A cidade verde

OVNE História
OVNE
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6 min readOct 3, 2017

Conheça a história dos facilitadores do nosso próximo curso e confira dicas espertas para começar a se conectar com os princípios da permacultura.

A cidade assusta. A pouca maleabilidade do duo concreto e aço, altos custos, longas horas de trabalho, a falta de conexão, a velocidade, a violência. A cada dia mais “comum”, o termo êxodo urbano tem tomado corações sensíveis, ávidos por liberdade, significado e vida simples. Afinal, quem é que nunca sonhou com uma casa no campo pra ficar do tamanho da paz? Mas para os permacultores — e facilitadores do nosso próximo curso, o Cidade VerdeYuri Diniz, 26, e João Ramil, 24, a cidade ainda é um mundo de infinitas possibilidades.

Essa história começa há mais ou menos sete anos, quando o Yuri, agricultor nascido na cidade, se juntou a um amigo que gostava de plantar em uma viagem à Bahia, que incluía quatro dias de curso com o mestre Ernst Gotsch. “Quando ouvi o Ernst falar pela primeira vez, a sensação era de que a minha vida toda tinha sido arquitetada para que eu vivesse aquele momento. Apesar de não ter entendido quase nada, afinal, eu era completamente leigo e mal podia imaginar que existiam tipos de capim. Mas a essência de tudo o que ele dizia fazia muito sentido e me trouxe um senso de propósito muito forte”.

Daí foi voltar para o Rio — já tendo colhido seu primeiro aipim e conhecido algumas das espécies nativas da Bahia — para implementar os princípios de consórcio, biodiversidade e agrofloresta na própria varanda, na escala de vasinhos de planta. Mais tarde, Yuri então passou a ocupar o espaço do seu condomínio segundo as práticas do design permacultural (o que inclui de coleta seletiva e gestão de resíduos à estudos de captação da água da chuva); projeto piloto que, por sua vez, deu origem à CARPE, empresa que já toca há 6 anos ao lado de amigos, e em paralelo às aulas de sustentabilidade na Escola Parque.

Há dois anos, Yuri realizou o sonho de comprar uma terrinha para chamar de sua na Serra da Mantiqueira e viver da venda do alimento que ele mesmo planta, em viagens semanais da zona rural para a urbana. Para ele, a agricultura é um mecanismo pra gente se mostrar oportuno no planeta.

“Uma abelha, por exemplo, que precisa se alimentar e vai, de flor em flor, sugando néctar, tem como resultado do seu consumo um balanço energético positivo. Ao final do processo, ela cria mais vida e mais recursos a partir do que retirou da natureza e assim se mostra muito oportuna. Nós, seres humanos, podemos trabalhar dentro dessa mesma lógica, muito embora a lógica capitalista não seja análoga à lógica natural do universo de abundância, propósito, cooperação e interdependência”.

Calhou que, um belo dia, os serviços da CARPE chegaram aos ouvidos dos pais do João, que queriam transformar o jardim de casa em uma horta comunitária para 25 pessoas — que acabou virando uma agrofloresta bastante produtiva.

Nessa época, o João — que cresceu vegetariano em uma família envolvida há mais de 30 anos com práticas de yoga e meditação — já vivia o conflito de viver princípios opostos, dentro e fora de casa. Perto dos 18, passou a viajar regularmente em busca daquela conexão que vem justamente da desconexão da urbe, até que acabou parando no Festival de Permacultura da Serra do Tabuleiro, em Santa Catarina — para ele, um divisor de águas — e mais tarde, na Península do Maraú, onde teve o seu primeiro contato com uma estrutura permacultural. O próximo passo foi começar a mapear eco espaços há poucas horas de distância do Rio, como o Tibá, e entender que a vontade de fugir não era da cidade, mas da sociedade como ela está. Atualmente, ele está também a frente da Fenda, facilitadora de processos artísticos-culturais.

“Encontrei na permacultura uma forma de permanecer em harmonia com o entorno, no campo ou na cidade. Ela é uma espécie de anarquismo não-violento, que vira de cabeça para cima a estrutura desarmônica do sistema — o que engloba a forma como a gente se alimenta, mora, relaciona, organiza, etc — para criar vínculos entre pessoas e o ambiente ao nosso redor”.

O curso

Com o Cidade Verde, os meninos querem oferecer uma nova forma de olhar para a natureza, baseada no envolvimento, e não no desenvolvimento como o paradigma vigente gosta tanto de fazer, para criar relações de balanço energético enriquecedor e trazer novas funções para os espaços comuns.

Só de olhar para um canteiro aleatório, percebemos que a nossa relação com as espécies que nos rodeiam é muito doentia. Passamos por coqueiros, amendoeiras, trepadeiras, todos os dias sem saber seus nomes, tomar qualquer cuidado com as suas vidas. Queremos que estejam ali sempre bonitinhas, como se fossem de plástico, como se estivesse expostas em um museu.

Assim, a alimentação será a nossa porta de entrada para, como o João gosta de dizer, “práticas permaculturais mais pesadas”. No primeiro módulo aprenderemos a cultivar a nossa própria horta vertical, ideal para espaços reduzidos. No segundo, a ideia é estudar a aplicabilidade da agrofloresta em canteiros urbanos e entender o passo a passo para a liberação desses espaços ociosos. Se nasce grama, dá pra plantar comida. E além do mais, as plantas comestíveis também são lindas.

De todo jeito, o Cidade Verde se propõe a permear todas as etapas de um projeto criativa, da organização de pautas à captação de amplificadores, com os twists cognitivos da permacultura — esse termo que se popularizou por meio dos estudos do australiano Bill Mollison, nos anos 90, mas que há milhares de anos já vem sendo praticado intuitivamente por todo o mundo, e a cada mês, segue sendo resignificado em plataformas colaborativas como a Wikipédia.

Comece agora

Quer saber mais? Clique aqui para se inscrever no Cidade Verde — ou escreva para academia@ahlma.cc caso não possa, por algum motivo, se comprometer com o investimento sugerido — mas sobretudo, aproveite a lista de dicas abaixo, preparada pelos nossos facilitadores, para que qualquer um possa começar a entender um pouquinho mais desse universo tão fértil.

Livros

Permacultura: Princípios e caminhos além da sustentabilidade — David Holmgren, editora Chelsea Green.

Dicionário Crítico de Política Cultural — Teixeira Coelho, editora Iluminuras.

Manual do Arquiteto Descalço — Johan Van Lengen, editora B4.

Introdução ao Vedanta — Swami Dayananda Saraswati.

O Valor dos Valores — Swami Dayananda Saraswati.

O Poder do Agora — Eckhart Tolle, editora Sextante.

Documentários

Zeitgeist I, II e III — direção de Peter Joseph, disponível no Netflix.

What the Health — direção de Kip Andersen e Keegan Kuhn, disponível no Netflix.

Outros

Tibá — @tibario

Espaço Cria — @espacocria

Capim SeloVerde — @capimseloverde

Galpão Ladeira das Artes — @ladeiradasartes

House of Ink — @_houseofink

Na Salona — @na.salona

Espaço Pura Vida — @espacopuravida

Perestroika — @aperestroika

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