subterfúgio
08–10–17
Ao menos restam os subterfúgios para os dias vazios: os bares cheios, as pessoas passageiras, as músicas cantadas em coro. E me preenchem de tal maneira que a julgar pelos sorrisos momentâneos é impossível distinguir se estou explodindo de felicidade ou implodindo em mágoas.
Ao menos ainda volto para uma família de comercial de margarina que eu muito amo e é recíproco. Mas não falamos sobre os dias que eu converso pouco e tento esconder meu incômodo. “Não é nada, tô cansada só”.
Ao menos tenho uma cama para desabar nesses dias. Uma agenda cheia de números e a minha incapacidade de conversar com alguém porque eu realmente não sei o que falar. “Tá todo mundo meio fodido mesmo”. E assim seguimos nesse tipo de sociedade secreta onde não temos estruturas para nos ajudar e apenas fingimos que está tudo bem, nos olhamos e nos reconhecemos enquanto perdidos como se reconhece alguém com a camisa do seu time na rua. Um sorrisinho. Seguimos.
Ao menos esses dias não são todos. Em certas épocas nem são a maioria.