Tenho a sensação de que o mundo está mais esquisito do que o normal ultimamente. Como se houvesse uma energia, um movimento contrário a rota natural em curso.
Já faz mais de um ano, algo parece ter se quebrado no universo e rompido um portal por onde algum tipo de névoa sai e congela tudo que encontra pela frente.
Eu leio as notícias e observo as pessoas pelas calçadas. Cada dia mais tenho a certeza que essa tal síndrome do espelho ainda vai me fazer sucumbir, como uma presa de um felino qualquer.
As conversas a beira da janela, os poemas do Rimbaud, as noites com cerveja pelo centro sujo. Sinto falta da fé daqueles tempos.
Mas olha, eu continuo comprando flores na porta do metrô, mantendo um ar místico pela casa, fechando os olhos durante o banho e ouvindo música com os poros encharcados de água.
É um ato de persistência no amor esse de acreditar que alguém, em algum lugar, num desses intervalos tênues entre a escuridão e o nascer do dia, também flutua na mesma leveza.