Harim Britto
outras perspectivas
2 min readMar 14, 2016

--

Esse vídeo sintetiza bem os movimentos de hoje. ( via BrasildeFato)

O que vimos hoje foi uma descrença geral da população nos partidos, independente da agremiação.

Alguns figurões tentaram pegar carona nessa onda, mas foram sacudidos pelos manifestantes. Não se demoraram nas manifestações e evitaram o corpo a corpo: Para ficar apenas em alguns nomes, Aécio Neves, Geraldo Alckmin, Silas Malafaia e até mesmo a Marta Suplicy, chamada por alguns manifestantes de “traidora”.

Fato é que esse levante antipetista, capitalizada inicialmente pela grande imprensa e ala oposicionista, ganhou proporções maiores que as expectativas e que guardam algumas semelhança com as marchas de julho/13, mas apenas algumas.

Agora, os setores que estiveram mais a frente do processo possuem forte influência liberal, que coadunados com uma forte tendência de direita e conservadora, deixaram a manifestação de hoje mais próxima de um movimento de classe média/alta (diferente das de 2013, que teve mais influência do MPL). É verdade que outras camadas estiveram presentes e também mostraram suas demandas, mas essencialmente, não foi um protesto popular, pensando pela essência do termo. Independente disso, a participação das camadas mais baixas se fez mais perceptível e daqui pra frente muita coisa pode mudar.

Essa manifestação de hoje demonstrou que a população está cansada do PT e pelo recado dado nas ruas, certamente esse ciclo dificilmente terá continuidade. Resta saber o que virá.

Hoje, com a credibilidade corroída pelos escândalos de corrupção, o legado do PT foi posto em xeque e aos poucos vai definhando. E no lugar dele, abre-se um grande espaço vazio e também uma grande incógnita: A direita moderada sofreu um grande recuo hoje e poucas figuras dessa tradição tiveram espaço para fala nos manifestos. Sem dúvida nenhuma, foi o reconhecimento de pessoas com um discurso mais incisivo — para não dizer radicalista e midiático — como por exemplo, Jair Messias Bolsonaro.

Quem perdeu, e muito, com esses acontecimentos foi a esquerda como um todo. Nesse vácuo aberto pelo PT, as pautas sociais e coletivas erigidas e criticamente comprometidas nestes últimos tempos, estão sendo associadas a uma ideologia “comunista” e certamente isso terá influência nos rumos da sociedade num futuro não tão distante.

PS: Enquanto eu rabiscava essas impressões me apareceu esse vídeo, que eu compartilho por aqui e “passo o lápis” na conta.

A BBC Brasil fez uma cobertura multimídia das manifestações contra a presidente Dilma Rousseff. Entre as ações, recebemos no nosso estúdio em São Paulo, o professor e sociólogo da Universidade de São Paulo Wagner Iglecias.

--

--