Um povo que espera horas pela emergência

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OVA UFPE
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3 min readJul 9, 2020

Em Surubim, a vida de quem passa noite e madrugada na fila em busca dos R$ 600. Teve até comemoração de São João durante a longa espera

Maria Souza

Centenas de pessoas se aglomeram em frente ao Banco do Brasil (fotos: Luiz Carlos Mota/divulgação)

SURUBIM — Nas esquinas do centro de Surubim, perto das agências da Caixa econômica Federal e do Banco do Brasil, as filas dão voltas. As pessoas esperam durante horas por uma possibilidade de conforto maior representada pelo auxílio emergencial de R$ 600. Debaixo de chuva, sol, enfrentando o frio, a fome, sem banheiro por perto. Gente que já passava — e passa — por uma vida de poucos afagos agora se vê mais vulnerável com o avanço da pandemia do novo coronavírus nas cidades do interior. A agricultora Risoneide Lima, 35 anos, moradora da zona rural, conta que no dia 24 de junho, dia de São João, várias pessoas chegaram celebrar a data na fila da Caixa econômica. “Levaram colchonetes, lençóis, comidas e bebidas para comemorar a data”.

A espera na fila da Caixa Econômica é enorme: há quem chegue às 4h30 da manhã e só saia no meio da tarde

De acordo com a lei 13.982 (2 de abril de 2020) a concessão do auxílio é devida à pessoa que cumpre cumulativamente os seguintes requisitos: ser maior de 18 anos, não ter emprego formal ativo, renda familiar per capita de até 1/2 (meio) salário mínimo ou renda familiar mensal total de até três salários mínimos. A lei incluiu categorias como agricultores, caminhoneiros, diaristas, garçons, manicures, catadores de recicláveis e outros. A primeira parcela foi creditada em uma conta digital criada pela Caixa econômica entre os dias 27 de maio e 16 de junho. As outras parcelas seguiram um calendário pela data de nascimento dos usuários. Através do aplicativo Caixa Tem, criado às pressas pela Caixa, os beneficiários puderam acompanhar o pagamento do auxílio, mas de acordo com muitos favorecidos, o mesmo apresenta várias instabilidades. A própria Caixa chegou admitir que o aplicativo apresentava falhas que seriam corrigidas o mais rápido possível. Essa situação levou às ruas da cidade enormes filas em busca pelo valor depositado nas poupanças cadastradas.

Impacto da pandemia é ainda maior entre uma população que já se encontrava em vulnerabilidade

Por causa da demora, falta de informação e desespero, algumas pessoas chegaram dormir nas filas para garantir o atendimento um pouco mais cedo. É o caso de Marina Helena, 22, desempregada, que precisou pernoitar na fila da Caixa para sacar a primeira parcela do auxílio emergencial. “Cheguei às 4h30 da madrugada e quando cheguei já tinha pessoas aguardando. Só consegui sair da agência às 14h. Cheguei em casa achando que tinha pegado a doença. Senti dor de cabeça e febre. Mas acho que foi a insolação”. Já a agricultora Risoneide ressalta que estava de máscara e que não teve receio de permanecer na fila por mais de quatro horas. “Não tenho medo de pegar o coronavírus. Tive que vir pessoalmente. Apesar de ter conta na Caixa, não tenho acesso à internet em casa por isso, não consegui acessar o aplicativo”, diz.

De acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pela prefeitura Municipal em suas redes sociais, Surubim confirmou 414 casos da doença. No centro da cidade, onde está localizada a Caixa, foram confirmados 72 casos leves, 12 casos graves e 1 óbito.

Paisagem do centro de Surubim é atualmente formada por longas filas de pessoas em busca de dias menos duros

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projeto de extensão do Observatório da Vida Agreste (OVA), Curso de Comunicação Social da UFPE/Centro Acadêmico do Agreste (CAA)