Leonardo Dominiscki
O Parrote
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4 min readDec 11, 2014

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ހ Dez, 11 2014 ހ

Você não é um estuprador

Se você não se identificou com o título do texto, saia da internet e vá procurar um psiquiatra.

O senhor simpático da imagem acima é um célebre comediante, ator e cantor americano. Ganhador de nove Grammys, três Emmys e, se todas as inúmeras acusações forem verdadeiras, um maníaco sexual que atuou em uma coleção de estupros em série. Também, um homem.

Um estimado de 99% dos casos de estupro são protagonizados pelo gênero masculino, com 91% de vítimas do gênero feminino. Visualize isto agora dentro de sua cabeça, em todo o globo terrestre existem homens forçando mulheres ao ato sexual, incluindo uma variedade de alvos, métodos, e até faixa etária.

Torço para que não, mas existe uma grande possibilidade de alguém do seu círculo social já ter sofrido abuso sexual e talvez você nem saiba disso. E nem as estatísticas sabem disso.

O número de casos de mulheres vítimas do estupro ultrapassou os 50 mil em 2012. O que podemos, por simples dedução, acreditar que esse número não representa o todo, visto que é provável que ainda exista um bom número de casos que não são denunciados, principalmente quando envolvem familiares e parceiros afetivos. Em 2010, o Center of Diseases Control registrou 1 milhão e 300 mil incidentes de abuso sexual de parceiros ou ex-parceiros nos Estados Unidos.

Mas o que você tem a ver com isso?

Cultura do estupro

O fato dos homens serem quase unânimes entre os estupradores, pode ser observado diante de dois motivos principais: o padrão de porte físico mais avantajado e a cultura de objetificação da mulher. E nesse último ponto, nós todos temos muito a ver com isso. Fortalecer o machismo, fortalece a objetificação da mulher, que fortalece uma perspectiva indiferente diante do estupro. Quanto mais indiferente é a perspectiva sobre o estupro, mais casos tendem a ser ocorridos.

Mas há mais do que isso causando influência. Quando culpa-se a vítima, quando faz-se piada com o tema, quando diz-se que mulher tem que se dar ao respeito, quando define-se masculinidade como sexualmente agressiva, e principalmente quando não há um posicionamento pessoal de repugnância ao abuso sexual. É ingenuidade achar que opiniões e declarações supostamente passivas não são capazes de desencadear em ações agressivas que vitimizam um número tão grande mulheres. Nunca é tarde para aprender que a violência psicológica é o caminho até a violência física.

Nenhum homem é capaz de conseguir reproduzir as experiências que toda mulher passa em decorrência da iminência da violência sexual. Não é capaz de saber exatamente qual é o sentimento de estar exposto ao abuso sexual, não só nas ruas, como nos ambientes que frequenta, visto que em 73% dos casos o agressor é conhecido da vítima. E mesmo que o homem que lê isto agora, não seja um potencial estuprador, é necessário reconhecer o tema como algo a ser combatido.

Comprando votos com o estupro

Bolsonaro novamente volta a ter a imagem estampada num texto escrito por mim. Não à toa, é o personagem mais relevante e representativo do pensamento conservador, que inclui a conivência ao estupro. Na última terceira-feira (9) se referiu à deputada Maria do Rosário (PT-RS), afirmando que não a estupraria porque ela não merece. E isso é incitação.

A deputada Manuela D´Ávila (PC do B-RS) traduziu as palavras do deputado de maneira bem esclarecedora pelo twitter: “Quando ele diz que ela não merece ser estuprada diz subliminarmente que algumas mulheres merecem e que ele é potencial estuprador.”

A caricatura de Bolsonaro não é difícil destrinchar, por mais que ele aparentemente seja tão conservador quanto se apresenta, como potencial candidato à presidência em 2018, ele já se aproveita de todo tipo de escândalo e polêmica para ganhar a admiração de seus seguidores reacionários e moralistas.

E dessa vez ele ganhou votos com o estupro.

Cinquenta mil estupros anuais.

Duzentos mil até 2018.

Leonardo Dominiscki

O PARROTE

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