I wasn’t in a good place

Flávia Vasconcelos
outro lado
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2 min readJun 12, 2019
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Me desculpe te contar isso desse jeito, sem muito floreio, mas foi nesse tom que eu recebi a notícia. Talvez até pior. Talvez não, realmente foi pior.

Desde então eu vivo escondendo essa parte e lutando contra a vontade latente de te contar tudo. E eu nem sei bem o motivo, já que nada tem a ver com você.

Me perdoe.

Tudo que eu tenho falado parece mentira porque a todo momento isso está entalado na minha garganta. Será que algum dia vai passar? Será que algum dia eu não vou mais me sentir o ser humano mais mentiroso do mundo?

Desculpa não ter contado antes, eu não sabia muito bem como. Eu não sabia como você iria reagir. Até porque eu ainda não aprendi lidar. Não, isso não acaba quando termina. Eu nem sabia que poderia existir um misto de alívio e peso, mas existe.

Me perguntaram “qual peso isso terá na sua vida?” e eu não sei, porque agora é o maior peso do mundo e eu temo que seja para sempre. Temo as insônias que virão. Temo os pesadelos.

“É difícil pra você estar aqui sozinha?”, perguntaram. E era. É difícil estar sozinha, mas, afinal, não estamos sempre?

Te mantive distante porque o fardo é pesado demais e você não merece carregá-lo junto comigo. Preciso ainda me desculpar com quem tem carregado. Porque no final das contas é injusto dividir. Eu ainda estou sozinha.

Quando nascemos já estamos sozinhos, aquele primeiro choro é sozinho. E todas as pessoas ao nosso redor durante a vida são apenas meios de não surtamos. São apenas placebo para nos sentirmos menos sós. Agora falando isso eu percebo como é contraditório. Estar sozinha e sentir a incessante necessidade de dividir os pesos que não aguento. Deveria aguentar, já que nascemos e morremos sozinhos, não é?

Ainda não aprendi falar sobre isso friamente, achei que sim, mas me enganei. Perdoe a cara de choro. Hoje alguma coisa banal me fez lembrar.

O que nos traz de volta à vida às vezes chega muito perto do oposto.

Me desculpe te contar isso desse jeito.

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Flávia Vasconcelos
outro lado

Bugrina, das letras, 24 anos de sonho, de sangue e de América do Sul.