a Lua e eu

Flávia Vasconcelos
outro lado
Published in
2 min readAug 15, 2019
Luana 2017 / 2019

Observo ela abrir a porta cuidadosamente, como se o quintal fosse um mundo inteiro a ser desvendado. E é.

Acompanhar sua descoberta das coisas simples, até banais para mim, de forma tão empolgante faz tudo se ressignificar. A animação com a bolha de sabão, aprender que ela estoura quando colocamos o dedo seco, mas se ele estiver molhado conseguimos ultrapassar a matéria fina e delicada. A bolha tão brilhante quanto seus olhinhos que assistem atenciosamente o funcionamento desse mundo e tentam decifrar seus mecanismos.

Vejo seus passos pequenos, o medo do escuro, o cuidado com o lápis de cor. A vontade de fazer tudo certo, mas a ciência desde tão cedo de que não tem jeito errado na infância repetindo vou fazer do meu jeito. E eu torço, rezo, invoco qualquer força do universo pedindo para conservar esse pensamento e que ela cresça em volta dele.

Balança na rede e cria suas histórias, inventa seus personagens e mundos. Procura cada detalhe no livro de histórias, quer saber todos os nomes, quer saber absolutamente tudo e acredito que realmente um dia vai. Quer saber por que existe palavra. Por que se fala cachorro, rede e meia e não outra coisa? Por que cachorro late, gato mia e gente fala?

Sabe bem que seu nome lembra Lua e imita os bichos como se já tivesse encarados todos. Conversa com eles e eu tenho certeza que eles entendem. Não abraça fácil, mas diz que sente saudade, e eu me remoo sabendo que nunca vou descobrir quando os nomes dos sentimentos e sensações começaram fazer sentido na cabeça dela.

Enquanto cresce diante dos meus olhos eu penso: a vida é muito breve, o tempo, de fato, voa, mas tudo vale tanto a pena só de olhar esses pequenos milagres. Lembro de um dia olhar suas mãozinhas e ter certeza que eram as coisas mais bonitas nesse mundo. Agora acredito que a coisa mais bonita do mundo é amar tanto a ponto de pensar isso sobre as mãozinhas.

Antes que ela chegasse nesse mundo eu não conseguia imaginar como seria, e hoje eu não imagino como será no futuro. Apenas desejo e jogo para o universo: que seja dona de si! E agradeço por poder compartilhar vida e laços com esse serzinho. Emicida disse “vi que o mundo pode ser velho e novo ao mesmo tempo” . Hoje eu entendo.

--

--

Flávia Vasconcelos
outro lado

Bugrina, das letras, 24 anos de sonho, de sangue e de América do Sul.