Haveria algo mais a ser feito?

Saber que uma tragédia se anuncia no horizonte e nada fazer, não seria isso uma forma de cumplicidade?

Saber-se impotente, saber que é uma ovelha que acorda todo dia e passa oito, dez, doze horas fugindo do matadouro?

E que, por isso mesmo, não encontra energia nem espaço mental para tomar uma iniciativa?

Essas questões passam por mim agora. Fui ao Museu Nacional apenas uma vez, em oito anos no Rio de Janeiro. O suficiente para ficar maravilhado com a grandeza do acervo que se perdeu.

Nossa Biblioteca de Alexandria, queimada não por muçulmanos sedentos por conquista, mas pelas chamas do descaso, da ignorância, do oportunismo obtuso.

Contando sempre com nossa complacência de ovelhas assalariadas.

Recordo novamente de Alexandria. Destruir a cultura de um povo é a melhor forma de dominá-lo. Quem tocou fogo no maior tesouro da antiguidade tinha justamente esse intuito.

E quem tocou fogo em 200 anos de história do Brasil?

Seria a nossa elite política, queimando em ignorância, corrupção e descaso, parte de um plano maior de destruição cultural, ou apenas reflexo de uma mesma destruição cuja obra já está completa?

Talvez o fogo no Museu seja apenas a consumação material de uma trabalho silencioso de putrefação cultural.

De toda forma, não é possível permitir fazer tábula rasa de nossa história.

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