A Sociedade da Grã-Ordem Kavernista faz o maior espetáculo da Terra

Lançado em 1971, álbum idealizado por Raul Seixas é repleto de significados

Julli Rodrigues
Ouvindo Coisas
13 min readMar 23, 2018

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Raul Seixas, Sérgio Sampaio, Miriam Batucada e Edy Star se reuniram em 1971 para dar vida a um projeto que era, no mínimo, inusitado. O disco “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez” foi lançado pela gravadora CBS, com produção do próprio Raul — que, à época, trabalhava na empresa, produzindo e compondo para artistas como Diana e Jerry Adriani — ao lado de Mauro Motta.

Antes de mais nada, é preciso dizer que estamos falando de um disco envolto em certa mística e carregado de significados, tanto internos quanto externos. A começar pela narrativa comum, amplamente divulgada pelos fãs e reforçada pelo próprio Raul Seixas em algumas entrevistas, de que o álbum teria sido gravado “clandestinamente”, aproveitando a ausência do diretor da CBS. No entanto, há quem conteste esta versão. É o caso de Edy Star, único sobrevivente entre os integrantes do grupo. Em depoimento para o documentário Dossiê Kavernista, realizado por Luiz de Magalhães como um trabalho de conclusão de curso da FACHA/RJ, em 2012, Edy conta que a história é bem menos romântica do que parece.

“Não foi um disco feito na surdina. As pessoas têm a impressão de que aquele disco foi feito em 24 horas, numa madrugada. Não foi! Foi gravado em uns 15 dias, 20 dias, porque tem os arranjos, tem o coral. O Evandro [Ribeiro, presidente da CBS] sabia do disco, apenas não sabia como era o disco. Ele sabia que era um disco comum de Raul, iê-iê-iê besta, não que era um disco provocativo, um disco pra brigar com Sargento Peppers [sic], nem Tropicália, nem Frank Zappa. A CBS não estava preparada pra isso. Então aquilo foi um baque dentro da CBS. (…) E ainda tem mais: se as músicas eram levadas para a Censura Federal e voltavam, e o relações-públicas sabia disso aí, e as pessoas que estavam fazendo os arranjos sabiam disso aí, então o disco não era um mistério, de jeito nenhum”.

Mesmo não sendo um projeto clandestino, o disco pegou os executivos da CBS de surpresa, chegando até a desagradar a matriz da gravadora, nos Estados Unidos. Tal fato levou ao recolhimento do disco (quinze dias depois do lançamento) e contribuiu para o desgaste da relação de Raul com a multinacional, mas, ao contrário da versão mais amplamente divulgada, não provocou sua demissão imediata. Tanto é que Raul continuou produzindo artistas na empresa até 1972.

“O nome Kavernista pintou porque naquela época a gente falava muito em voltar às origens, aquele papo que os homens iriam viver em cavernas depois da explosão da bomba atômica, essas maluquices”.

(Sérgio Sampaio, em entrevista transcrita no livro “Eu quero é botar meu bloco na rua! — A Biografia de Sérgio Sampaio”, de Rodrigo Moreira)

Direta ou indiretamente inspirados por Frank Zappa — que, em 1966, lançou o superexperimental álbum Freak Out, com a banda Mothers of Invention — e pelo tropicalismo, que abriu o caminho para a mistura de ritmos e para a incorporação de elementos estrangeiros à música brasileira, os Kavernistas fizeram um disco repleto de significados, ainda que não fosse essa a intenção deles. Na época do lançamento de “Sociedade da Grã Ordem Kavernista apresenta Sessão das Dez”, eles chegaram a declarar que gravaram um álbum para dizer “absolutamente nada”, apenas por diversão, contrariando a tendência da música como mensagem de protesto, que vigorava naqueles tempos pós AI-5.

Reportagem publicada no mês de agosto de 1971, no jornal O Globo

Mas um olhar mais dedicado sobre o LP aponta a presença de questões como territorialidade, relação com o lugar e indústria cultural, de uma forma “ácida”, “irônica”, “anárquica” e “debochada” — como fazem questão de classificar os autores de críticas publicadas internet afora, sem, no entanto, se deter sobre os assuntos ali abordados.

No artigo “O Poeta do Riso e da Dor: a relação entre música e história na obra de Sérgio Sampaio (1970–1980)”, publicado em 2015, o pesquisador Fabrício Nunes Mendes Brito, da UESPI, apresenta uma definição interessante sobre a “mensagem” dos Kavernistas.

A Sessão das Dez parodia de maneira zombeteira, melancólica e corrosiva o ufanismo dos Anos de Chumbo, além de ironizar o “Milagre Econômico” tendo como cenário a cidade do Rio de Janeiro. O álbum proporciona uma carnavalização do caos da época, revogando as leis, proibições e restrições do sistema e da ordem da vida comum, anulando também o sistema hierárquico, isto é, tudo aquilo que é extra-carnavalesco.

Como mencionado por Brito, é clara a ironia com o ufanismo e principalmente com a acomodação, que era o caminho escolhido por muita gente naqueles tempos em que não havia muito o que fazer sem correr riscos. No contexto do “milagre econômico”, plano de desenvolvimento da ditadura militar — que mais tarde revelou-se como uma solução não muito eficaz para os problemas da economia brasileira — , também dá pra perceber o deboche com o consumismo enquanto forma de realização pessoal e coletiva. Mas é claro que existem outras questões que permeiam as faixas e vinhetas do álbum.

Os quatro integrantes do grupo estavam no Rio de Janeiro para construir suas carreiras artísticas e de produção, mas vinham de outros lugares do país: Raul e Edy saíram da Bahia, enquanto Sérgio Sampaio deixou a cidade de Cachoeiro do Itapemirim (ES) e Miriam Batucada era paulista. As menções a paisagens, bairros e situações do cotidiano carioca aparecem em vários momentos, o que demonstra, como citado por Brito, que “Sessão das Dez” faz uma crônica social ambientada no Rio de Janeiro. Por outro lado, essa condição de “forasteiros” deixa transparecer outro elemento que permeia as composições e pode ter ligação com a realidade: uma constante sensação de não-pertencimento ao lugar, de “não estar à vontade”, uma tensão entre o desejo de voltar pra casa e a vontade de ficar e se integrar de vez àquela rotina.

Numa análise das composições, dá pra perceber que os Kavernistas se aproveitam dessa tensão individual e expandem o “não se sentir à vontade” para um âmbito coletivo, brilhantemente situado no contexto histórico da época. A mensagem que fica é que nem todo mundo estava tranquilo naquele momento de “Brasil: ame-o ou deixe-o”, mas esse desconforto acabava tendo que ser contornado e sublimado de outras maneiras. E aí é que entra o delicioso deboche do disco. Havia quem lidasse com aquilo tudo através do deslumbramento com a indústria cultural, da crença na narrativa da Cidade Maravilhosa, do interesse nas maravilhas do consumo ou de outras formas de escapismo, e todas elas eram devidamente lidas e satirizadas por Raul, Edy, Miriam e Sérgio.

O primeiro ato

Alguns desses elementos já aparecem em “Êta Vida” (Raul Seixas e Sérgio Sampaio), primeira faixa do disco. Ela é precedida por uma vinheta com motivos sonoros circenses e alegres, onde é anunciado que a Sociedade da Grã Ordem Kavernista vai apresentar “o maior espetáculo da Terra”. A música começa dando seguimento a esse clima festivo, com uma letra cuja primeira estrofe louva as maravilhas do Rio de Janeiro. Mas essa estrofe termina numa quebra de expectativas que traz à tona, pela primeira vez, a ideia do não-pertencimento ao lugar.

Moro aqui nesta cidade
Que é de São Sebastião
Tem Maracanã domingo
Pagamento a prestação
Sol e mar em Ipanema
Sei que você vai gostar…

Mas não era o que eu queria
O que eu queria mesmo era me mandar

O mesmo acontece na segunda estrofe, que dá mais destaque aos produtos da indústria cultural, com versos como “na televisão à noite / tem cultura e carnaval / tem garota propaganda / num biquíni que é demais”. O refrão enérgico, sempre cantado após cada estrofe, traduz uma vaga sensação de incerteza. “Êta Vida” é sucedida por uma vinheta na qual um coro canta os versos “eu comprei uma televisão /a prestação, a prestação / eu comprei uma televisão / que distração, que distração!”. Um leve deboche com a classe média que se realizava através do consumo.

A segunda faixa, “Sessão das Dez” (Raul Seixas), é interpretada por Edy Star, que afirmou ter se inspirado em cantores como Orlando Silva, João Gilberto e Nelson Gonçalves para compor a “persona” da canção. A música faz uma espécie de pastiche da seresta como gênero musical, narrando a trajetória de um amor mal-resolvido de forma mais sarcástica do que o habitual para esse estilo. Novamente aparece a questão da territorialidade — um eu-lírico “inocente, puro e besta” que chega do interior — e da distração com os produtos da indústria cultural. Raul regravaria a música três anos depois, no álbum “Gita”.

Logo em seguida, mais uma pequena vinheta repleta de bom humor. Sobre um fundo musical que evoca a sonoridade do rock’n’roll dos anos 1950 e da Jovem Guarda dos anos 1960 — dois fenômenos midiáticos de massa — , Raul e Sérgio representam dois amigos que travam o seguinte (não-)diálogo:

Sérgio: Ih, rapaz, hoje eu vi meu ídolo da juventude!
Raul: Essas coisas já não me assustam mais. As laranjas continuam verdes e…
Sérgio: Ih, cara, peraí, não complica, eu disse que vi meu ídolo da juventude!
Raul: É, amigo, assim os discos voadores nunca irão pousar.

De um lado, uma pessoa em pleno encantamento com o “ídolo da juventude” e uma certa sensação de que “a vida é maravilhosa e não há muito com o que se preocupar”. Do outro, um interlocutor com postura mais blasé e posicionamentos pretensamente filosóficos. Há quem possa interpretar que o personagem representado por Sérgio é o alienado da conversa, enquanto Raul representa a “consciência iluminada e crítica”. Mas também existe outro viés possível: nesse diálogo, os envolvidos buscam tipos diferentes de escapismo e distração, seja através do fenômeno de mídia ou do disco voador.

Começa a terceira faixa, “Eu Vou Botar Pra Ferver” (Raul Seixas). Um baião com toques de samba — até uma cuíca está presente no arranjo! — e letra festiva e despretensiosa, sem muito sentido aparente. Talvez seja uma das letras que mais tem a ver com a filosofia de fazer um disco “apenas por diversão”, sem passar uma mensagem. Mas eu, autora desse texto, louca que sou, encontrei uma possível interpretação. A atitude de “botar pra ferver no carnaval que passou” pode ser lida como uma tentativa de trazer de volta a agitação para aquilo que parece morto, findado. No contexto da música brasileira pós AI-5, talvez a mensagem seja “estamos aqui pra sacudir isso tudo”. Ou talvez seja só uma viagem minha.

É vinheta que você quer? Ainda tem mais. Agora, o alvo da ironia é o “sonho revolucionário” dos hippies. Sobre um fundo musical roqueiro, com guitarras distorcidas, e uma ambientação sonora que evoca uma louca festa com uso dos mais diversos entorpecentes, desenrola-se um diálogo cujas doses de deboche são tão altas que não adianta transcrever: é preciso ouvir. Começa aos 02min20s do vídeo abaixo.

Na quarta música do disco, “Eu Acho Graça” (Sérgio Sampaio), o autor da canção dá voz a um eu-lírico de atitude completamente despreocupada em relação à vida, sem se importar com opiniões. O arranjo fez da música uma espécie de samba rock com órgãos eletrônicos, e até um agogô aparece de vez em quando. A faixa é sucedida por outra vinheta, que traz de volta o coro do “eu comprei uma televisão” — a classe média deslumbrada — pra cantar “há um hippie em pé no meu portão / no meu portão, no meu portão”.

Uma curiosidade é que entre as imagens da contracapa do disco, há uma foto de Raul em pé, com a legenda “ripimpé”, possível corruptela de “hippie em pé”. Até fui buscar se há outro significado para a expressão, mas o que mais encontrei foram referências ao “ripimpé” como personagem de Raul no disco. Segundo Rodrigo Moreira, biógrafo de Sérgio Sampaio, os outros personagens representados pelos artistas na capa do álbum eram o “astro do ano” (Edy), o “homem do povo” (Sérgio) e a Supermulher (Miriam).

Falando em Miriam, é só na quinta faixa do álbum que ela aparece. A cantora interpreta “Chorinho Inconsequente” (Sérgio Sampaio), um choro eletrificado que retoma a temática do não-pertencimento ao lugar e da relação com a cidade. O eu-lírico dessa canção expressa um desejo de viver mais intimamente o cotidiano do Rio de Janeiro, sentir-se parte daquilo, mas deixa nas entrelinhas uma espécie de lamento por não poder realizar essa ambição.

O mesmo tema surge na última faixa do lado A, “Quero Ir” (Raul Seixas e Sérgio Sampaio), com maior ênfase no desejo de voltar pra casa e menções claras aos locais de origem dos autores.

O sol daqui é pouco
O ar é quase nada
A rua não tem fim
Eu volto pra Bahia
Ou para Cachoeiro de Itapemirim

Por sinal, essa faixa traz uma temática muito semelhante à de um grande sucesso do início dos anos 1970: “Quero Voltar Pra Bahia” (Paulo Diniz e Odibar). Em entrevista à revista Amiga, Paulo Diniz, intérprete da canção, conta que se inspirou no exílio de Caetano Veloso para compor a letra, que tem versos como “De repente ficou frio / eu não vim aqui para ser feliz / cadê o meu sol dourado? / cadê as coisas do meu país?”. Ou seja, o desejo de voltar é comum tanto ao exilado político quanto ao que vai tentar a sorte na “cidade grande”.

Com “Quero Ir”, o lado A (ou primeiro ato, como descrito na contracapa do álbum) é finalizado. Hora de virar o disco.

O segundo ato

O lado B começa com “Soul Tabaroa” (Antônio Carlos e Jocafi), única composição que não é de Raul e/ou de Sérgio. Miriam Batucada dá voz a esse xaxado (com rabeca e tudo mais) de autoria de dois baianos, com letra que trata do choque cultural entre cidade e interior, entre música brasileira e estrangeira, de forma bem-humorada e debochada. Em seguida, mais uma vinheta, uma das últimas antes de “Finale”, que obviamente encerra o álbum. Em mais um tiro certeiro, os Kavernistas satirizam de uma só vez a televisão e a ideia de música jovem vendida pela indústria fonográfica. É outra vinheta que vale a pena ouvir. Começa aos 02min39s do vídeo abaixo.

Sérgio Sampaio canta “Todo Mundo Está Feliz”, música creditada unicamente a ele, mas que na verdade teria tido a participação de… Edy Star. Em entrevista ao documentário “Dossiê Kavernista”, o único sobrevivente do grupo conta que a Censura Federal do regime militar estava promovendo uma espécie de boicote às suas letras. Todas as composições assinadas por ele, até as mais bobas, eram censuradas. Algumas músicas só teriam passado pela censura após a ocultação da participação dele como autor. Foi o caso de “Todo Mundo Está Feliz”, na qual Edy seria o responsável pelo refrão, enquanto Sérgio escreveu os versos.

Nessa música, o principal tema abordado é o escapismo, através do esoterismo, dos discos voadores e, possivelmente, dos entorpecentes. Ao mesmo tempo, o verso “todo mundo está feliz aqui na Terra” ganha novos significados quando analisado dentro do contexto da ditadura militar. Ufanismo, milagre econômico, a narrativa oficial de que tudo ia bem no país, classe média consumindo a todo vapor… como não ficar feliz, né?

A terceira faixa do lado B/segundo ato é uma das coisas mais geniais do disco inteiro, e uma das composições mais geniais de Raul Seixas. O samba “Aos Trancos e Barrancos” oferece uma síntese e um desdobramento das ideias apresentadas anteriormente durante o álbum. Temos uma novidade: o eu-lírico dessa canção parece estar completamente à vontade — e até mesmo um tanto despreocupado — , em contraste com o desejo de ir embora e a sensação de não-pertencimento que são recorrentes durante o disco. A interpretação de Raul chega até a satirizar a figura do “malandro que se deu bem”, logo na abertura da canção. Essa atitude despreocupada já tinha aparecido em outras faixas do disco, a exemplo de “Eu Acho Graça”, mas agora ela ganha novos contornos.

Em “Aos Trancos e Barrancos”, a cidade do Rio de Janeiro parece encantadora e cheia de oportunidades, e o eu-lírico aparenta estar embriagado pela expectativa de dias melhores, vide os versos “eu não vou levando nosso leite / troquei por um bilhete da roleta federal”. Ele chega a deixar de lado as preocupações cotidianas. Transcrevo abaixo aquela que eu considero como a estrofe mais forte da música — e que, de certa forma, sintetiza a visão sarcástica que o disco traz a respeito da sociedade de consumo.

Rio de Janeiro
Você não me dá tempo
de pensar com tantas cores
Sob este sol
Pra quê pensar
se eu tenho o que quero?
Tenho a nega, o meu bolero,
A TV e o futebol

Edy Star interpreta “Eu Não Quero Dizer Nada”, composição de Sérgio Sampaio que é precedida por uma vinheta instrumental de clima tenso. A própria faixa dá seguimento a esse clima, numa ambientação sonora que até nos faz imaginar um cenário sombrio nas ruas do Rio de Janeiro. É uma espécie de balada noir, com direito até a pastiche de ópera, que evolui para um ritmo acelerado no refrão. Já a letra faz jus ao título e não diz muita coisa. Com algum esforço, dá pra pinçar referências à temática do escapismo.

O clima soturno continua em “Dr. Paxeco” (sim, com X mesmo), composição de Raul gravada pelo próprio. A faixa começa com uma breve narração sobre o personagem, o herói dos dias úteis, que se mistura às pessoas e tem uma careca inconfundível. Dr. Paxeco é a caricatura do cidadão comum que só pensa em seguir a própria rotina e pagar as contas. Infeliz e oportunista, Dr. Paxeco tenta manter as aparências da vida equilibrada, enquanto disfarça sua vontade de fugir daquilo tudo (olha aí o escapismo e o não-pertencimento de novo). Há quem enxergue no personagem uma sátira aos intelectuais. Eu particularmente acho que não tem nada a ver.

Com um final assim tão “pra baixo”, é claro que o público deste espetáculo circense que parecia tão alegre não iria deixar barato. Assim, em “Finale”, o que se ouve são as vaias da plateia insatisfeita, que só queria se divertir… e um som de descarga!

“Foi engraçadíssimo pra gravar a latrina, porque pegamos o microfone e um fio que não tinha mais tamanho, um fio desde lá do estúdio até dentro do sanitário, e gravamos umas dez vezes aquilo ali”.

(Edy Star, em depoimento para o documentário “Dossiê Kavernista”)

No final dessa viagem sonora de cerca de 30 minutos de duração, dá pra perceber o que é que “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez” tem de tão fascinante. Vai além de ser o “disco perdido de Raul Seixas”. Vai além da mística que o envolve, das histórias envolvendo supostas gravações na clandestinidade e tudo mais. O grande trunfo do álbum é que ele traz muita coisa profunda e complexa por baixo de uma camada de suposta simplicidade. Além da sonoridade agradável e inventiva, do tal clima anárquico louvado por vários fãs, existe uma verdadeira crônica da sociedade da época, uma narrativa irônica na qual eles se põem como personagens. Não querendo dizer nada, Raul, Sérgio, Edy e Miriam disseram muita coisa. E esse é o maior barato.

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