I.
Outubrode86
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2 min readNov 14, 2016

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Sobre o amor que virá

Dai ele chega, me acorda com um beijo no pescoço e me faz sorrir antes mesmo de abrir os olhos. E ri quando canto seminua em cima da cama ou quando me revolto contra o videogame. Ele me abriga no seu abraço quando tudo parece desabar e me tira do chão quando me beija.

Ele não sabe o que fazer quando choro e se frustra por não conseguir me proteger de todos os males do mundo. Me dá bronca por causa do excesso de trabalho, mesmo quando vira a noite com os olhos no computador e diz “eu posso, você não”.

Ele fuma dez cigarros por hora enquanto conversamos sobre ciência ou quadrinhos e reclama cada vez que arruma meus óculos caindo no nariz. Ele repete que eu sou uma boba toda vez que ri das minhas convicções políticas ou planos de mudar o mundo e me irrita quando não presta atenção em nenhuma das duzentas e quatorze palavras que eu digo sem parar pra respirar.

Ele finge adorar todas as minhas experimentações culinárias e é o bêbado mais sexy do mundo quando se enrola todo pra tirar a camisa na urgência de me levar pra cama. Ele sabe o jeito certo de segurar meu cabelo, de roçar a barba na minha nuca, de me abraçar e respirar perto do meu ouvido; de entrelaçar as mãos nas minhas, de sussurrar implorando que eu não contenha os gemidos.

O mundo gira devagar quando deito no seu peito e tudo parece mais bonito quando caminhamos de mãos dadas de madrugada. Ele tem uma coleção de vinis e fica lindo tocando guitarra sem camisa depois do banho.

Ele é o cara mais inteligente do mundo, tem aquele olhar capaz de me despir em público e não se importa com meus tênis e minha mochila. Ele aperta minha mão enquanto dirige e se diverte quando aumento o som do carro e danço alguma música dos Rolling Stones.

Ele liga no meio da noite pra falar algum absurdo qualquer porque não é cafona o suficiente pra dizer que me ama às 3h da manhã, mas precisa de uma desculpa pra ouvir minha voz. Ele sabe interpretar meus suspiros cansados no fim do dia. Ele desfaz meus medos eu me desfaço nos seus braços.

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I.
Outubrode86

Música, brisa, culinária experimental para sobrinhos. Margaridas, gatos e cachorros. Livros, jogos, madrugadas, pés descalços e mar.