Quantas TAGS pagam um youtuber?

Ricardo Oliveira
VETOR cultura digital
3 min readMay 11, 2015

--

Entre memes e desafios, vloggers brasileiros entram no loop finito do conteúdo perecível

Uma dupla prova um smoothie que mistura catchup com leite condensado, suco de uva, limão e ovo.

Na recomendação a seguir, alguém faz um desafio de colocar o máximo possível de marshmallows na boca e falar “chubby bunny”.

Um comentarista grita “MANDA MAIS!”

E o casal hetero brinca de maquiar o rapazinho com os cosméticos da menina.

Parece roteiro de um filme adolescente produzido pela Nickelodeon, mas é o estado atual dos vloggers no YouTube Brasil.

Os desafios invadiram os canais e povoam boa parte do que é feito diariamente na rede de vídeos. As variações são inúmeras, sempre seguindo alguma tendência iniciada em canais gringos.

A brincadeira é fazer algo tosco, improvável, nojento e que gere bastante atenção. Para alguns vloggers, isso é rotina. Para outros, apenas um intervalo (longo) na programação normal.

Não há dúvidas de que esta é uma tentativa de agradar a audiência infanto-juvenil dos youtubers. Eles querem é zoeira e todo mundo sabe que a zoeira never ends para adolescentes na web.

A gente está falando aqui de um movimento desenfreado em busca da audiência, que é o que está por trás de cada tag. Como já apontado em excelente texto da youPIX, o youtuber brasileiro quer atenção a todo custo. O importante nem é ganhar dinheiro, mas ser famoso.

Mas quanto tempo dura alguém que vive de apenas reproduzir tags da zueira?

Para Bia Granja, “na internet, o que importa, o que conecta e o que engaja é sempre o conteúdo. Se ele não vier primeiro, esqueça a fama e esqueça o dinheiro”.

É certo que no afã de descobrir e experimentar os formatos, no desejo de produzir conteúdo diário, muitos vão testar e errar. Alguns vão acertar. O que considero um erro, entretanto, é cair no loop extretamamente finito das tags. Definitivamente tags são conteúdo, mas do tipo mais perecível e nada escalável.

Uma hora as brincadeiras vão acabar e o que vai ficar?

Gosto do exemplo do canal Cadê a Chave?, que mostra a rotina de Nilce e Leon (do Coisa de Nerd). A produção é diária, em vídeos de 4 minutos em média, e em mais de 450 publicações, quantas tags você encontrará? O canal já passou dos 800 mil inscritos e tem apenas 18 meses. Apenas recentemente eles publicaram algumas raras tags e ainda com identidade própria, tentando fazer diferente e adequar a moda ao seu conteúdo.

É preciso ficar claro que, em essência, não é exatamente ruim que sejam feitas tags e desafios. Nem mesmo que um canal faça muitas delas. Até porque, essa pode ser justamente sua estratégia de conteúdo. O que acredito ser problemático, porém, é que canais que já possuem um norte específico em sua produção (que destoa disso) entre nesse universo de modo indiscriminado, meramente pela audiência.

Isso me lembra e muito a disputa por audiência da televisão. Quando um programa de auditório de domingo criou o modelo de presentear família com caminhões de prêmios, vários fizeram o mesmo. Quando um canal lançou seu primeiro programa policial espirrando sangue da tela, todo mundo seguiu o padrão para alavancar a audiência.

No fim das contas, a geração youtube pode acabar repetindo as fórmulas prontas dos programas de TV mais populares— que eles dizem nem assistir mais. E achando que estão fazendo tudo diferente, o que é muito pior.

--

--

Ricardo Oliveira
VETOR cultura digital

Faço conteúdo e escrevo sobre ele. Empresário fundador do Dois Cafés (www.estudiodoiscafes.com.br), palestrante e professor.