Perfis

Ocupar é Resistir

No asfalto que abriga as passadas de quem movimenta a cidade, há muita história para ser ouvida. Conheça alguns dos personagens que movimentam a capital

Davi César
Pé na Pista

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Resiliência. Característica de cada pegada fincada no asfalto. Foto: Bruno Gomes
Cruzar a linha de chegada não é o único sinônimo de vitória para quem corre na rua. Foto: Davi César

As ruas estão ocupadas, principalmente, aos sábados e nas manhãs de domingo. Os perfis de quem corre nessas ruas são diversos e guardam preciosas histórias de superação e vitórias. Podem ser ou não corredores profissionais, são cidadãos comuns que veem na corrida um dos meios para manter o bem-estar e a autoestima. Existem aqueles que correm para perder peso, aqueles que correm por estarem preocupados com a própria saúde, aqueles que acompanham os amigos, aqueles querem aliviar as tensões da semana de trabalho, aqueles que querem exibir a prática esportista nas redes sociais. Seja quais forem as motivações, todos têm algo em comum: a ocupação das ruas.

Ocupar é preencher espaços. É encontrar em um lugar uma razão para fincar os pés. Os corredores deixam suas marcas com os passos rápidos nas superfícies das ruas da cidade. São eles que ocupam as vias e fazem delas a sua liberdade.

Personagens das ruas

Enquanto a corrida é fator de ocupação urbana, eles são personagens de resistência. Conheça algumas das personalidades que conhecem a cidade do Sol com a sola dos pés.

Janaína

Janaína Freire criou seu próprio grupo de atletas, o Coiotes, que possui cerca de 52 membros. Foto: Acervo Pessoal

Dona de casa, mãe de três filhos pequenos e recém-divorciada. Essa era a Janaína Freire de 2005. Ao assistir televisão, uma propaganda de uma corrida de rua e muita força de vontade fez toda a diferença na vida dela — aventurou-se ao correr 10 km sem nunca ter treinado a modalidade. Em 2018, aos 47 anos, a auxiliar administrativa continua a utilizar a corrida como sua válvula de escape. Mas, em vez de usá-las para superar as dificuldades de sua vida, hoje, corre para superar suas próprias metas. “Esse ano eu tava completando 13 anos (como corredora) e fechei a meta de completar 300 corridas. Eu disse que iria bater essa meta. Faltando poucas corridas neste ano, minha contagem já chega a 320. Bati minha meta.”

Raimundo

Com muita garra e resiliência, o corretor de seguros ignora as décadas já vividas e corre como um menino. Foto: Januele Melo

Preocupado com sua qualidade de vida, Raimundo Souza, 64, viu nas corridas um incentivo para praticar atividades físicas e manter-se em forma. Não por menos, supera obstáculos quebrando os próprios recordes e faturando medalhas de pódio quando alcança bons resultados nas 8 corridas que faz anualmente. Há dez anos correndo nas ruas de Fortaleza, treina três vezes por semana um percurso de 10 km e ainda sobra tempo para malhar. “Dá um bem-estar fora do comum quando você termina a corrida. Parece que a gente tirou todo o estresse que tinha na mente, no corpo, na alma. É uma coisa fantástica.”

Germano

Atleta versátil, Germano concluiu recentemente o IronMan 2018, em Fortaleza. O triátlon tem como desafio 1,9 km de natação, 90 km de ciclismo e 21,1 km de corrida. Foto: Acervo Pessoal

O oficial de Justiça Germano Correia, 51, começou a correr em 2008. De lá pra cá, já perdeu as contas de quantas corridas de rua já participou, mas um número o atleta guarda na memória: três maratonas. Dentre elas, o percurso que afirma ter sido o melhor de sua vida — a Maratona de Florianópolis em 2018. No evento, a meta era completar 42 km em 4 horas. O atleta alcançou o feito em 3h55min16s. A coleção de objetivos cumpridos é inumerável, mas Germano deseja muito mais. A competitividade é um dos combustíveis que o impulsiona a continuar arrancando. “No dia que eu perceber que eu não tenho mais condições de baixar meu tempo na corrida, eu paro de correr.”

Brena

Ela é o combustível do pai, e ele incentiva a filha. Foto: Davi César

Brena Oliveira de Souza, 14, participa das corridas de rua com o pai desde os oito anos. A menina leva uma vida bem agitada durante a semana por conta da rotina voltada para os cuidados com a síndrome de down. Ela tem muitas ocupações na semana, pratica, por exemplo, judô e natação. Orgulho do pai Aureliano de Souza, 54, policial militar, que chegou a cogitar parar de correr quando completou 40 anos. O nascimento da filha fez ressurgir a vontade do pai de ocupar as pistas da cidade. Hoje, continua correndo com todo gás e deixou a vontade de largar os tênis para trás. “Quando eu corria antes, eu corria para terminar. Hoje eu corro pra ver ela chegar e passar comigo em primeiro. É uma alegria para mim e para ela”

Tipos de Corredores

Roney, o atleta

Ele se intitula como “atleta amador que se dedica”. Foto: Davi César

Roney Barbosa de Souza, 36, supervisor de produção, começou a correr há 11 anos e de lá pra cá perdeu 16kg. A motivação para iniciar foi a preocupação com a saúde.

“Depois você vai conquistando, perdendo peso, melhorando tempo e, assim, naturalmente você se motiva.”

Igor, o saudável

Ele se preocupa com a saúde e quer ter hábitos saudáveis. Foto: Davi César

Igor Rocha Pessoa, 33, é dentista e busca conciliar o trabalho, o casamento e os cuidados com a saúde. Ele possui uma rotina com treinos variados: de tiro, de resistência, rodagens.

“Já corro há 6 anos, procuro ter uma alimentação saudável, faço academia e quase todo fim de semana eu tô participando de uma corrida.”

Natielle, a novata

Ela é iniciante na corrida, mas já tem alma de esportista. Foto: Davi César

Natielle Vieira de Souza, 21, estuda pedagogia e trabalha em uma escola na cidade em que reside, Maracanaú. Ela joga vôlei e já tinha o hábito de correr, participou de sua primeira corrida de rua e disse que pretende continuar.

“Satifação. Vitória. É isso” é como ela define a sensação de correr.

Maria de Lurdes, a apaixonada

Ela superou uma grande perda e fez das corridas sua nova paixão. Foto: Davi César

Maria de Lurdes, 63, aposentada, começou a correr há sete anos, como forma de superar a morte do marido, e já soma 73 medalhas. Foi incentivada por uma amiga e desde então passaram a correr juntas.

“Eu me casei com as corridas.”

Lorena e Saulo, o casal

Ela incentivou o marido, e ele encarou o desafio das corridas de rua. Foto: Davi César

Lorena Saraiva, 36, engenheira, corre há 1 ano e seis meses e pratica musculação. Saulo Veras, 36, é empresário e participa de vaquejadas. Começou a correr na rua logo depois de Lorena e participou pela primeira vez da corrida de rua na Corrida Rosa e Azul do Ceará, em novembro.

Casados há 13 anos, têm três filhos, de 5, 7 e 8 anos. As crianças se empolgam com os pais: “Quando eles veem a gente chegando com a medalha, ficam empolgados e querendo correr também.”

“Eu sinto mais disposição, fico menos estressada e mais animada com os meninos, principalmente.” — Lorena

“É uma sensação de superação. A cada treino a gente vendo tempo, que correu mais rápido, cansou menos. Então a gente sente um prazer de que tá melhorando.” — Saulo

Colaborou Januele Melo

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Davi César
Pé na Pista

21. Estudante de Jornalismo. Ator. Professor. Comunicador. Movido pela fé. Saudosista do futuro.