Como empresas e pessoas podem agir pela diversidade de gênero e orientação sexual?
E se o simples fato de você viver a sua verdade gerasse desprezo ou ódio nas outras pessoas, te privando de direitos e, em alguns casos, colocando a sua vida em risco?
É absurdo, mas as pessoas que se identificam como LGBTQIAPN+ ainda enfrentam a LGBTFobia — uma discriminação baseada na identidade de gênero ou orientação sexual.
Nesse artigo vamos contextualizar a realidade da comunidade LGBTQIAPN+ no Brasil e fornecer dicas práticas de como melhorá-la se nos unirmos.
E aliás, você sabe o que significa a sigla LGBTQIAPN+?
A sigla LGBT significava Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trans — e foi evoluindo com o tempo, conforme o debate alcançou outros indivíduos.
Agora a sigla é composta pelas letras iniciais das palavras Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Poli, Não-binárias e mais.
É sempre bom lembrar que as pessoas que assim se identificam não são “diferentes” e nem estão erradas.
Elas merecem o mesmo respeito e acesso a oportunidades que qualquer um na sociedade; a questão é que precisaram se unir sob esta bandeira para fazer suas vozes serem ouvidas por direitos que deveriam ter.
Dados da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT) mostram que cerca de 10% da população brasileira se identifica nesse grupo. Apesar de somarem parcela significativa da sociedade, essas pessoas continuam sendo tratadas como se não existissem. Até quando isso vai durar?
Os dados sobre a população LGBTQIAPN+ ainda são contraditórios, existindo diferenças entre associações e pesquisas.
Contudo, apesar das diferenças, esses dados são necessários para compreendermos os desafios dessa comunidade.
Na última edição do Atlas da Violência, não foram incluídas perguntas referentes à identidade de gênero ou orientação sexual, mesmo com números assustadores acerca dessa minoria nas edições anteriores.
O IBGE incluiu apenas agora, em 2022, perguntas sobre identidade de gênero — e isso aconteceu apenas após o órgão de pesquisas ser acionado pelo Ministério Público Federal (MPF).
Esse “apagão” de dados é um dos indícios de que essa parte da população vem sendo negligenciada sistematicamente.
O IBGE divulgou dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) sobre Orientação sexual autoidentificada da população adulta, realizada em 2019 — mostrando que o Brasil possui aproximadamente 2,9 milhões de pessoas a partir de 18 anos que se declaram lésbicas, gays ou bissexuais.
Esse estudo revelou ainda o perfil das pessoas que se sentiram confortáveis em se declararem pertencentes a esses grupos:
São majoritariamente jovens, com maior escolaridade e renda, geralmente moradores de zonas urbanas.
Apesar de importante esse levantamento, ainda prevalece o fenômeno da subnotificação.
São muitos os fatores que interferem na autodeclaração, como questões culturais, familiares e socioeconômicas, que podem gerar insegurança nas pessoas ao responderem
Fazer pesquisas para conhecer o perfil das pessoas LGBTQIAPN+ e delinear políticas públicas é importante, principalmente em relação a violência.
Infelizmente o Brasil ainda é o país que mais mata LGBTQIA no mundo.
A discriminação na saúde e no trabalho também tem índices altos.
E a rejeição familiar leva jovens dessa comunidade a terem 8,4 vezes mais chances de tentarem suicídio.
Com tudo isso, a expectativa de vida dessa população é bem menor que a média normal, sendo aproximadamente de 35 anos — enquanto a média nacional é de 76,8 anos, de acordo com o IBGE.
Diante de todas as questões acima levantadas, vamos revisitar algumas medidas e leis voltadas à comunidade LGBTQIAPN+:
- Apenas em 1990 a OMS retirou a homossexualidade da lista de distúrbio mental;
- De 2015, a Resolução nº 12 do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos LGBT da Secretaria de Direitos Humanos determina condições de acesso e permanência dessas pessoas em qualquer espaço, uso do nome social e uso de banheiros das instituições de ensino de acordo com o reconhecimento de gênero.
- Em 2019 o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou a LGBTfobia ao crime de racismo, passível de pena de 3 a 5 anos;
É preciso haver muito mais
Especialmente no âmbito do mercado de trabalho, que pode ser a via para a melhoria em vários indicadores sociais, precisamos tornar a realidade menos desigual.
Segundo pesquisa do Center for Talent Innovation, 33% das empresas brasileiras não contratariam pessoas LGBTQIA+ para cargos de chefia.
Enquanto isso, 41% dos funcionários LGBTQIA+ afirmam já terem sofrido algum tipo de discriminação em razão de sua orientação sexual ou identidade de gênero no ambiente de trabalho.
Em 2016, o Instituto Ethos fez um levantamento do perfil das pessoas que trabalham nas 500 maiores corporações brasileiras, e quais são suas medidas de inclusão.
Apenas 19% das corporações possuem alguma ação afirmativa voltada à diversidade e inclusão. E somente 8,5% se preocupam em desenvolver alguma ação para ampliar a contratação de pessoas LGBTQIAPN+ especificamente.
A população trans enfrenta os maiores riscos
Apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas por toda a comunidade LGBTQIAPN+, a população transgênero ainda possui os indicadores mais preocupantes.
As pessoas transgênero hoje no Brasil tem uma expectativa de vida de apenas 33 anos, o que ilustra a seriedade da situação.
Para virar esse jogo e fazer com que as pessoas LGBTQIAPN+ estejam mais presentes no mercado de trabalho, já existem empresas comprometidas com a causa, como a ONG TransEmpregos, criada por Maite Schneider, que conecta oportunidades de trabalho a pessoas trans.
Também há iniciativas como as adotadas pelo Grupo Pão de Açúcar, que faz reserva de vagas para pessoas trans e já investiu em ações para capacitar pessoas trans para o mercado de trabalho, atrair e reter talentos.
Além disso, projetos como o “Cozinha e Voz” da Chef Paola Carossella, que profissionalizam e empregam mulheres trans, trazem oportunidades para muitas pessoas — que irão prosperar e, naturalmente, ofertar mais oportunidades a pessoas da comunidade.
Bacana , né? Faz toda diferença ter um mercado inclusivo — e você pode fazer parte dessa evolução.
Nós, da Outsmart, adotamos algumas medidas para inclusão que toda empresa pode seguir para se tornar mais diversa e inclusiva:
- Realização de um Censo de Diversidade, para monitorar quantitativamente o status de diversidade da empresa, e criar ações de inclusão e valorização da comunidade LGBTQIAPN+, através de dados mais concretos;
- Implementação de processos seletivos com vagas afirmativas, para aumento da diversidade;
- Desenvolvimento de ações e materiais educativos internos que propiciem um ambiente mais inclusivo e seguro para pessoas diversas, proporcionando maior bem estar e crescimento dentro da empresa;
- Adaptação da comunicação para uma linguagem mais neutra, incluindo todas as identidades de gênero;
- Disponibilidade de um canal para que os colaboradores possam reportar a ocorrência de LBTGfobia ou outros preconceitos;
- Criação de um comitê de diversidade, com acesso às lideranças para a promoção de ações em prol da causa.
Além disso, temos metas na empresa para aumentar a diversidade, com OKRs visando que 70% das contratações do ano sejam de mulheres, LGBTQIAPN+, pessoas negras ou PCDs, e contamos com a parceira TransEmpregos — que é gratuita! O que você está esperando para divulgar vagas com eles? — para ofertar mais vagas à comunidade Trans.
Uma outra prática importante é a promoção de um diálogo aberto com todas as pessoas na empresa. E, assim, incluí-las no processo de mudança — enquanto obtém-se novas ideias de melhoria para implementação.
Se ainda tem dúvidas sobre o que fazer para ser uma pessoa ativa na luta pelos direitos da comunidade LGBTQIAPN+, seguem algumas dicas:
- Não deixe de denunciar se for vítima ou se presenciar algum tipo de violência: Se ocorrer em casa ou na rua, disque 100 e denuncie. Caso presencie algo dentro da Outsmart, comunique o time de People ou reporte pelos canais anônimos disponíveis.
- Fique por dentro de movimentos e ações a favor da comunidade LGBTQIAPN+ e participe e/ou divulgue sempre que possível;
- Pratique a autoeducação: Não propague frases, “piadas” ou tratamentos de cunho LGBTfobico;
- Respeite o local de fala e busque ouvir com empatia e solidariedade todas as pessoas. Em especial as de minorias e que sejam diferentes de você.
- Boicote marcas que realizem ou reforcem a LGBTfobia.
- E o básico, mas que vale sempre relembrar: Reconheça o privilégio da heteronormatividade.
Vamos reverter esses números tão chocantes.
O que mais você acha que podemos fazer pela inclusão? Vamos nos unir nessa luta!