4. O click que pode custar a própria vida

Fabiana Moraes
OVA UFPE
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3 min readAug 24, 2023

MAÍRA WELMA, repórter do OVA

A busca por lugares inusitados e o ângulo perfeito na hora de fazer uma selfie é uma constante no competitivo mundo das redes sociais — afinal, um alto engajamento também pode capitalizar donas e donos de perfis. Mas essa busca, um tanto implacável, tem preocupado epidemiologistas, pois mesmo quando se trata de “escaladores profissionais” o preço a se pagar pode ser com a própria vida. Foi este o caso do influenciador francês Remi Lucidi, de 30 anos, conhecido por escalar arranha-céus sem equipamentos de segurança, que faleceu ao cair do 68º andar de um prédio residencial em Hong Kong no dia 28 de agosto de 2023.

Mas essa é uma prática que chama atenção nas redes sociais. Com um público de mais 700 mil pessoas em seu perfil no Instagram, a blogueira russa Angela Nikolau que se apresenta como “extreme creator” ficou conhecida por seus registros em diferentes telhados de arranha-céus ao redor do mundo, onde a vemos em situações como a da foto abaixo:

Mas se Angela não necessariamente se fotografa (muitas vezes é seu namorado que a registra), o fato é que ela e outros influencers apostam em lugares “extraordinários” que são frequentemente muito — mas muito — perigosos: o resultado é que uma pessoa morre em média a cada 13 dias ao tentar tirar fotos em lugares arriscados.

Os dados coletados pela Fundação iO, que acompanha os registros de mortes causadas por selfies ao redor do mundo. Entre janeiro de 2008 e julho de 2021, foram registrados 379 acidentes fatais, 31 deles apenas nos primeiros sete meses do último ano da pesquisa. A maioria dos casos traz pessoas jovens, entre 15 a 29 anos, que, na tentativa de impressionar seus seguidores com registros radicais, acabam perdendo a vida. Segundo a fundação, 58,33% dos óbitos registrados são de homens e 41,67% de mulheres.

Os locais e causas das mortes são bem variados: há quedas de cataratas, precipícios e telhados, acidentes com meios de transportes ou armas de fogo, afogamentos, eletrocussão e até tentativas de registros com animais selvagens. Dentre os países que mais registraram casos estão a Índia, com 100 mortes, os Estados Unidos com 39, e a Rússia com 33. O Brasil fica em quinta posição com 17 casos.

Segundo o Journal of Family Medicine and Primary Care, o risco de morte por selfie é cinco vezes mais comum que um ataque de tubarão, por exemplo. Em um estudo realizado pelo jornal, enquanto 259 mortes envolvendo selfies foram registradas no período de outubro de 2011 a novembro de 2017 ao redor do mundo, apenas 40 pessoas morreram em decorrência de ataques de tubarão nesse mesmo período.

Apesar de o risco desse tipo de acidente ser maior em situações arriscadas principalmente durante viagens, essas tragédias podem acontecer em qualquer lugar, na mais simples das situações. Em dezembro de 2022, Samuel Marcaccini Ribeiro, 23, 15 dias após se formar no curso de Medicina, faleceu em Pouso Alegre, no Sul de Minas Gerais, ao se desequilibrar na tentativa de fazer uma selfie na sacada do terceiro andar de um prédio.

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Fabiana Moraes
OVA UFPE

jornalista, escritora e professora do Núcleo de Design e Comunicação da UFPE. autora dos livros O Nascimento de Joicy,Nabuco em Pretos e Brancos e Os Sertões