo. Na estação de esqui Davos Platz, perto da estação de trem, saem passeios organizados pela Kutschenzentrale Davos, com parada para o almoço ou até mesmo uma taça de vinho em restaurantes rústicos locais. O percurso do passeio também cruza o belíssimo vale Sertig, que deve ser conferido mesmo por quem não irá realizar o passeio.

Todo ano, desde 1923, acontece o campeonato de hóquei Copa Spengler na Vaillant Arena, perto do Centro Esportivo de Davos, sede do time HC Davos. Dentro da arena é possível patinar, nos dias em que não estiver ocorrendo o evento, no maior ringue de gelo natural da Europa. O ringue tem uma área de 18 mil m² e conta com uma vista das montanhas em todas as direções.

Para quem decide esquiar sem um planejamento prévio, não é preciso ter seu próprio equipamento de esqui ou de snowboard para fazê-lo. Nas estações, diversos lugares disponibilizam os equipamentos para alugar e até para reservar online.

É possível alugar o equipamento tanto por algumas horas quanto por alguns dias, deixando-o guardado na loja para pegá-lo no dia seguinte. Porém, caso tenha interesse em carregar o equipamento de esqui alugado, os hotéis costumam ter salas para guardá-los.

Davos — Klosters

A cidade é mais parecida com um vilarejo e compartilha com sua vizinha, Kloster, uma grande área de esqui. O trajeto é chamado de Davos-Kloster, possuindo grandes verticais e 320 km de pistas favoráveis para esquiadores intermediários. Além disso, possui também alguns itinerários fora de pista para os melhores esquiadores, os profissionais.

O trajeto Davos-Klosters foi montado no ano de 2003, onde ferrovias e elevadores de esqui se fundiram. Suas encostas compartilhadas estão divididas em 6 setores separados, localizados em ambos os lados de um vale íngreme.

O percurso se estende de Rinerhorn ao sudoeste de Davos, passando pelas montanhas Jakobshorn, Pischa e Schatzalp-Strela acima de Davos Platz. Passa também por Parsenn, o maior setor de percursos de esqui, que abrange desde Davos até Klorsters e finaliza em Madrisa, a nordeste de Klosters.

Muito além do esqui

Muito popular no inverno, é possível encontrar diversos pacotes de viagens que tem como foco a estação de Davos, já que existem diversas atividades além de esquiar. Assim, é possível fazer programação de dias para aproveitar tudo o que tem por lá.

Além das atividades no gelo, Davos também oferece um grande certo desportivo com piscina coberta, sauna e postas de atletismo, assim como um museu de esportes de inverno. Possui mais de 70 restaurantes, de todos os tipos e gostos, bares de jazz, clubes noturnos, discotecas, museus e cafés. Os teleféricos da cidade também são um show a parte.

Além do esqui, as cidades possuem outras atividades, até mesmo para crianças. Em Davos, instrutores para iniciantes podem ensinar crianças a esquiar. Assim, é preciso passar mais de um dia nas estações para que seja possível aproveitar tudo o que tem a oferecer.

A cidade de Davos tem a cervejaria mais alta da Europa e a primeira do território do cantão dos Grisões aberta ao público. A Monstein oferece passeios guiados por suas instalações, disponibilizando uma degustação e mostrando a produção de sua própria cerveja. A Monstein produz 5 tipos de variedades de cerveja.

Viajando para o sul da cidade de Davos, antes de chegar a Monstein, se encontra o Vale Sertig. Interligado por pistas de esqui ou por meio do viaduto de Landwasser, é possível encontrar o lado mais rural da cidade, com pastos verdejantes e repletos de vacas e porcos.

É também no Vale Sertig que se encontra uma pequena vila, a Sertig Dörfli, fundada pelos agricultores de Walser no século XIII. Nessa vila, há uma capela que foi feita no ano de 1699. É uma das mais antigas do país.

Não é um fato muito conhecido, mas Davos é considerado o paraíso dos esquilos e pássaros que estão acostumados com os humanos, possibilitando assim uma interação com o mundo animal.

O lago que dá nome a cidade fica a noroeste, bem no limite de Davos. No verão, é possível praticar esportes aquáticos em suas águas, além de ser próprio para o banho. Atividades como o caiaque, windsurf e vela também são atividades que atraem os turistas ao verão de Davos.

O lago conta com restaurantes à beira da água e alguns hotéis. Contudo, é preciso ficar atento, pois os gansos que ali vivem abordam pessoas nas áreas arborizadas para que os alimentem.

O Museu Kirchner foi construído no ano de 1982 e em seu prédio antigo funcionavam os correios em Davos Platz. Reformado há 20 anos atrás, no ano de 1992 mudou-se para uma galeria projetada para fins específicos, montada em quatro cubos de vidro.

Foi feito de concreto, vidro, aço e madeira para abrigar uma coleção de trabalhos de Ernst Ludwig Kirchner. Ernst mudou-se para a cidade de Davos em 1917, na esperança de superar o seu vício em drogas.

O expressionista pintou as montanhas dos Grisões em seus últimos 20 anos, desenvolvendo seu estilo inconfundível. Faleceu na cidade de Davos, quando decidiu colocar um fim a sua vida no ano de 1938,

Visitantes do mundo todo passam pelo museu quando possuem a chance de ir até a cidade de Davos e admirar tanto as pinturas quanto o prédio, que abrange os primeiros dias do expressionista em Berlim, Munique e Dresden e seus últimos anos na Suíça.

O Museu Kirchner é um dos dez museus suíços que receberam apoio financeiro das autoridades federais na pesquisa de proveniência, realizada no ano de 2017. Atualmente, o Museu abriga mais de 1.400 obras, que são encenadas em quatro cubos ligados por um hall de entrada ramificado.

Há também o Museu de Esportes de Inverno, que foi inaugurado no ano de 1992. O Museu conta com uma coleção de equipamentos de esportes de inverno, documentando a história desses esportes. As exposições costumam abranger desde o início dos esportes de inverno até o presente.

Davos tem um contraste único que a permite ser urbana e silenciosa, mantendo sua característica de aldeia. Entretanto, todos os resorts e estações de esqui possuem dois ativos em comum: a montanha do mundo natural e uma diversidade de atividades desportivas, de lazer e culturais. Bastante plural, permite que se esteja no centro da ação, mas também se desfrute de paz e tranquilidade.

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Carolina Rodriguez
Outras matérias

28 anos, jornalista e técnica de museologia. Música e escritora de ficção nas horas vagas.