A Segunda Temporada Foi Mais Justa Que Elétrica

Vítor Benigno
Água de Salsicha
Published in
5 min readApr 8, 2016

Demolidor conseguiu manter o padrão da primeira temporada o que era uma tarefa difícil. Bom, a partir daqui se você não assistiu a segunda temporada, pare de ler.

Fantástica. Só não superou a primeira pelo limite de episódios. Dois personagens de grande importância na história foram apresentados de forma extremamente detalhada, como era necessário, além da natural continuação do enredo. Portanto, era fundamental um número maior de episódios. Excetuando este fator, não há do que reclamar. Analisaremos a temporada nessas 3 partes: Justiceiro, Elektra e Continuação da história.

Justiceiro

Se a segunda temporada se chamasse Punisher ao invés de Daredevil, não seria nenhum exagero. Jon Bernthal incorporou o personagem dos quadrinhos, é verdade que o roteiro e direção foram de grande valia, mas sua atuação foi excelente. Tudo bem que falar que o ator é o melhor Justiceiro feito até então, não é um grande feito vide as outras tentativas fracassadas de se representar o personagem, mas Jon Bernthal chamou a responsabilidade para si e levou nas costas boa parte da história da segunda temporada. O Justiceiro foi sendo construído ao longo da série, ele não chegou pronto, fomos aprendendo sobre ele aos poucos e entendendo seus questionamentos e razões. O debate filosófico no terceiro capítulo entre ele, Frank Castle e o Demolidor, Matt Murdock (Charlie Cox) conseguiu resumir o conflito entre os dois “heróis” de forma clara. O primeiro mata para fazer justiça, o segundo resolve a situação e deixa a justiça a cargo das autoridades competentes (ou não).

“You hit ’em and they get back up. I hit ’em and they stay down. I think you’re a half-measure. I think you’re a man who can’t finish the job. I think that you’re a coward. You know you’re one bad day away from being me.”

A introdução do personagem se fez de forma impactante e misteriosa, como uma espécie de novo vilão, o novo Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio). Essa imagem é vagarosamente desconstruída durante o julgamento e a insaciável busca de Karen Page (Deborah Ann Woll) pela verdade. E, neste ponto, mais uma vez, a série utiliza a mesma fórmula da primeira temporada que deu muitíssimo certo. O valor da roupa tradicional do personagem, tal item não é dado de bandeja, ele é conquistado, assim como Matt Murdock só aparece com sua tradicional vestimenta no final da primeira temporada, Frank Castle só utiliza sua roupa preta com a tradicional caveira desenhada na parte final do último episódio, esse fator atribui muito mais valor ao item e representa o final da construção do personagem. Excelente ideia que não foi tão bem executada na segunda personagem estreante da história, Elektra…

Elektra

Assim como para Matt Murdock, essa personagem aparece para nós como uma grande incógnita. Ex-namorada do herói, ela surge sem deixar claro seu real objetivo e usufruindo da capacidade de Matt de “resolver problemas”. Elektra (Elodie Yung) retorna a vida de Matthew durante o envolvimento do advogado com o julgamento de Frank Castle, o que estabelece um conflito grave entre ele e seus melhores amigos. Com ela, outro antigo personagem retorna, Stick, e, enfim a história principal começa a ganhar novos contornos. Por ter tido menos tempo que o Justiceiro e realmente ser uma personagem mais ambígua, Elektra tem sua construção feita cercada de pontos de interrogação e flashbacks, que revelam seu histórico com o protagonista e o motivo de seu desaparecimento. A fórmula da roupa tradicional é novamente realizada com ela, talvez não com a mesma exatidão que com os outros dois. Elektra surge já imersa na continuação da história principal e é o grande gancho para o retorno de personagens até então mortos e histórias até então concluídas.

A continuação da história

O discurso de Matt Murdock confrontado com o de Frank Castle apresenta-se sólido, firme e repleto de valores corretos no começo da temporada. Como advogado, Matthew confia cegamente na justiça (com perdão do trocadilho). Suas convicções são postas em cheque no momento em que Wilson Fisk é reapresentado na prisão. Neste momento, Murdock nota que o sistema é f… altamente falho e talvez sua função de herói seja totalmente anulada por este sistema. Durante a história, Elektra mostrando sua essência assassina e Justiceiro realizando justiça com as próprias mãos, passam a apresentar novos questionamentos para Matt, até que ponto o correto é eficaz?

Em mais uma cena de ação contínua, nesta temporada, Demolidor encara uma horda de inimigos descendo as escadas de um edifício

Além de Elektra, Stick retorna a situação apresentando o novo grande inimigo do Demolidor, a chamada “O Tentáculo”. O espectador que estava habituado aquela série essencialmente urbana e problemas tangíveis ao nosso cotidiano é surpreendido pelo fato dessa organização se pautar em crenças sobrenaturais e apresentar evidências de fatos também afastados da realidade à qual estamos acostumados. Uma grande arma secreta, um grande buraco, pessoas retornando dos mortos. Tudo que cerca a organização é tratado com um mistério que te faz ver mais episódios para tentar entender o que se passa por ali. Além disso, O Tentáculo é tratado como algo muito poderoso, que foge ao entendimento e ao controle do Demolidor. É por causa dele que temos várias cenas de ação com um sem número de ninjas, que são imunes ao reconhecimento prévio de Matt pelas batidas do coração. Numa pegada meio Kill Bill, as cenas de ação de Murdock detonando os ninjas são certamente as melhores cenas do gênero dessa segunda temporada.

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