Lula ‘paz e amor’ lota a Avenida Paulista em protesto contra impeachment de Dilma

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5 min readMar 19, 2016
Foto: Alice V/Democratize

Ovacionado por mais de 100 mil pessoas que ocuparam a Avenida Paulista nesta sexta-feira (18), o ex-presidente Lula criticou o juiz Sérgio Moro e afirmou que voltou ao cenário político no modo ‘paz e amor’, buscando o diálogo na tentativa de barrar o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Depois de uma sexta-feira que começou logo cedo com a Tropa de Choque expulsando manifestantes pró-impeachment em frente ao prédio da Fiesp, o sábado começou mais “vermelho” em São Paulo.

Surpreendendo até mesmo os meios de comunicação mais tradicionais como a Globonews, sindicatos e movimentos sociais conseguiram colocar mais de 100 mil pessoas na Avenida Paulista no final da tarde desta sexta (18), em manifestação contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

No final das contas, todos esperavam pela presença do ex-presidente Lula, que confirmou sua presença ainda na tarde desta sexta-feira.

Acompanhado de colegas de partido, além de lideranças estudantis e de movimentos sociais, o ex-presidente fez um discurso acalorado. Foi ovacionado pelos manifestantes ao dizer que voltou ao governo não para brigar, mas para ajudar a presidente Dilma Rousseff a fazer o que tem que ser feito no Brasil: “Eu entrei pra ajudar a presidenta Dilma, porque precisamos restabeler a paz e a esperança e provar que esse país é maior que qualquer coisa no planeta terra” — apresentando aquela chamada versão do ex-presidente em 2002, o “Lula paz e amor”.

O ex-presidente ainda falou sobre o fato dele ter aceitado o ministério da Casa Civil: “Faltam dois anos e seis meses para Dilma acabar o mandato dela e é tempo suficiente pra gente mudar este país”, deixando bem claro que seu objetivo central na Casa Civil é de buscar fortalecer alianças e resgatar a confiança do mercado e da classe política no governo petista, para evitar a possibilidade do impeachment contra a presidenta avançar em Brasília.

Foto: Reinaldo Meneguim/Democratize

Um pouco antes de iniciar seu discurso, uma situação de tensão ocorreu nas proximidades do prédio da Fiesp na Avenida Paulista.

Cerca de 6 manifestantes pró-impeachment levantaram uma faixa contra a presidenta Dilma, iniciando uma discussão com membros da Central Única dos Trabalhadores, a CUT. A Polícia Militar acabou interferindo na situação, atirando spray de pimenta nos manifestantes governistas. A Tropa de Choque chegou a se posicionar com os escudos levantados contra a manifestação, porém não houve necessidade e a situação acabou se normalizando.

Sobre tais manifestações pelo impeachment, Lula disse que a sociedade “precisa entender que democracia é a convivência da diversidade. Não quero que quem votou no Aécio goste de mim. Eu quero que a gente aprenda a conviver de forma civilizada com as nossas diferenças”.

Foto: Daniel Arroyo/Democratize

A cobertura na imprensa

A Globonews, que tem feito uma espécie de “cobertura 24h” nas manifestações pelo impeachment da presidenta Dilma, preferiu seguir uma linha diferenciada nesta sexta-feira.

Seguiu com sua programação habitual, chegando a acusar as manifestações petistas de “perseguir os jornalistas da emissora”. Exibindo apenas imagens filmadas de cima, a pequena cobertura da Globonews sobre os protestos contra o impeachment foi considerada um verdadeiro desastre jornalístico nas redes sociais, que questionaram a seletividade com a forma de tratamento dado entre os protestos pró e anti-governo.

Um dos momentos mais drásticos foi a comparação entre a figura do ex-presidente Lula com a do bilionário e pré-candidato republicano nos Estados Unidos, Donald Trump.

A emissora ainda insistiu comparar as manifestações do dia 13 (pró-impeachment) com as desta sexta-feira, ignorando completamente o fato de que a adesão em protestos em fim de semana acaba se tornando maior, por ser justamente em um domingo — e não em dia comercial.

Foto: Reinaldo Meneguim/Democratize

Falando sobre números

Segundo as organizações que participaram do ato, cerca de 500 mil pessoas compareceram nesta sexta-feira na Paulista. Já a Polícia Militar afirmou que 80 mil manifestantes ocuparam a avenida, enquanto o Datafolha divulgava 95 mil.

De qualquer forma, trata-se de uma sexta-feira de alívio para o Partido dos Trabalhadores, após conseguir mobilizar com sucesso sua militância política, além de apoiadores.

Protestos aconteceram de forma simultânea em todas as capitais do país, além do Distrito Federal. Em Belo Horizonte, os organizadores afirmam que 40 mil pessoas estiveram na manifestação contra o impeachment, enquanto em Brasília e Recife o número beira entre 30 e 100 mil pessoas.

Foto: Alice V/Democratize

Depois de uma semana carregada por protestos contra o governo, sem contar a recente derrota de Lula em relação a possibilidade de assumir a Casa Civil, as manifestações serviram como recado de que caso algo extremo aconteça, haverá resposta da militância.

Ainda não se sabe como será o procedimento do juiz Sérgio Moro após a decisão do ministro Gilmar Mendes do STF, que suspendeu a nomeação de Lula para a Casa Civil e ainda repassou as investigações sobre o ex-presidente de volta para Moro. Boatos circulam nas redes sociais de que até segunda-feira (21) novos fatos devem ocorrer, incluindo até a possibilidade de prisão contra Lula.

Porém, o futuro é incerto.

O que sabemos é que depois de dias onde vestir vermelho poderia significar apanhar na rua, a Avenida Paulista foi enfim tomada pela cor vermelha, e sem ódio.

Veja mais fotos do ato:

Foto: Alice V/Democratize
Foto (esquerda): Alice V/Democratize | Foto (direita): Reinaldo Meneguim/Democratize
Foto: Reinaldo Meneguim/Democratize

Em Brasília:

Fotos: Gustavo Oliveira/Democratize

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