Gelatinas com sabores coloridos

Pensou milhares de vezes antes de escrever. Estava sendo tonta e impulsiva mais uma vez — como sempre foi.

Poderia ter deixado o assunto morrer e evaporar no silêncio. Escolheu o erro, mas o que é um erro a mais entre tantos?

Buscou na memória, tentando encontrar o momento em que errou-se o amor. Foi no beijo de despedida na estação do metrô? Ou talvez na honestidade suicida de declarar a paixão acolhida na emoção do calor daquele abraço?

Encontrou tantos erros, uns por descuido, outros por teimosia. Agarrou-se as lembranças, como agarrava-se ao seu cabelo ou ao seu cheiro no vestido florido. Recordava o encaixe dos corpos. Insistia em cultivar aquela esperança boba de que algo mudaria.

Mas dentre tantos tropeços, elegeu aquele que seria o maior.

E não foi o fascínio pelo sorriso ou o encanto das músicas a ela apresentadas. Não foi a doçura do olhar ou o estremecer de cada beijo.

Ela falhou quando deixou de sentir-se sozinha nesse mundo tão brilhante e se desfez das camadas bordadas pela sobrevivência.

Foi um sonho, breve ou eterno.

Acordou quando percebeu que sentia dor, e dessa vez o despertar não encontrou seu peito como abrigo. Abriu os olhos na escuridão e chorou, não só pela saudade ou futuro incerto, mas pela certeza de que ele não existiria.

Saiu de cena, renunciou a única história na qual acreditou de verdade um dia. Sem clichês, sem adereços. A vida real perdia-se antes mesmo de viver.

O coração escorre água salgada de mar e lágrimas. As mãos, um dia entrelaçadas, pressionavam o travesseiro — dessa vez não por prazer — a fim de suportar a dor.

No peito faltava ar e transbordava o desejo por sua felicidade. Imaginava o apartamento no 16º andar, duas estantes repletas de livros de arte, uma imensa coleção de discos de vinil e a geladeira cheia de gelatinas com sabores coloridos.