Precisamos conversar sobre a Monetização do Medium

André Silva
O Construtor de Fluxos
7 min readApr 29, 2016

Prezado Ev Williams e equipe do Medium,

Amamos o Medium, somos usuários! Consideramos de grande importância o assunto manifesto abaixo e com certa audácia, podemos aqui representar em nome de todos.

Sabemos o quanto prezam pelo usuário e pela qualidade de sua experiência. Nossa garantia é a de que isto, por si só, justifique até a última linha que se segue daqui em diante.

Nas últimas semanas, foi possível notar alguma movimentação da equipe do Medium para, ao que parece, encontrar (ou testar) estratégias de monetização. Sabemos, contudo, que ainda não há nada definido, mas que talvez já existam ações e esforços no sentido cujo qual as análises vão determinando. Esta carta então deve servir também à análise.

O Medium é parte de uma tendência de trabalho e mercado que vai mudando aos poucos a realidade. O trabalho intelectual vem ganhando valor e se expandindo em possibilidades ante as formas produtivas tradicionais de se ganhar a vida.

Para trazer clareza ao que queremos expor, nos permita fazer uso do caso de outra empresa de grande destaque, o Youtube. O Youtube vem demonstrando ser uma força poderosa de transformação do meio de subsistência. A produção de vídeos, as visualizações, os canais, crescem dia após dia e, apesar do enorme volume que representa, ainda é incipiente. No Brasil, por exemplo, há muito pouco investimento e percepção de valor nesta nova janela para atuação empreendedora. Tem sido visto como estratégia de Marketing, mas, comparando a um estado ótimo, poucos ainda apostam diretamente no Youtube como negócio e via de renda sustentável.

O foco em se fazer referência ao Youtube é o de refletir o papel do Medium e as novas possibilidades que se apontam e que podem surgir da evolução do trabalho intelectual pela internet, sob novos arranjos de monetização. São empresas bem diferentes, mas a referência é pela lógica adotada, que está disponível a todas as empresas vanguardistas do século XXI (ao qual o Medium é das principais), porque esta lógica absolutamente não pode ter proprietário.

O Medium neste contexto potencial pode tornar-se um abrigo de crescimento na web, tal como o Youtube tem se tornado, se souber direcionar seu desenvolvimento. Depende de que ele se faça como o Youtube (em certo sentido). O Youtube possibilita a monetização para o usuário. A lógica é, quanto mais visualizações, curtidas, inscritos, o Youtube ganha com propagandas e o usuário que é o produtor do vídeo ganha uma comissão por isso. Quer dizer, o Youtube oferece a plataforma grátis e vende a produção, o usuário cuida de produzir, e os lucros são divididos entre usuário e Youtube. Se a porcentagem é justa ou injusta não vem ao caso agora. O ponto é: a internet possibilita que quem tenha a ferramenta ofereça para que o “artista” utilize em sua produção. E neste caso o sentido de artista é amplo, cabe ensinar ou fazer qualquer coisa, até mesmo mostrar como se dobra uma camisa.

O aspecto principal é que há um campo inexplorado de empresas que podem fazer o mesmo que o Youtube fez. O Medium trabalha em cima de um destes campos. A escrita como ocorre aqui, revela a mesma natureza de possibilidade de ganhos que a do Youtube.

As revistas (coleções) poderiam vender anúncios sem que isto mine a estética como se teme. Por quê não? Ou ainda, cada revista pode ter seu sistema de financiamento coletivo embutido. O leitor escolhe quanto quer doar pra manter a produção. A divisão de lucros pode ser obrigatória, por views/reads de textos. O usuário que quiser receber ativa a monetização, como no Youtube. Os Editores/Donos da revista ganham uma porcentagem justa por terem criado, por manterem, divulgarem e organizarem a revista, arranjado os temas, encontrando bons escritores, etc. E a empresa Medium ganha de quebra sua porcentagem, por possibilitar a estrutura e tudo mais. Tudo na porcentagem que se possa concluir como justa a todos. Os demais pormenores aos quais aprofundar agora tornaria o texto muito extenso, todos terão solução.

Isso permite inclusive se incrementar cada vez mais a proposta Medium, uma vez que torna-se interessante para todas as partes rumar à melhor experiência de produção possível (a plataforma possivelmente irá se tornar algo como uma incubadora para empreendimentos e projetos). Isto iria representar parte desta revolução do trabalho também. Acho completamente lógico que escrever para o Medium amanhã se torne exclusivamente o trabalho de alguns, como hoje existem inúmeros Youtubers por aí que vivem disso.

Tenho certeza que quando perguntamos pra inúmeros (centenas ou milhares) de bons escritores do Medium se eles gostariam de viver só disso, muitos, como nós, afirmariam: Certamente! E com muito prazer!

Enquanto o Medium não tomar atitude neste sentido estará correndo o risco de que outro se adiante, ainda que com uma menor estrutura. É, porém, real e muito tênue a linha que separa esta possibilidade de gigantes como a Google. Por isto, vale estar sempre um passo à frente. Estar um passo à frente é “contratar” o usuário, no sentido de efetivamente permitir que ele empreenda com você. A gigante Google é gigante porque fez e faz isso. Porque ela entendeu a lógica vigente e abriu as portas para seu melhor amigo: este próprio usuário.

É preciso nos esforçarmos neste sentido, de se encontrar meios e maneiras de inovar nas possibilidades de rentabilizar as criações e a criatividade. Isso passa pela necessidade de interagirmos mais abertamente para conjugar, cocriar e compartilhar experiências e conhecimentos sem receios autorais . Mas sobretudo, para se criar conhecimento novo, o que ocorre quando construímos uma rotina, ou melhor, uma convivência de interações, encontros e situações que tornem frequentes o conversar entre diferentes pessoas e pensares. E isto também traduz a interação empresa-usuário.

Dissemos inicialmente: ao que nos parece (e como era de se esperar) a equipe do Medium está dirigindo esforços para a monetização. Mas uma contradição e o grande motivo pelo qual direcionamos esta carta aberta é o de tentarmos evitar que o Medium deixe de ir ao Maximum ao trabalhar a monetização taxando a inscrição com uma conta premium. Esta possibilidade em se concretizando passaria longe da lógica do Youtube. Talvez perto da do Facebook.

O Youtube gera seus ganhos gerando fluxos. O Facebook gera seus ganhos restringindo fluxos.

Fazer uma versão premium ou inscrição paga seria muito triste! Num sentido mais apaixonado: Estragaria tudo!

Infelizmente ainda poucas empresas perceberam e estão agindo dentro do novo viés do Prosumidor, o usuário que é, e quer ser, simultaneamente Produtor e Consumidor de seu consumo. Infelizmente ainda poucas empresas entenderam que a monetização pela internet deve se desenhar sempre envolvendo a gratuidade (a menos que isto seja impossível).
E no caso do Medium é plenamente possível!

Isso nos fez pensar que talvez esteja faltando escutar os usuários. Falta voltar-se à inovação aberta. Abrir a quem tenha algo a dizer pra ajudar.

Abrir mão da gratuidade hoje, não vai te eliminar do mercado, tão pouco te deixar sem lucrar muito, mas é avesso à tendência (e sabe-se lá o que isto vai significar amanhã). Não representa grande ameaça agora, principalmente ao que se quer garantir a curto prazo (dinheiro e muito lucro no bolso!), mas pode não proporcionar o que nem se sabe que surgiria se se jogasse melhor, não restringindo o fluxo.

A internet faz, em sua dinâmica, acontecer a rede social (relação entre pessoas). Tem-se harmonia quando se segue esta dinâmica. Tem-se “atrito” toda vez que se afunila, restringe ou corta fluxos criando barreiras (por exemplo, uma inscrição paga). É como expulsar uma parcela de pessoas do mundo, mundo que antes permitia a entrada de todos. É como anunciar no microfone, num belo dia: “a partir de hoje, não aceitamos [por exemplo] desempregados entre nós.” Aí expulsam-se os desempregados criando uma nova terra que só entra quem tem a chave da sociedade secreta.

Quer dizer, nesse caso, pra muita gente vai continuar tudo bem, principalmente quem estiver disposto a pagar. Pra outros tantos não fará menos ou mais sentido, mas certo é que perder-se-á a possibilidade de “fidelizar” pessoas (se é que este termo é adequado), de construir valor sustentável com uma inovação sustentável. É ir contra a correnteza do futuro. Isto, se acontecer, manterá aberta a porta pra que surja outra empresa, como já dissemos, focada nas melhorias que, assim, se deixa de fazer.

Usando nossa outra referência, o Facebook ainda não ganhou um concorrente a altura. Até quando? Talvez a questão não seja realmente se terá um concorrente a altura ou não, mas o significado social a que pode perder ou alcançar. Hoje o Youtube significa muito pra muita gente. Muita gente vive disso e a Google é verdadeiramente admirada por muitos por esta lógica mais universal, compartilhada. O Facebook, embora tantos de nós estejam sempre por lá (pois todo mundo lá está), tem deixado de ser alvo diário de muitos, tem frequentemente levado alguns a desertarem da plataforma e não tem criado a relação de sentido que o Google consegue criar, vide as notícias de perdas reais de usuários, e de previsões de tendências que apontam perda de 80% destes até 2017 (que nós até duvidamos do número).

Focar no usuário é produzir um projeto conjunto com este, traz também um resultado social e potencialmente é o que leva ao estado ótimo, o Youtube que o diga. Mas a capacidade de transformar e influenciar a sociedade através de um projeto é também uma escolha que infelizmente hoje ainda se contrapõe aos interesses ou ao excesso de apego à questão imediata do lucro, ou da necessidade de anular o risco que talvez exista de se trabalhar com a gratuidade, por exemplo, o de não se ter estrutura para acompanhar o crescimento vertiginoso do volume de usuários.

Acreditamos, contudo, que o Medium esteja preparado para lidar com este crescimento, nos dispomos a ajudar começando por esta carta e, assim, assinamos com nossa fé.

Respeitosamente,

Fabrício Castro, André Silva e
Lucas Domáradzkí — https://www.facebook.com/profile.php?id=1693048246&fref=ts

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André Silva
O Construtor de Fluxos

Pensador, investigador e “filosofista”. Pesquisa a ciência, a consciência, o espírito, linguagem, cultura, redes, etc. Mestre em C.I. Instagram: @andrefonsis