Lucas Diana
pó e cia.
Published in
2 min readJul 3, 2017

--

do belíssimo Rafael Matos

uns maços de estrofes e alguns versos picados

quantas texturas existem em você agora?
a saia de veludo
os sapatos de couro sintético
(porque nada tem a ver os animais com sua beleza
a não ser os passarinhos)
a calcinha de seda e os seios de pele nua
os cabelos cortados sem simetria
a franja cobrindo a mancha de nascença na testa
fios dançando finos como folhas de palmeiras em uma praia
eu não sei como é uma praia
mas eu sei que você é bonita
essa época do ano faz frio em quase toda a europa
é verão dentro de mim
a bola de fogo o astro rei a esfera de puro calor e energia
eu sempre confundi o nascer com o pôr do sol
eu te disse isso da primeira vez que a gente se encontrou
parada no meio exato do céu
sem saber se está vindo ou indo embora

não sei enxergar com os olhos
esse par de esferas tolas
o nariz enxerga o cheiro do rosto
o olhar de quarta-feira ao meio-dia
eu tenho esse olhar de quarta-feira ao meio-dia
a metade da metade de uma semana inteira
globos oculares semicerrados
pálpebras aprisionando meias memórias
o pior já passou
a incerteza ainda falta
(o fim de semana está por vir)
o pior já passou
o tempo passou
aquela geleia que você colocou na bolsa
enquanto eu distraía a caixa do supermercado
agora tem sabor de fora da validade e mel
nossa mobília é um vinho
de rótulo mais impronunciável que o seu sobrenome
e mais barato que eu
o gato ainda não tem nome
o cacto não tem água
o sol entra pela janela nua da sala
eu seguro a agulha
você segura a linha
a gente costura toda a cortina do mundo

é inverno em quase toda a europa
eu não sei cuidar das plantas
me deixe chorar

--

--

Lucas Diana
pó e cia.

redator publicitário, poeta de merda, bom filho e cuzão.