HISTÓRIAS DA MINHA ÁREA: três análises de dados

Pedrenrique
pérabrasil
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19 min readMar 13, 2021

DJONGA, SEU QUARTO ÁLBUM E TRÊS ANÁLISES POSSÍVEIS (Texto original escrito entre março-maio/2020)

Antes de começar, faz favor:

Ou então, a tal da Nota do autor: Eu já tinha publicado essa análise sobre os três primeiros álbuns do #Djonga (hoje lança mais um, ok?) e em 13 de maio do ano passado (2020), eu terminei de escrever um ensaio sobre seu novo álbum, HDMA, mas até então nunca havia publicado este texto -uma nova proposta de análise de dados em até 60 dias. Não tive vontade. Mas a última semana me animou, talvez seja um novo 13 de março. Ficar um ano em casa só faz sentido realmente após você ter passado um ano em casa, aproveitem a leitura. Escrevo de forma curta porque prefiro que você leia o texto abaixo, obrigado e fiquem bem!

DJONGA EM 3 ANÁLISES: 60 DIAS DE HDMA:

O ensaio abaixo está fundamentado na reflexão do álbum a partir de três caminhos possíveis de análise na comunicação:

  1. Midiatização e consumo midiático;
  2. Breve análise semiótica (a. da Imagem e, b. da Linguagem)
  3. Análise textual (léxico-semântica)
  4. DA MIDIATIZAÇÃO E DO CONSUMO MIDIÁTICO:

Tradicionalmente lançado no dia 13/março nos últimos quatro anos, essa sexta-feira 13 também marcou um ponto particular de nosso ano. Pode ser considerada já o “último dia da antiga normalidade”, de um mundo latino-americano pré-isolamento social.

Na grande maioria dos países latinos e no Brasil especialmente, o final de semana e a segunda-feira dia 16/março marcou o início daquilo que hoje chamamos de quarentena.

Parece oportuno analisar o consumo midiático de um lançamento nesta data, especialmente pela impossibilidade do artista sair em turnê de lançamento do álbum.

Como de costume para o artista, o álbum é lançado primeiro no Youtube sob argumento de ser o canal de maior penetração e acessibilidade frente a sua audiência e, portanto, será analisado em segundo plano, o consumo do álbum via outra plataforma social de conteúdo musical, o Spotify.

A análise não quer explicar efeitos da situação atual no cenário da música nem do gênero rap e muito menos nos hábitos destas plataformas, apenas provocar reflexões entorno do quarto lançamento do artista e o consumo de sua audiência, além de deixar no ar como o “estar em casa” pode impactar no consumo de lançamentos de conteúdo durante este período.

O lançamento do álbum primeiro no Youtube reflete diretamente nos hábitos de consumo do álbum frente ao Spotify. A transmissão da Live “em casa”, também em seu canal do Youtube é determinante no fortalecimento do canal como principal da audiência do artista.

Não foi percebido crescimento significativo de seguidores e ouvintes no período de um mês anterior ao lançamento, como algum reflexo de preparação ou planejamento de fãs. O lançamento, por si só, é a principal variável que impacta no crescimento da base de audiência e consumo das músicas do artista.

Evolução de ouvintes mensais e inscritos nas páginas oficiais de Djonga

No Spotify, os ouvintes mensais crescem de forma intensa do lançamento do álbum até 03/abril, data de maior pico de ouvintes no período. Após um mês de lançamento, o volume de ouvintes começa cair de forma mais significativa, mas em ligeira retomada de crescimento desde o dia 05/maio.

No Youtube, a primeira semana pós-lançamento representa o aumento (curva) mais inclinada, seguida pelo crescimento entre a Live e o aniversário de um mês de álbum lançado. Nesses três dias, o canal cresceu mais 7% em novos seguidores.

Nessa data, 13/abril, os ouvintes do Spotify cresceram em 6% desde o lançamento de HDMA, enquanto no Youtube o crescimento de inscritos já é de 25%.

Para melhor contextualização, no dia do lançamento, Djonga tinha 596 mil seguidores no Spotify e, um mês depois, cresceu 9% e ultrapassou os 647 mil seguidores dessa rede. Com dois meses de álbum lançado, ultrapassa os 670 mil (mais 13% de novos seguidores desde o lançamento). Assim como no Youtube, não há queda de inscritos/seguidores no período, mas crescimento constante.

Performance de engajamento no Youtube (maio/2020)

“O cara de óculos”, com mais de 6,7 milhões de visualizações e 253 mil curtidas é, disparada, a principal música para audiência no álbum HDMA. É a mais popular, por ser a mais escutada e, a favorita, pelo volume de curtidas.

Dentre as mais escutadas, na sequência estão “Procuro alguém”, com 6,3 milhões de plays e, “Hoje não”, que na hora que este texto for publicado provavelmente terá alcançado as 6 milhões de visualizações. “Hoje não” é a única faixa do álbum que conta com videoclipe na na playlist. Dentre as três mais curtidas, o padrão se repete; na sequência de “O cara de óculos”, “Procuro Alguém” com 206 mil curtidas e, “Hoje não”, com 189 mil likes.

Em compensação, há uma ligeira mudança na ordem deste Top 3 quando se pensa nas músicas que mais geraram conversas (comentários) entre a audiência do Youtube. “O cara de óculos” segue como principal faixa do álbum; 5,6 mil comentários, mas é “Hoje não” –justamente por ser um videoclipe, que assume a segunda posição com mais comentários: 2,9 mil frente a 2,4 mil de “Procuro alguém”.

Apesar do meio do álbum representar uma crescente de curtidas e visualizações, há uma queda significativa de consumo nas últimas duas faixas de HDMA.

A comparação da discografia pode ser feita por meio das playlists, também em seu canal do Youtube, de cada um dos álbums lançados nos últimos quatro anos. Ainda que não seja justa, pois o álbum está sendo analisado com apenas dois meses no ar — enquanto todos os outros seguem sendo ouvidos desde seu lançamento; HDMA já soma mais de 10 milhões de visualizações que Heresia e, já representa 2/3 das visualizações de OMQQSD.

Engajamento consolidado dos álbuns no Youtube (Maio/2020)

Ladrão é a obra mais ouvida até o momento, com pouco menos que o dobro das visualizações que HDMA tem hoje (13/maio). Considerando o cenário atual de hoje, ainda que de forma linear, a tendência esperada que em um ano, o álbum alcance 99 milhões de visualizações nesta playlist.

Em engajamento da audiência com os vídeos, a popularidade de Djonga é mais aparente. Seu primeiro álbum, com menos de 500 mil curtidas (média de 42,7 mil curtidas por faixa), enquanto em HDMA este valor já é quase três vezes superior, aproximando-se de 1,5 milhão de curtida (média de 144 mil curtidas por faixa).

De Heresia para OMQQSD foi um salto de 82% mais engajamento, para Ladrão, a variação frente OMQSSD é de mais 67% curtidas totais. Por enquanto, HDMA já tem 11% mais curtidas que Ladrão.

2. BREVE ANALISE SEMIÓTICA

Assume-se uma “breve análise semiótica” aqui, ao utilizar o início da visão computacional no apoio da análise de imagem com uma análise não aprofundada dos títulos do álbum, sendo parte verbal constituinte não apenas da arte da capa como de guia narrativa conceitual da obra.

Em uma espécie de grau zero do estudo do sentido da linguagem: Significante e Significado (Saussure) na construção do signo. Basicamente, busca-se estudar como é a transmissão de significado de uma mente (ou estado mental) para outra.

Por exemplo, o significante de Ladrão versus seu significado no terceiro álbum, é uma forma do artista de ressignificar conceitos diretamente relacionados com seu discurso.

Sua Estilística –trabalhada já de certa forma extensa na internet, é marcada por figuras de linguagem “dicotômicas”, antíteses, paradoxos e metáforas. Saímos de um ponto de partida onde dialética e os debates por si só são tensões, bases da análise de discurso, em torno de espécie de uma memória polêmica.

“Os assuntos de controvérsia são previamente levantados em dois domínios: zonas que já foram objetos de ataque e aquelas que ainda não foram debatidas. […] A polêmica então só se legitima a parti de uma espécie de memória polêmica, ou seja, como forma de repetição. O discurso é fundamentado em duas tradições; a que o funda e a que ele mesmo (pouco a pouco) instaura.“

A capa (de um álbum) é o primeiro ponto de consumo em uma lógica tradicional da produção musical.

Análise computacional de imagem da capa de HDMA (Google Cloud Vision)

Em HDMA a estética da dicotomia é mantida. Não pela linguagem verbal do título, mas novamente pela linguagem visual -tal como em Heresia.

Enquanto em HDMA a imagem da capa indica a violência de grandes centros urbanos latino-americanos logo no primeiro olhar, a imagem de capa de Heresia em olhos desatentos poderia representar apenas a dualidade-duplicidade do artista. A simbologia de representar uma capa específica de Milton Nascimento, representa a territorialidade de Djonga.

Análise computacional de imagem da contracapa de HDMA (Google Cloud Vision)

Em HDMA, a assimilação de território ocorre pelo título, mas ao mesmo tempo representar “sua” área (Belo Horizonte) ela é especialmente desterritorializada, podendo ser a também “sua” (de quem ouve) área. Clube da Esquina foi um movimento regional, mas bairros e vilas produzem histórias em qualquer lugar.

A comunicação verbal nacional (não necessariamente “para todos”) refere-se a letreiros de pixação, reforçando o território da rua como seu ambiente natural.

Análise computacional de imagem da capa de HDMA (Google Cloud Vision)

Em Heresia, na foto está apenas Djonga (ainda que duas vezes). Em OMQQSD e em Ladrão, a dicotomia é estimulada pela figura da mulher, que indica ser complementar e fundamental ao seu discurso.

Já em HDMA, nem o seu eu, nem o seu em par. As histórias aqui sugerem que talvez não sejam mais contadas apenas pelo menino de OMQQSD, mas por todos os amigos de sua área.

5 amigos em uma viela qualquer, apenas um posa para foto, vestidos cada um com uma camisa de time, acessórios e tênis esportivos diferentes, mas todos identificáveis por marcas icônicas, parecem ir para um baile. 5 amigos caídos e baleados (111 tiros?), já sem roupas, parecem dizer que não voltam mais.

Cores dominantes da capa HDMA (Google Cloud Vision)

Na representação, são 5 amigos que se parecem pelo jeito de vestir, mas que fazem questão de diferenciar entre si justamente pela escolha da indumentária. Na outra representação, caídos no chão, é difícil de distinguir cada um.

A contra capa, mantém as cores dominantes da capa ainda que de forma mais clara, apresenta a mesma dicotomia na realidade deste círculo de amizade.

O skate como meio urbano, o fim da vida como obstáculo a ser pulado. Nelas estão também a lista das músicas, mas agora escritas em uma tipografia universal, não mais na escrita das ruas.

Antes de estudar os títulos, vale destacar a simbologia musical entre capa e contra capa, a capa como o trabalho do artista solo e a contra capa como os “bastidores” da obra (o backoffice para quem é mais corporativo).

Está mais que significado que por trás de um grande artista, está o trabalho de um grande produtor… eaí Coyote!!!

Análise computacional de imagem da contracapa de HDMA (Google Cloud Vision)

O que Djonga traz de Ladrão em sua representação fotográfica é o seu sorriso, não um sorriso alegre e puro, mas um sorriso mais sarcástico e malicioso pelo olhar, lembrando que a sua dialética está presente em todos as partes, atém nos signos mais básicos como o ato de sorrir para uma câmera.

As ruas se fazem presente, ainda que mais subjetivamente, nos nomes e significados das faixas. Ao lê-las, as dez uma seguida da outra, a primeira impressão é que as cinco primeiras faixas representam personagens e histórias de mais sociabilidade/socialização, enquanto as cinco finais representam ambientações mais íntimas ou individuais.

Análise computacional de imagem da capa de HDMA (Google Cloud Vision)

Os cinco primeiros títulos se apoiam mais em linguagem e referências as ruas: “O cara de óculos” como alguém avistado e projetado em um contexto social, em que um único acessório pode representar não só status e materialidade, mas sua presença discreta. Em entrevista recente, Djonga explica que na gíria local significa o “patrão de uma parada, o dono da situação”, uma posição social desejada por muitos. Sua vivência na área indica, em primeira pessoa, que “Não sei rezar” não é algo que impede/iu sua sobrevivência nas ruas.

“Oto patamá” tem a mesma simbologia de Clube da Esquina (ainda que não para as mesmas pessoas), pois referência novamente um ícone negro que transita pelo Rio de Janeiro e Belo Horizonte. São linguagens diferentes mas para novamente simbolizar não só o talento autoral, como a origem (local) deste talento.

Ser “Todo errado”, apesar de se tratar do narrador, sugere uma expressão falada pelos outros, justamente por comportamento e ações com outras pessoas. Novamente, simbolizando um círculo social, que não só conhece, mas também influencia na própria visão do narrador sobre ele mesmo.

Análise computacional de imagem da contracapa de HDMA (Google Cloud Vision)

“Gelo”, talvez o título com significado menos explícito até então, pode simbolizar o gelo no copo e o gelo no balde de bebidas, mantendo a ideia de socialização na área e, por que não, trazendo o status e auto estima em primeiro plano.

O “não” volta a aparecer no título da seguinte faixa, agora já na segunda metade do álbum. Olhos e ouvidos desatentos podem não se lembrar da narração de Cléber Machado na Fórmula 1, em 2002, simbolizando no “Hoje não” a vitória e ligeira soberania de um povo brasileiro sofrido, muitas vezes injustiçado. A narração, como as representações dos corpos no chão na capa do álbum, são o fim da narração e seu “hoje sim”. O contexto é de paradoxo, pois o “sim” aqui é negativo, enquanto o “não”, seria a surpresa positiva.

“Mania” e “Procuro alguém” parecem se conectar de forma sequencial, para tratar relacionamento afetivo, não necessariamente harmonioso e calmo; não esquecer que o narrador já havia aceito ser “Todo errado”. Um clímax e ruptura nos planos, ou na construção em que vinha se fazendo deste ser das ruas (agoram em momentos de relacionamento mais íntimo) faz com que as coisas fiquem a “Deus dará”, como que se perto do fim, abandonasse o controle da narrativa e assumisse o conformismo como norte. “amr sinto falta da nssa ksa” já é escrito em linguagem textual de troca de conversas pela internet.

A indicação da escrita “de celular” sugere a distância do narrador de sua área (onde sua casa é parte constituinte do local) é reforçada pelo sentido da frase, como um desabafo de saudade, mas também, aproveitando a simbologia do desterritorialismo, um questionamento de onde seria essa suposta “nossa casa”, tal como um roteiro de Aïnouz, onde o personagem principal ao sair de sua terra e regressar, já não se sente mais tão pertencente a sua área.

Parece paradoxal (e é) o álbum ser construído todo sobre as representações de amizade e pertencimento a seu local de criação e, de repente ser encerrado com uma dúvida se agora, apenas este local o basta. Não pela realidade violenta que os cerca, mas pelo tamanho do propósito que tirou esse narrador e artista de casa pela primeira vez, ainda que seja isso que ele deseja. Algo como ele mesmo sugere na metade do álbum, “ganhei fama e dinheiro, mas perdi minha liberdade/ foi pros meu fã, pelo menos não foi na mão dos home”.

3. DA ANÁLISE TEXTUAL

Após um breve ensaio daquilo que pode representar os sentidos do álbum HDMA dentro do contexto da obra do artista, a análise textual automatizada, léxico-semântica, busca encontrar padrões e particularidades na escrita de Djonga.

Não é uma forma simplista de reduzir as obras a seus padrões, pois como aponta a análise anterior, há diversos caminhos a serem aprofundados em questão de significado.

A análise é uma forma de demonstrar traços conscientes e quem sabe, inconscientes, no processo de composição e escrita do autor.

Enquanto as três faixas mais extensas pertençam a primeira metade de HDMA, as três menores são da segunda metade do álbum. As quatro faixas mais extensas, somam 50% do total de palavras, sendo apenas uma destas pertencente as últimas cinco faixas do álbum. As primeiras cinco faixas concentram 57% das palavras do álbum.

Amr sinto falta da nssa ksa e Mania, juntas equivalem ao volume de palavras de O cara de óculos e Gelo. Enquanto Mania tem 1/3 mais palavras que a faixa dez do álbum enquanto Ota Patamá tem uma vez e meia (o dobro mais metade) mais palavras que a menor faixa do álbum.

Em média, uma faixa de HDMA tem 536 palavras. Ordenando o álbum da faixa mais extensa a menor, percebe-se maiores diferenças entre uma faixa e outra entre Hoje não e Todo errado, quando a diferença é de 100 palavras. Essa variação volta a ocorrer apenas mais uma vez, de Mania para Amr sinto falta da nssa ksa.

Extensão textual de cada faixa do álbum HDMA

O cara de óculos é a música mais longa em duração mas Oto patamá é a mais extensa em palavras, são 12 segundos a menos, mas 56 palavras a mais entre a terceira e a primeira faixa.

Quando comparada com Gelo, Oto patamá tem 9 segundos a mais além das mesmas 56 palavras a mais.

A partir da sexta faixa, não apenas o tempo, mas o tamanho das letras diminuem, com exceção de Deus dará, quarta letra mais extensa, terceira música mais longa do álbum.

As maiores diferenças entre a linha e a barra, ou seja, maiores durações e menores extensões indicam quais as canções mais “cantadas” do álbum.

Mania é a única faixa ímpar do álbum que não é mais extensa que suas faixas anteriores e seguintes, enquanto Procuro alguém é a única faixa par que é mais extensa que sua faixa anterior.

Extensão textual x Duração em segundos de cada faixa do álbum HDMA

Por ser a faixa mais curta do álbum, é normal de se esperar que Amr sinto falta da nssa ksa seja a música com maior proporção de palavras únicas, 57,5%. Mas isso não é uma regra. Mania, a segunda faixa menos extensa do álbum é também a de menor densidade -34% e, portanto, conta com a maior repetição de palavras de forma proporcional a sua extensão.

Todo errado (53,5%), Procuro alguém (51,5%) e Amr sinto falta da nossa ksa, são as três faixas do álbum que apresentam densidade superior a 50%. Ou seja, nessas três faixas há proporcionalmente mais palavras únicas que palavras repetidas. Na sequência, de Oto patamá até a penúltima menor densidade, Não sei rezar, a média se mantém na casa dos 45% de palavras únicas, sendo variação entre elas mais sutil, máxima de 6%.

Comparando agora a proporção de palavras únicas e a minutagem das faixas, percebe-se como Mania é um divisor de águas no álbum, especialmente nas escolhas de composição do álbum.

As três últimas faixas, concentram em média, 52% de palavras únicas; menor repetição de discursos e recursos linguísticos.

A primeira metade tem densidade média 5% mais abaixa que este bloco final do álbum. Em média, as seis primeiras canções do álbum tem densidade média de 47%.

Duração e densidade textual de cada faixa do álbum HDMA

Quando se analisa em maior profundidade os principais termos, aqueles que mais se repetem ao longo do álbum, a primeira observação que se é feita é que a grande maioria destes termos é protagonista de uma única faixa (não necessariamente sendo do refrão). Ou seja, sua relevância frente ao álbum, em um primeiro olhar vem da sua relevância em uma determinada canção de HDMA.

Pode ser observado, com maior facilidade, este padrão com os termos “história” em “Oto Patamá” e, que é mote do título do álbum. O termo “mano”, apesar de certa distribuição ao longo do álbum, é central na faixa “Não sei rezar”, assim como “amigo” e “melhor”.

Na sequência de termos-chave por canção, “foda” em “Mania”; “otário” e “alcança” em “Hoje não” e, por fim, marcando refrões e seus respectivos títulos: “alguém” na oitava e “errado” na quarta canção.

Palavras que apresentam distribuição mais constante no álbum são, especialmente, “mão” que evolui pelo álbum, enquanto “cara” é mais frequente nas extremidades do álbum e “vou” que é mais usado no início e vai diminuindo gradativamente. “Tava” é definitivamente o termo que mais vai e volta durante HDMA.

Centralidade por grau de modularidade, não de intermediação –busca-se maior estruturação textual do que relações contextuais por proximidade (viés que refrãos podem potencializar).

O álbum pode ser agrupado então nos seguintes grupos homogêneos e distintos entre si, com os destacados termos-chave (nós centrais)

Análise de Redes dos termos do álbum HDMA

Cluster 1 (35% da amostra): “Não”, em segunda instância, “mas”

Cluster 2 (14% da amostra): “E”, menor relevância, “coisa” e “língua”.

Cluster 3 (13%): “Eu”, menor relevância, “tô”, “amar”

Cluster 4 (8%): “Se” e “vida” em menor destaque

Cluster 5: (6%): “Mais” “querer” e, “sempre” em menor destaque;

Cluster 6: (5%): “Que” e “mundo” em menor relevância

Cluster 7: (3%): “Ainda”

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O QUE HDMA TEM DE SEMELHANTE E ÚNICO COM OS DEMAIS ÁLBUNS DA DISCOGRAFIA DE DJONGA?

Em seu quarto álbum, Djonga mantém o padrão de dez faixas em cada lançamento.

Após um disco com maior volume de faixas solo, repete a proporção de faixas com participação de OMQQSD.

São seus dois álbuns com maior representatividade de participações de outros artistas. A média de participações em sua discografia parece próxima do que vimos e escutamos em Heresia

Desde o lançamento de OMQQSD, o volume de palavras por álbum vem caindo, apesar do total de faixas (dez) se manter. De OMQQSD para Ladrão, 13% menos palavras (-906) e, de Ladrão para HDMA, novamente 13% de decréscimo no total de palavras (-757). Proporcionalmente, a mesma diminuição de palavras entre cada álbum: falando menos para explicar mais?

Ladrão é o álbum com maior volume e maior representatividade de palavras únicas. Em HDMA, adivinhe, 13% menos palavras únicas que o volume observado em seu terceiro álbum (-207).

Considera-se o corpus textual como todas as letras em um único texto. Calcula-se a densidade de um corpus, pela proporção de palavras únicas pelo total de palavras analisadas. Em linhas gerais, HDMA manteve a mesma proporção de palavras únicas que Ladrão.

Enquanto Heresia é o álbum com menor proporção de repetição de palavras de sua discografia, OMQQSD é o que menos utiliza (proporcionalmente) palavras únicas. Aqui, a média da discografia se aproxima do padrão observado nos últimos dois álbuns.

Em texto corrido, HDMA é duas músicas e meia mais longo que Heresia, enquanto suas três canções mais extensas, “Oto Patamá”, “O cara de óculos” e “Gelo”, equivalem em texto, a “Esquimó”, “Fantasma”, “Corre das notas” e “O mundo é nosso”.

É quase duas músicas menor que Ladrão e, quando comparado a OMQQSD, HDMA é praticamente quatro músicas mais curto em extensão textual. Da mesma forma, 1010, a letra mais cumprida da atual discografia, tem tamanho superior as duas faixas mais longas (em texto) de HDMA, “Oto Patamá” e “O cara de óculos”. Enquanto 1010 tem a extensão das três maiores faixas de Heresia na sequência, “Esquimó”, “Fantasma” e “Corre das Notas”, ela é equivalente a duas faixas de OMQQSD, “Voz” e “Deus e o Diabo na Terra do Sol”.

Extensão textual da obra de Djonga (2020)

Evolução de palavras por música na discografia mostra um padrão que, ocasionalmente, a partir da terceira música de cada álbum, o volume de palavras aumenta até aproximadamente a sétima, oitava música, para cair significativamente na penúltima música (número nove, considerando que todos os álbuns têm dez faixas).

Se é isolado os padrões de OMQQSD percebe-se como este pico na primeira metade, que se sustenta até o final do álbum é um padrão, ao menos, na organização da narrativa de cada obra. Destaca-se também como OMQQSD é um ponto fora da curva como obra, tendo padrões de extensão textual completamente particulares, enquanto Ladrão e HDMA parecem, quase que pelo acaso, obedecer um padrão mais recorrente de estrutura das letras.

Extensão faixa a faixa da obra de Djonga (2020)

Apesar da imagem representada aqui dar a impressão de termos dados espelhados de forma inversa (como um espelho), há atenção ao assumir que mais palavras (maior extensão da faixa) é igual a maior repetição de palavras e termos (menor densidade, menor proporção de palavras únicas pelo total da faixa).

As curvas tem inclinação e vales inversamente proporcionais ao anterior, porém, os relação inversa não acontecem nas mesmas músicas. Por exemplo, enquanto 1010 (OMQQSD) é a faixa de maior inclinação de extensão, neste mesmo álbum, a menor densidade é da canção “De Lá”, onde o refrão e poucos versos marcam sua lírica. Em HDMA, enquanto “Oto Patamá” é a mais extensa, a menor densidade é a de “Mania”, também com refrão e repetição em evidência.

Densidade faixa a faixa da obra de Djonga (2020)

Falando-se tanto em extensão, a exploração de comparação textual e minutagem das faixas fez-se necessária por si só.

HDMA têm a maior constância e menor variação em tempo de uma faixa pra outra, sendo 3’31” a média de cada uma das faixas do álbum –a música mais longa tem 4’10” (“O cara de óculos”) e a mais curta, 2’17” (“Amr sinto falta de nssa ksa”), respectivamente a primeira e última faixa do disco.

O padrão é mais heterogêneo em Ladrão, onde as músicas com mais texto têm uma duração significativa maior que o restante do álbum. Um pouco parecido com o que ocorre em Heresia, mas completamente diferente de OMQQSD, onde as duas músicas mais extensas em tempo (“Junho de 94” e “Ufa!’)antecedem a maior música em extensão textual (“1010”) .

Quando se compara a minutagem com densidade, alguns padrões gerais podem ser desenhados:

Existe certa crescente do início do álbum para sua primeira metade, de forma que extensão e proporção de palavras únicas permanece constante e elevada para o álbum até a sua segunda metade, quando há uma queda significativa, que pode implicar em um crescimento –em densidade, nas três últimas músicas de cada álbum, apesar de se concluir anteriormente que a extensão das músicas têm maior variação na penúltima música de cada lançamento.

O texto não se propõe a uma análise de RAP e ou uma análise do cantor.

Não há considerações que possam ir além da admiração e consistência por um trabalho artístico como esse. A proposta destes ensaios é se aproveitar da contemporaneidade dos fenômenos para propor e estimular discussões além do comum, de certa forma a propor novos olhos atentos de possibilidade de aplicações práticas de conceptualizações e pressupostos teóricos do campo da comunicação.

O autor prefere publicar o texto, ainda que pareça sem final, pois hoje, 13 de março de 2021, às 12h (horário de Brasília), um novo capítulo começará a ser escrito nesta história e, com certeza novos debates virão… NU!

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