Memórias de um Chocolate Quente

Mariana Mauro
Página em Branco BR
2 min readJul 16, 2020

--

Aproveitei o friozinho para fazer um chocolate quente. Carioca não pode ver o termômetro descer um pouquinho que já entra no modo inverno nos Alpes.

Enquanto mexia aquela bebida dos deuses, eu me lembrava de uma Mariana bem menor. Quando eu era criança, sonhava em fazer um bolo sozinha na casa da minha avó. A gente conversou e depois de muita carinha de persuasão e convencimento, ela concordou que poderia fazer meu bolo da independência quando tivesse 12 anos.

O dia chegou e ela só me deixou fazer chocolate quente mesmo, sob a supervisão dela. Minha avó tinha ganhado uma luva de cozinha de uma vizinha, que ela mesmo tinha costurado. Pedi para botar a luva e me senti a própria Masterchef, como se existisse isso naquela época.

Eu não sei explicar ao certo o que aconteceu, mas quando vi… a luva que usava toda empolgada estava, digamos que, pegando um pouquinho de fogo no centro. Eu gritei, minha avó segurou a panela para não cair no chão e ligou correndo a bica.

A luva ganhou meu selo de qualidade, não me machuquei, mas eu consegui estragar lindamente a luva que a vizinha tinha feito com tanto amor. Vovó desligou o fogo, me olhou sério e disse: “chocolate quente é sempre no fogo baixo”. Podia ver o alívio na carinha da minha vó por não ter me deixado fazer o bendito bolo sozinha.

Eu peguei minha caneca de chocolate quente e engoli minha dignidade, segurando uma luva linda com um buraco no meio. O fogo só atingiu a primeira camada de tecido da luva, ela era realmente boa. Vovó não brigou comigo, e aprovou o chocolate, que mesmo depois de tanta emoção ficou uma delícia.

Já se passaram mais de 15 anos dessa história, eu ainda devo uma luva para minha avó e ela ainda não deixa eu ficar sozinha na cozinha.

Se você gostou desse texto, deixe sua curtida nessas palminhas aqui embaixo. Elas vão de 0 a 50. Quanto mais palminhas, mais chances desse texto chegar a outras pessoas.

--

--