Todos estamos em alto-mar, sujeitos à tempestades e calmarias. Talvez nunca mais encontremos terra firme.

A diferença é se estamos conscientes ou não desse fato. Podemos permanecer nos porões de uma grande embarcação, remando em troca de porções regulares de água e comida, talvez algum descanso periódico. Esse trabalho é parte do que faz a nau se mover, é digno e justo portanto.

Mas não nos permite contemplar o oceano. Se tudo o que sabemos são remos e músculos, como ter dimensão de nossa pequeneza frente à imensidão do mar?

O fato é que alguns tomam para si o timão de suas vidas, levantam as velas e se lançam à grande aventura.

Quando escolhemos nos expor à crueza dessa realidade, tomar contato com todos os riscos do que é navegar, passamos a viver plenamente e ganhamos uma força que não conhecíamos. Talvez por sempre ter estado lá, no mais profundo de nós mesmos, sem nunca, porém, ter sido chamada à ação.

Passamos a saber do naufrágio iminente, mas contemplamos uma beleza e uma força descomunal, maior que tudo que podemos conceber, e não nos enxergamos mais. Somos apenas parte de tudo.

É o que nos permite viver e morrer, em paz.

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