A Felicidade,
Vivemos há alguns anos no modo “imperativo da felicidade”: a todo momento, somos bombardeados por mensagens e imagens que nos pedem para sermos felizes, pensar positivo, alcançar a "verdadeira" alegria. Há também uma série de receitas prontas que te prometem o “sucesso” e, consequentemente, a tal plenitude. Não dificilmente, essa busca é na verdade um jogo de consumir baseado na criação de mitos endossados pela publicidade.
Entre tanta gente sorrindo nas redes e nos anúncios e sua imagem meio aparvalhada ali no espelho, vem a pergunta: em que consiste, mesmo, a felicidade?
A pergunta, possivelmente uma das mais antigas da humanidade, pode até ser simples.
A resposta, não.
Na filosofia, o tema é central: muito já se discorreu sobre o tema e vários nomes nos brindaram com enorme inquietude existencial: falavam muito sobre a felicidade, mas com perspectivas das mais distintas sobre essa experiência subjetiva e particular. Sócrates acreditava que a felicidade não deveria ser baseada em conquistas ou coisas externas, mas na forma como estas coisas poderiam ser usadas pelo sujeito. Assim, felicidade não seria o “ter”, mas o “ser”.
Aristóteles falava que a felicidade depende só de nós mesmas, e, para alcançá-la, devemos cultivar virtudes. Para Nietzsche, mais contemporâneo, a felicidade estava presente quando a pessoa podia exercer seu poder e conquistar ou realizar tudo que almejasse. Para o francês Edgard Morin, que mapeia tão bem a sociedade da felicidade compulsória, esse “estágio” é um mito, uma projeção.
Nelson Mandela, um dos mais importantes nomes da política da contemporaneidade, espraiou no mundo a filosofia Ubuntu: sou porque você é. Nela, a felicidade, ao contrário do que se desenha em grande parte da lógica ocidental, não é pensada apenas a partir de experiências pessoais, e sim coletivas. O mote é: se quiser ir rápido, vá sozinho. Se quiser ir longe, vá em grupo.
Em um ano no qual milhões precisaram cuidar de si para assim cuidar dos outros, o chamado Ubuntu é mais pertinente do que nunca.
Neste especial, nós — Cladisson, Gessica, Layane, Mari, Márcio e Fabiana — falamos sobre o que faz a gente feliz. Depois de meses apurando, escrevendo e editando sobre vírus, doença e morte, entendemos que era momento de trazer aquilo o que também sustenta a vida. Pra gente seguir nesse mundo, precisamos às vezes voltar para casa que um dia deixamos, rir de uma besteira no WhatsApp, encher a barriga com xerém e galinha, escutar histórias, se aproximar de Deus, se aproximar da mata, ver uma face brilhando cheia de glitter, um rapaz dançando forró, tomar vinho, pintar o cabelo, visitar a vó Nete, visitar a vó Nilza, ouvir Elomar, ouvir Alceu Valença (no último volume), ouvir música triste (sim, até uma música triste).
Felicidade foi dividir nosso trabalho com a equipe incrível da Marco Zero Conteúdo :)
A lista é grande e continua. A gente decidiu escrever a última reportagem do ano falando dessas coisas. Algumas parecem bestas, e são. Mas são elas que nos ajudam também a ficar de pé.
Vem aqui conversar com a gente:
1 Cladisson: A felicidade está em Hogwarts e em um garfinho de plástico rosa
2 Gessica: Felicidade é descobrir a casa dos outros
3 Mari: Felicidade é terminar um ano tão difícil com a certeza que 2021 será o melhor de nossas vidas
4 Márcio: Felicidade é botar água no café
5 Layane: Felicidade é aquilo que não pode ser precificado em tabela
6 Fabiana: Felicidade é compartilhar o brilho, o samba e o amor
Te desejamos um 2021 com mais abraços, mais cuidado, menos racismo, mais segurança para as mulheres, crianças e idosos. Ano novo com carinho real e não virtual ao próximo. Ano novo com mais vacinas. Axé!
(Texto: Mari Souza e Fabiana Moraes)
Também preparamos para você uma playlist com músicas que nos deixam felizes. Compartilha o ouvido com a gente: