Afinal, selfie serve pra que?

Fabiana Moraes
OVA UFPE
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2 min readAug 24, 2023

No mundo das redes sociais digitais, registrar a si mesmo pode significar mais do que a evidente vaidade: tem relações fortes com auto aceitação, acolhimento e até segurança e proteção

Você termina de se arrumar para sair. Saca o telefone e registra uma foto do rosto.

Você encontra uma amiga. Pegam o telefone e fazem uma foto juntas.

Você vai andar de bicicleta. No meio do caminho, para, faz um V com os dedos e registra uma selfie.

Você passa na frente de um espelho: click.

Vai à praia: click.

Leva um pé na bunda: click.

Uma das práticas mais populares dos últimos anos, registrar o próprio rosto é uma das pedras fundamentais da cultura contemporânea, indo para além das redes digitais. Mas o que para algumas pessoas é visto como um índice de super vaidade e egocentrismo (e muitas vezes é) pode ter também significados bem diferentes para aquelas e aqueles que se postam frente ao próprio celular: uma virada de chave, um exercício de auto aceitação e até mesmo uma forma de comunicar-se com outra pessoa de maneira velada, de forma a mostrar a própria integridade física.

Para entender melhor esse fenômeno, a equipe do OVA escutou uma série de fontes: gente que adora fazer selfie, gente que odeia, especialistas em tecnologia, sociologia e comportamento, livros, textos, artigos. Ouvindo tanta gente e tantos pontos de vista, percebemos que, no geral, não estamos apenas mais encantadas com nós mesmas: estamos, ao mesmo tempo, buscando sentido em um mundo desorganizado, fragmentado e que muitas vezes parece querer nos expelir. Nele, às vezes até para não olhar ao redor, o espelho pode ser a única opção.

Mas não olhar ao redor tem nos feito bem? O que dizer de um mundo pós-pandemia no qual continuamos com uma tela cheia de filtros à nossa frente?

Nessa reportagem, vamos falar sobre diversos temas relacionados às selfies: o número expressivo de mortes entre pessoas que se arriscam para se fotografar em ambientes perigosos; os movimentos que lutam para sinalizarmos os filtros usados para supostamente melhorar nossas imagens (um fenômeno atravessado por questões como o racismo e pela velhofobia); um livro-quadrinho sensacional que analisa com humor e filosofia o narcisismo nas redes sociais . Temos ainda uma matéria com o pesquisador David Nemer, da Universidade da Virgínia (EUA), autor do livro Tecnologia do Oprimido. Em uma pesquisa em favelas do Espírito Santo, ele descobriu que as selfies eram muito mais que “biscoitar” nas redes sociais: em um contexto di violência, muita gente postava para avisar a amigos e parentes que estava bem ou para mostrar que, ao contrário do que usualmente mostrado pelos jornais, é possível viver bem e ser feliz em áreas empobrecidas.

Confira o especial aqui .

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Fabiana Moraes
OVA UFPE

jornalista, escritora e professora do Núcleo de Design e Comunicação da UFPE. autora dos livros O Nascimento de Joicy,Nabuco em Pretos e Brancos e Os Sertões