Breaking Bad e a evolução de um espectador | S01

Bruno Simoes
outro assunto
Published in
5 min readFeb 23, 2016

Um efeito comum hoje em dia é o medo que as pessoas tem de estar perdendo algo super legal e relevante que está rolando no momento. “Como você ainda não viu tal filme/série? Como vc diz que gosta de música e não conhece fulano, autor do ‘disco do ano’ (ainda em Janeiro)? Como vc não leu tal livro?” Ok esse tem menos mas tem. Inclusive vindo dos que não leram o referido livro. Vivemos a democratização da produção de conteúdo e a multiplicidade de canais de distribuição. Temos mais conteúdo hoje (só na cultura pop) a nossa disposição do que poderíamos consumir até o fim de nossas vidas. Mas falaremos de FOMO que é o nome dessa neura aí no futuro (se quiser, leia aqui um artigo se quiser adiantar o trabalho de casa). Eu, por outro lado, tenho um medo de consumir algumas coisas nestas mídias. Talvez seja reflexo de um comportamento um pouco compulsivo, um pé atrás de me jogar de cabeça naquela história (quem não ama boas histórias, né?). Talvez seja o medo de gastar aquela coisa tão legal.. “e depois, o que vai ter?”. Quem nunca enrolou pra acabar aquele livro sensacional? Quem nunca ficou com ~saudade~ mesmo antes do fim de uma novela, série, filme acabar? Pois é, as vezes eu evito até mesmo começar. E foi exatamente assim com Breaking Bad.

Demorei a começar, vi até o 3º, 4º episódio um par de vezes e parei. Sei lá, pintava outra coisa pra fazer e parecia que ainda dava pra pular do barco, que o rio ainda dava pé. Até que semana passada resolvi dar mais uma chance… a série enfim “clicou” e o navio zarpou! E vai a toda velocidade com a sensação de que uma tragédia gigante é iminente e nos espera a cada minuto. Um iceberg do tamanho do Titanic a cada esquina (rs). E como a série só vai ser inédita para mim uma vez, resolvi compartilhar minha visão durante essa jornada. E será da seguinte forma: sempre que eu julgar que algo relevante aconteceu, eu registro. E, no fim de cada temporada, publico tudo por aqui. Aí eu não tenho como esquecer ou mudar o que já foi dito e dizer “eu já sabia”. Aliás, eu sei UM fato sobre o fim da série mas esse 1. eu já esperava; 2. todo mundo fala e 3. até o Adnet já deu spoiler no Tá no Ar. <link que não recomendo porque esse vídeo tem spoiler de filme, série, tem spoiler até da sua vida> Ah, falando nisso, daqui por diante teremos spoilers!

TEMPORADA 01

Temporada 01, Episódio 01 (ou S01E01) — Um ótimo episódio. Nele você vê um cara normal numa história de crise e desespero. A minha sensação é que Walter encontrou no crime a forma de pagar um tratamento e deixar uma boa grana para sua esposa de 40 anos (grávida de uma filha não planejada) e seu filho adolescente com paralisia cerebral. Jessie surge como um bom parceiro pq não tem a ganância pra expor seu ex-professor ou chantageá-lo, além de ter conhecimento da distribuição do produto e “das ruas”. E, bem, era a única pessoa a quem Walter poderia recorrer. Episódio redondo, bem dosado no drama e tensão e que vende bem a série. De todas às vezes que parei o problema nunca foi o primeiro.

S01E05 — Depois de 3 episódios sofrendo com um dilema moral e muita vergonha alheia temos enfim a profundidade. Aqui ocorre uma intervenção familiar para pressionar WW aceitar a proposta de ajuda no tratamento do ex-sócio. Walter diz que quer finalmente ter o controle da vida e ser senhor de sua escolha (que é morrer com dignidade sem tratamentos desgastantes sendo, nas palavras dele, um peso para a família). Eu lembraria do episódio da Boa Morte do podcast Mamilos <link aqui>… se eu não soubesse que ele já planeja vender quilos de drogas antes de partir deste mundo.

Esse episódio foi marcante pra mim porque nesse momento eu entendo que a série é sobre o ego. Se ali ele aceita a proposta de Elliot estaria tudo resolvido e fim. Tô com a pulga atrás da orelha no grau de envolvimento de WW com a esposa do ex sócio e no impacto disso na decisão dele deixar a sociedade e não aceitar a ajuda.

S01E06 — Nasce Heisenberg. Mas nasce do desespero ou da culpa? Bom, eu li culpa porque ele pressionou Jesse a estabelecer uma conexão rápido com um traficante capaz de absorver grande quantidade de metanfetamina (seja por ganância ou urgência). E deu muito errado.

S01E07 (season finale) — Na cena de sexo no carro com Skyler pergunta “De onde veio isso? E pq foi tão bom?” e a resposta do professor é “Porque é ilegal”. Vejo Walter cada vez mais fascinado pelo ‘lado negro da força’ e seu gosto pelo risco crescendo. Fica evidente na ousadia que o faz estabelecer um compromisso quase suicida com Tuco e o faz planejar o assalto ao depósito de produtos químicos para maximizar os lucros em vez de contratar os ‘especialistas’ apontados pelo seu sócio Pinkman… até que temos um “final feliz”. Pra mim, a ameaça velada de Skyler está lá e o futuro promete.

Conclusão da S01: Comecei a série pensando que veria um homem levado a atitudes extremas quando confrontado com a morte iminente e uma situação familiar extremamente frágil. Mas fazendo um paralelo com algo que disse no post sobre Creed, logo você vê que ele não está lutando pelo sustento (ou pela vida), está lutando pela satisfação pessoal. Só que ao contrário do personagem de Michael B Jordan, que está buscando seu lugar no mundo através do seu trabalho, Walter está buscando satisfazer seu ego realizando coisas ilegais e perigosas que nunca fez. E faz isso flertando constantemente com situações absurdas (mesmo para um contraventor) sob a desculpa de ‘ajudar a família’. Se objetivo fosse só a esse, no 4º episódio da série ele poderia ter aceitado ajuda do amigo, iniciaria o tratamento, todos iriam pra casa felizes e esta série seria lançada na BBC com menos de 5 episódios. Talvez teria um especial de Natal pra mostrar o resultado do tratamento. Mas Walter mostra que apesar de professor não tem vocação para Sidnei Poitier. Parece que veremos cada vez mais de Heisenberg.

Continua…

Originally published at outroassunto.com on February 23, 2016.

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