De manhã
Acordo tarde, você não tá na cama. Afundo o rosto no travesseiro, nesse misto tão meu de sono e preguiça eterna.
Ouço o barulho do chuveiro e penso em ir até lá interromper seu banho me jogando com essa sua camisa do Doors na água morna. Desisto, fico na cama quentinha, abraço o travesseiro com seu cheiro e finjo que dormi de novo quando ouço seus passos se aproximando.
Cê faz de conta que acredita nesses meus cílios piscando sem parar e fica em silêncio. Quando meu corpo relaxa e ameaça realmente se entregar ao sono ouço sua voz pertinho do meu ouvido dizendo “eu sei que você não tá dormindo, preguiçosa”.
Mantenho os olhos fechados pra sentir suas mãos no meu cabelo, mas não há inércia que resista a sua voz perto do ouvido e a essa barba de leve no meu pescoço.
É uma dança lenta e compassada, um jogo longo, uma música interminável. Me lanço sobre seu corpo e o entrelaço das nossas mãos faz do tempo infinito. A gente se ama como quem se conhece há três vidas e mesmo assim se descobre de novo todos os dias.
Amanhece, o mundo gira nos tropeços da vida. Anoitece, a paz se restabelece e adormeço no sossego do seu abraço.