01–09–2019

Flávia Vasconcelos
outro lado
Published in
2 min readSep 1, 2019
Karolina Koryl

Quis você na minha cama perdido no meu cabelo emaranhado com o cheiro do seu cigarro. E eu que não fumo, mas adoro o gosto que fica quando se mistura com sabor da cerveja, me vi alimentando esse vício alheio. Quis você na minha vida, com os meus nós e os seus. Tentei desfazer cada um e acabei enrolada, presa. Enquanto você se soltou, e eu que não fujo fiquei tentando desatar.

Um dia te olhei e tive a certeza de que quando fosse embora eu sentiria muito, sentiria falta, mas nunca imaginei ficar presa nesse luto idiota em que você me colocou. Nunca imaginei acordar vez ou outra com um buraco que tem gosto amargo de saudade. Nem é a saudade boa, a nostalgia. É o soco da melancolia.

Você evita ler o que escrevo, eu sei. E eu faria o mesmo se fosse eu quem tivesse ido embora. Odiaria saber como você me vê. Também evito ler o que escreve, não me sinto bem sabendo da sua vida que eu não faço mais parte. Ainda assim, vira e mexe topo com sua foto no meu celular. Sua vida invadindo a minha, seu sorriso se alastrando no meu desalento. Mas não faço mais parte e me distancio até mesmo quando você reaparece para saber como estou.

Você foi embora em partes, porque continua aqui de certa forma. E ainda tem gente me perguntando de você. Eu não aguento mais ouvir perguntas sobre você.

A vida não é longa, tampouco o mundo é pequeno. Nessa não nos encontraremos mais.

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Flávia Vasconcelos
outro lado

Bugrina, das letras, 24 anos de sonho, de sangue e de América do Sul.