Infindável processo

Flávia Vasconcelos
outro lado
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1 min readMar 18, 2019

08–10–17

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Tem dias que não escrevo uma linha, um A. Em outros minha cabeça metralhadora nem me deixa descansar disparando frases soltas para eu fazer sentido. Extrai de mim todas as palavras até eu cair exausta.

É meu refúgio e também meu precipício. Me jogo e me mato, amanhã ressuscito.

Não me lembro o início, mas acredito que desde que aprendi a forma escrita das palavras às vezes acordo durante a noite com alguma me martelando a cabeça para se materializar. Não é um pedido, é uma ordem. Ordem essa que se não cumprida resulta em pena: ela se vai e não volta mais. Posso tentar com qualquer reza, simpatia ou pacto. É um adeus.

As palavras são cultivadas e habitam em mim, mas não são minhas e desde que me dei conta de suas vontades próprias saio rabiscando qualquer coisa ao meu alcance pra guardá-las. Talvez elas sejam minhas donas, porque escrevendo eu me sinto alguém.

Algumas saem pena, outras saem navalha. Algumas salvação, outras tapa na cara.

Infindável processo.

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Flávia Vasconcelos
outro lado

Bugrina, das letras, 24 anos de sonho, de sangue e de América do Sul.