Comum ou aditivada?

Jéssica Motta
Outro desabafo
Published in
4 min readOct 12, 2013

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A quem eu to tentando enganar?

A mim mesma, lógico.

Porque eu fico assistindo tudo, apoiando, vivendo em paralelo, fingindo que não me importo com absolutamente nada, porque?

Vai ver eu pense que da pior maneira vou me acostumar, vendo, ouvindo, sentindo, tudo de baixo do meu nariz. Era pra ser mais fácil, não era? Porque eu não me acostumei direito ainda?

Finjo que acostumei, vivo tranquila, já não sinto aquele aperto no peito faz muito tempo, e por isso talvez ache que to fazendo do jeito certo, mas será que to?

Quanta pergunta?

Só isso que eu sei fazer ultimamente, perguntar pra um vento que só corre em uma direção, e não volta com respostas. Ele leva minhas perguntas e por um tempo esqueço que elas existiram, mas como não obtenho respostas, logo crio inúmeras no lugar dessas. São como gremilins. Não é de se admirar que se multipliquem enquanto estou no chuveiro.

É pesado e eu não sei se consigo levar isso até onde devo ir. Finjo que consigo. Inclusive, finjo que sei onde devo ir, também.

Quem lê meus textos, talvez pense que eu sinta isso que to dizendo aqui o tempo todo, mas não é bem o que acontece. E isso, de alguma maneira é muito pior. Explico.

Eu, como alguém que se expressa de todas as maneiras possíveis, acabo por expressar momentos meus, que são talvez de minutos, mas muito fortes. O que não significa que durem mais do que dois ou três instantes. Também não significa que não sejam tão fortes que eu precise expressá-los com urgência.

Maior parte do tempo vivo tão bem comigo mesma, ultimamente. Estou numa fase linda, onde me descobrindo, descobri o mundo. Contudo ao mesmo tempo, passando por uma das coisas mais difíceis que já tive de fazer, superar meus próprios sentimentos. Tudo isso simultaneamente. A sensação é confusa, tenho dias, fases, minutos, controversos e não sei se estão diminuindo ou aumentando de frequência. Esse tipo de inconstância, me mata. Como já nota-se, não gosto de não saber as coisas, onde vou, como me sinto. Escrevo, justamente por esse motivo, descobrir o caminho que as letras me mostram.

Esses momentos de auto-consciência que tenho são tão fortes, que por vezes evito. Sou capaz de largar tudo e pegar o telefone, chorar no ouvido de alguém, ou sozinha na sacada. Mas voltar atrás da minha palavra, jamais. Regredir no meu processo, jamais mesmo.

Não que eu ache que o amor não valha a pena, pelo contrário. Mas tá tudo tão longe do meu alcanse. Tão distante, em tão curto período de tempo, que me tornei diferente. Vi as pessoas também se tornarem diferentes. Mas infelizmente aquilo que mexe comigo continua lá. E agora, antes mesmo de abrir essa aba no blog, nessa foto de instagram, eu vi claramente. O quanto o que eu finjo que mudou continua lá, firme e, nossa, muito forte.

Só quero que acabe, sabe. Me sinto um carro com a gasolina vazando pela estrada, e pra que não incendeie com o calor do asfalto, preciso continuar andando em frente, até que a gasolina acabe. Minha gasolina era extremamente abundante. Abasteceria países de terceiro mundo por anos, tiraria o brasil da dívida externa. E estou no meio da gasolina, quando acho que já estou no fim. Achei que estava no fim, desde a partida. Mas não estou, uma só foto prova isso.

São quatro da manhã, de uma sexta-feira que não saí pra beber por motivo de problemas no pé. Bastante chato, mas é bom pra me fazer parar e refletir.

Meu pé quebrado não me impede de acelerar o carro. Uma foto também não me impede de continuar em frente. Mas sei que prossigo mantendo uma velocidade constante, pra que a gasolina vase com mais facilidade por conta da gravidade, e não com pressa, como quem simplesmente joga o carro todo penhasco abaixo.

Essa escolha eu fiz, escolhi o carro e a estrada. A gasolina fica.

Falta de respostas não me impedem de continuar perguntando. Ventos do norte não me impedem que eu jogue perguntas que nunca vão voltar. Prefiro multiplicar perguntas do que pairar na auto-ignorância. Se eu não souber onde exatamente estou no caminho, não vou saber o quanto longe eu já fui, doendo ou não. Me despedaçando pelo caminho, jogando roupas, cartas, bichos de pelúcia, certezas, apelidos, costumes, cheiros, comodidades, pela janela. Mesmo me perdendo pela estrada andei em frente. Sabe?

Mas será que eu sei mesmo? Será que me encher de perguntas-gremlin me faz mais perto de respostas-gasolina?

A quem eu to tentando enganar?

O resto do mundo, lógico.

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