Sem Firulas entrevista André Elias — criador do Elifoot e responsável por milhares de noites passadas em claro

Andre Vidiz
Sem Firulas
Published in
6 min readApr 25, 2016

Quem tem entre 25 e 35 anos e gosta de futebol ou de videogames certamente se lembra do Elifoot. Mais do que se lembrar, é muito provável que essa pessoa tenha um carinho especial pelo jogo, de modo que a simples menção deste enigmático nome faça com que um sorriso surja espontaneamente no rosto da, agora nostálgica, pessoa. O primeiro grande jogo estilo manager marcou época e até hoje é citado nas rodas de torcedores. Pois bem, ele agora está de volta, tanto para PC quanto para celular (viva o mundo digital, que faz com que aquilo que parecia ultrapassado ontem seja considerado moderno hoje!). Para resgatar sua história o Sem Firulas conversou com a mente por trás dessa verdadeira obra-prima! Com vocês: André Elias!

Sem Firulas: Bom dia André, é um prazer para o Sem Firulas falar com você. Primeiro gostaríamos de agradecê-lo pelo Elifoot II e Elifoot 98, eles certamente mudaram a infância e a relação com o futebol de milhares de brasileiros. A sensação de dirigir um time era algo lúdico e recompensador e pensar que o jogo atingia isso de maneira tão simples torna tudo ainda mais mágico. Qual era a importância da simplicidade para o jogo? Você alguma vez pensou em deixá-lo mais complexo?

André Elias: Bom dia e muito obrigado pela entrevista. O Elifoot iniciou para o ZX Spectrum em 1987, muito popular na Europa, prosseguindo depois para o PC em 1990 como ELIFOOT I e posteriormente como Elifoot II. Na realidade era simples, e desta forma se passava uma tarde jogando sem cansar.

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SF: O Elifoot 98 foi certamente o mais famoso da série, mas antes dele o Elifoot II encantou muitos garotos que começavam a se aventurar no mundo digital. Existiu um Elifoot 1? Qual a história dele?

AE: O Elifoot I foi o primeiro Elifoot para PC. Na realidade sempre se chamou apenas Elifoot. A versão II foi uma evolução, com introdução da cor e organização melhor do interface.

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SF: No final dos anos 90 pagar por qualquer coisa virtual parecia fora de propósito e não havia transações online de cartão de crédito. Nesse cenário o Elifoot 98 propunha que os usuários comprassem licenças. Como foi a procura por elas? Como você encarou o surgimento de geradores de licenças grátis na época? E hoje, como vê a situação? (PS: o Sem Firulas gostaria de pagar os EU 10,00 de uma licença para simbolicamente diminuir a dívida dos internautas com o Elifoot)

AE: O valor tinha de ser enviado por correio, ou alternativamente por depósito ou transferência bancária, pois não havia transações eletrónicas na altura. O Elifoot disponibilizou o pagamento com cartão de crédito em 2002. Os geradores de licenças contribuem para a pirataria, mas isso acabou por tornar o Elifoot um clássico, pois todos jogaram. E esse é o problema do balanceamento entre número de jogadores e rentabilidade.

SF: E do lado contrário, você teve algum problema? Algum time, jogador ou campeonato reclamou de ter seus nomes usados no jogo?

AE: Nenhum.

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SF: Os jogadores de Elifoot observavam os acontecimentos do jogo e com base neles montavam teorias e crenças a respeito de seu funcionamento, mais ou menos como fazemos na vida real com tantos assuntos. Você se sentia um pouco como Deus, vendo essas teorias e sendo o único com acesso direto à verdade?

AE: O segredo do Elifoot é que eu nunca tive acesso direto à verdade. Compare-me ao inventor do xadrez: o jogo é simples, mas há melhores jogadores do que o inventor. O sucesso foi isso mesmo, o Criador teve de aprender a jogar.

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SF: Quais dessas teorias você mais gostava?

AE: Inventavam todo o tipo de teorias, dependia dos resultados que cada um obtivesse. Táticas, substituições, tudo e mais alguma coisa.

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SF: Você pode revelar um pouco a respeito do funcionamento do jogo? Muita gente nos pediu para perguntar se a tática usada interferia na quantidade de gols marcados e sofridos ou se era melhor ir sempre de Alt+M, se o nome do jogador mudava a sua performance (quem nunca colocou o próprio nome no Ole Gunnar e viu o atacante perder seu talento?), como era calculado o resultado de uma partida, etc.

AE: É muito semelhante à Coca-Cola. Traga-me a fórmula e consigo lhe explicar tudo. (risos)

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SF: Qual era o tamanho da influência da sorte no resultado de um jogo?

AE: Tem de der um pouco de sorte, ou assim um time fraco nunca conseguiria pontos, né?

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SF: Uma das primeiras comunidades que nós vimos surgir na internet foi a de editores de times e campeonatos para Elifoot 98. Como foi a relação com essa galera? E a montagem da 1a base de times e jogadores, deu muito trabalho?

AE: A primeira deu bastante, foi um trabalho de pesquisa extenso. Depois, essas comunidades ajudaram a aumentar e atualizar a base de dados, e deram um bom contributo para as versões oficiais.

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SF: Como é ter concebido e desenvolvido algo tão popular? Você sente que tem uma conexão com as pessoas que jogaram tanto seu jogo?

AE: Sim, muita. Agora que tenho página oficial no Facebook, tiro sempre um pouco para falar (chat) diretamente com os fãs. Adoram!

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SF: Você diria que Ole Gunnar Solskjaer e Shalimov formavam a dupla de ataque dos sonhos do Elifoot?

AE: Houve várias. Depende da base de dados que tinham. Cada país, cada região, tinha mitos diferentes.

Ole Gunnar Solskjaer, o cordeirinho, e Shalimov*

SF: Você usou o Cheat O’Matic alguma vez? O que achava da existência dele?

AE: Foi bom e foi mau. Na realidade, há jogadores que só sabem jogar com Cheat. Infelizmente, tira um pouco da verdade desportiva.

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SF: O cálculo das partidas do Elifoot para celular (Android e iOS) é idêntico ao 98 ou tem diferenças? Quais?

AE: Tem poucas diferenças, visto que a simplicidade regressou a 98. É bastante semelhante, mas com a inteligência (artifical) um pouco mais evoluída..

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SF: Você ainda joga Elifoot? Qual versão?

AE: Sim. Agora jogo Elifoot 98 (16) para os celulares.

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SF: Muito obrigado pelo tempo, André. Desejamos sucesso eterno a esse jogo que de certa forma fez parte da nosso formação como torcedores, jogadores e, por que não?, pessoas. Estamos sempre disponíveis para ajudar no que precisar: divulgação de novos projetos, procura de suporte em qualquer área, etc. Também temos um podcast semanal e gostaríamos de entrevistá-lo por Skype em alguma edição. Você topa? Quer mandar mais algum recado?

AE: Agradeço à Equipe do Sem Firulas pela dedicação ao Elifoot.

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