A Felicidade,

Reportagens Especiais
OVA UFPE
Published in
3 min readDec 23, 2020
Luiz, 59 anos, conta que perdeu a visão aos 2 depois de um banho morno e de pegar sereno. Vive sozinho em Sítio dos Nunes, sertão de Pernambuco. Na sua casa, faz cuscuz, ovo, café. Luiz é um homem feliz (foto: Géssica Amorim)

Vivemos há alguns anos no modo “imperativo da felicidade”: a todo momento, somos bombardeados por mensagens e imagens que nos pedem para sermos felizes, pensar positivo, alcançar a "verdadeira" alegria. Há também uma série de receitas prontas que te prometem o “sucesso” e, consequentemente, a tal plenitude. Não dificilmente, essa busca é na verdade um jogo de consumir baseado na criação de mitos endossados pela publicidade.

Entre tanta gente sorrindo nas redes e nos anúncios e sua imagem meio aparvalhada ali no espelho, vem a pergunta: em que consiste, mesmo, a felicidade?

A pergunta, possivelmente uma das mais antigas da humanidade, pode até ser simples.

A resposta, não.

Márcio, o Banana de Pijama 1, não parecia estar muito feliz na hora da foto. Agora, ele sorri toda vez que reencontra esse momento ao lado de Alice, sua irmã, a Banana de Pijama 2

Na filosofia, o tema é central: muito já se discorreu sobre o tema e vários nomes nos brindaram com enorme inquietude existencial: falavam muito sobre a felicidade, mas com perspectivas das mais distintas sobre essa experiência subjetiva e particular. Sócrates acreditava que a felicidade não deveria ser baseada em conquistas ou coisas externas, mas na forma como estas coisas poderiam ser usadas pelo sujeito. Assim, felicidade não seria o “ter”, mas o “ser”.

Aristóteles falava que a felicidade depende só de nós mesmas, e, para alcançá-la, devemos cultivar virtudes. Para Nietzsche, mais contemporâneo, a felicidade estava presente quando a pessoa podia exercer seu poder e conquistar ou realizar tudo que almejasse. Para o francês Edgard Morin, que mapeia tão bem a sociedade da felicidade compulsória, esse “estágio” é um mito, uma projeção.

Nelson Mandela, um dos mais importantes nomes da política da contemporaneidade, espraiou no mundo a filosofia Ubuntu: sou porque você é. Nela, a felicidade, ao contrário do que se desenha em grande parte da lógica ocidental, não é pensada apenas a partir de experiências pessoais, e sim coletivas. O mote é: se quiser ir rápido, vá sozinho. Se quiser ir longe, vá em grupo.

Em um ano no qual milhões precisaram cuidar de si para assim cuidar dos outros, o chamado Ubuntu é mais pertinente do que nunca.

No isolamento, nos lembra Cladisson, ser feliz foi também compartilhar a vida com amigos e grupos no WhatsApp

Neste especial, nós — Cladisson, Gessica, Layane, Mari, Márcio e Fabiana — falamos sobre o que faz a gente feliz. Depois de meses apurando, escrevendo e editando sobre vírus, doença e morte, entendemos que era momento de trazer aquilo o que também sustenta a vida. Pra gente seguir nesse mundo, precisamos às vezes voltar para casa que um dia deixamos, rir de uma besteira no WhatsApp, encher a barriga com xerém e galinha, escutar histórias, se aproximar de Deus, se aproximar da mata, ver uma face brilhando cheia de glitter, um rapaz dançando forró, tomar vinho, pintar o cabelo, visitar a vó Nete, visitar a vó Nilza, ouvir Elomar, ouvir Alceu Valença (no último volume), ouvir música triste (sim, até uma música triste).

Felicidade foi dividir nosso trabalho com a equipe incrível da Marco Zero Conteúdo :)

A lista é grande e continua. A gente decidiu escrever a última reportagem do ano falando dessas coisas. Algumas parecem bestas, e são. Mas são elas que nos ajudam também a ficar de pé.

Vem aqui conversar com a gente:

1 Cladisson: A felicidade está em Hogwarts e em um garfinho de plástico rosa

2 Gessica: Felicidade é descobrir a casa dos outros

3 Mari: Felicidade é terminar um ano tão difícil com a certeza que 2021 será o melhor de nossas vidas

4 Márcio: Felicidade é botar água no café

5 Layane: Felicidade é aquilo que não pode ser precificado em tabela

6 Fabiana: Felicidade é compartilhar o brilho, o samba e o amor

Te desejamos um 2021 com mais abraços, mais cuidado, menos racismo, mais segurança para as mulheres, crianças e idosos. Ano novo com carinho real e não virtual ao próximo. Ano novo com mais vacinas. Axé!

(Texto: Mari Souza e Fabiana Moraes)

Também preparamos para você uma playlist com músicas que nos deixam felizes. Compartilha o ouvido com a gente:

spotify: playlist: 4LG7PgcmfD1GI9maCmhduj

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Reportagens Especiais
OVA UFPE

projeto de extensão do Observatório da Vida Agreste (OVA), Curso de Comunicação Social da UFPE/Centro Acadêmico do Agreste (CAA)