Estação Tamanduateí da Linha 2-Verde

Por que escrevemos textos de opinião?

Seis pontos básicos para começo de conversa.

COMMU
O Coletivo em Movimento
5 min readJan 25, 2015

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a) A imprensa não cobre todos os aspectos do transporte público

Se jornais como Folha de S.Paulo e Estadão deixam algumas lacunas, alguém precisa supri-las, melhor ainda quando não se tem um automóvel ou condomínio fechado sendo anunciado bem ao lado da manchete. Menos rabo preso significa mais chances de desagradar setores que ajudam a criar os problemas, mas também significa mostrar outros pontos de vista para a população. Veja um exemplo de “acidente de percurso” da Folha de S.Paulo:

b) O transporte público em São Paulo nem sempre é bom

Se nem sempre é bom, significa que tem algo a ser dito, sugerido, reclamado, da superlotação de linhas alimentadoras na Linha 3–Vermelha (Palmeiras-Barra Funda × Corinthians-Itaquera) ao atraso de obras no extremo da Linha 7-Rubi (Luz × Francisco Morato/Jundiaí), passando pelos rumos da expansão e do relacionamento com as empresas.

c) A infraestrutura é desigual, há um abismo diante de nós

A capital tem mais de 15 mil km de vias e existe, por uma parcela, gritaria por causa de um punhado (uma centena de quilômetros) de faixas exclusivas, corredores de ônibus, ciclofaixas e ciclovias. Pior: a CPTM mal tem 300 km, dos quais apenas 150 km estão dentro da capital e o Metrô se esforça para chegar a 100 km.

Parece justo? O buraco tende a ficar ainda mais profundo quando saímos da capital, quando tentamos viajar em feriados prolongados (os famigerados feriadões) e inúmeros outros momentos. Se tem pista expressa para carro, por qual motivo não tem linha expressa de metrô ou de ônibus? Se tem rodovia e terminal rodoviário, por qual motivo a CPTM continua patinando para lançar sua rede de trens regionais?

Se assumirmos que está tudo bem, a evolução da infraestrutura vai continuar patinando, tempo, saúde e dinheiro serão perdidos, oportunidades serão deixadas de lado.

d) O automóvel precisa de um contra-ponto

O debate não está balanceado. Enquanto tentamos independentemente qualificar a discussão sobre o transporte coletivo e seu papel para a cidade, são vomitadas propagandas a cada minuto sobre como é bom comprar um carro e sobre quão “barato” ficou comprar um veículo zero km, as mesmas montadoras anunciam em revistas e jornais também, que depois falam do transporte coletivo vendendo uma isenção que não passa do velho e bom discurso que repete que o transporte coletivo não passa de um ritual de passagem antes da compra do carro.

e) Falar de transporte coletivo não é tabu e também não é tabu optar por ficar sem carro

Há uma cultura em São Paulo que tenta implicar que você não pode se divertir sem um carro, que não ter carro é sinal de pobreza e blá, blá, blá. Carro não é status, alimentar a ideia de status do carro significa continuar minando a construção de uma cidade de qualidade, na qual se pode andar a pé tranquilamente, se tem segurança para andar se bicicleta e o transporte coletivo é abrangente e de qualidade invejável.

Há quem diga que “São Paulo é uma cidade de terceiro mundo”, então fica a pergunta: para ser primeiro mundo não é preciso começar por algum lugar? Estamos começando: pelo debate, pois reclamar não basta mais.

f) Transporte público é feito para quem usa transporte público, não é feito para a cidade

Eis a dura realidade. Traduzindo em miúdos: é feito para você que se sujeita a passar sufoco, pois a cidade foi moldada para quem tem carro no final das contas, com um agravante: o trânsito é sempre tratado como consequência da falta de infraestrutura, nunca como problema do tipo de cidade que tem sido feita ou do tipo de cultura (ruim) que está sendo criada e mantida. É uma das premissas mais nefastas que está escancarada ao longo da capital e das regiões metropolitanas do Estado de São Paulo.

Tem mudado? Talvez tenha mudado um pouco, mas pode mudar muito mais.

Em suma: há um longo caminho a percorrer e queremos ser parte dele, como é natural (ou deveria ser) numa democracia, então vamos escrevendo (o que não significa que só escrevemos ou que vamos escrever para sempre).

por Caio César

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