subterfúgio

Flávia Vasconcelos
outro lado
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1 min readJun 26, 2019
Moey Hoque

08–10–17

Ao menos restam os subterfúgios para os dias vazios: os bares cheios, as pessoas passageiras, as músicas cantadas em coro. E me preenchem de tal maneira que a julgar pelos sorrisos momentâneos é impossível distinguir se estou explodindo de felicidade ou implodindo em mágoas.

Ao menos ainda volto para uma família de comercial de margarina que eu muito amo e é recíproco. Mas não falamos sobre os dias que eu converso pouco e tento esconder meu incômodo. “Não é nada, tô cansada só”.

Ao menos tenho uma cama para desabar nesses dias. Uma agenda cheia de números e a minha incapacidade de conversar com alguém porque eu realmente não sei o que falar. “Tá todo mundo meio fodido mesmo”. E assim seguimos nesse tipo de sociedade secreta onde não temos estruturas para nos ajudar e apenas fingimos que está tudo bem, nos olhamos e nos reconhecemos enquanto perdidos como se reconhece alguém com a camisa do seu time na rua. Um sorrisinho. Seguimos.

Ao menos esses dias não são todos. Em certas épocas nem são a maioria.

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Flávia Vasconcelos
outro lado

Bugrina, das letras, 24 anos de sonho, de sangue e de América do Sul.