Eduardo Cunha sempre dá um jeito de se dar bem

Trajetória do articulador-mor da República explica como ele chegou ao ponto de tramar para chegar à presidência sem ter recebido nenhum voto para isso

Redação Trombone
Trombone Media
6 min readJul 6, 2015

--

Se cuida, Dilma: a atual presidente e aquele que articula para ser o próximo em encontro de 2013 quando o deputado ainda compunha a “base aliada” (Roberto Stuckert Filho/PR)

Até pouco tempo atrás, Eduardo Cunha tramava sem a luz de muitos holofotes na Câmara dos Deputados. Um pseudoaliado, armou contra o governo federal mais de uma vez, especialmente quando tornou-se lider do movimento que derrubou a proposta que regulamentava os conselhos populares. Tornou-se um problema real para a presidente Dilma Rousseff e o PT quando, em meio à última acirrada eleição presidencial, afirmou que não teria problema em apoiar Aécio Neves em um eventual governo tucano.

Quando o PT venceu a eleição, Cunha ficou incomodado que poucos de seus apadrinhados foram indicados ao ministério de Dilma. A incomodação aumentou quando o PT indicou candidato próprio à disputa da presidência da Câmara dos deputados, dada como conquista certa por ele. Virou guerra.

O PT foi derrotado na eleição da Câmara e, de dentro do maior partido aliado (o PMDB), Cunha passou a impor sua própria agenda conservadora e bloquear propostas do governo. Uma amostra clara de seu poder ocorreu quando o então ministro da educação Cid Gomes chamou os deputados de achacadores numa sessão da Câmara. Logo depois da discussão, Cunha anunciou sua demissão em plenário — o que acabou se confirmando horas depois.

Um levantamento da trajetória do atual presidente da Câmara de Deputados explica sua tranquilidade para manobrar ao arrepio da lei e dos adversários e desafiar a Justiça. Em seu passado, há alianças com nomes altamente questionados da política nacional e até supostos atentados a bala. O político responde como réu a 22 processos na Justiça.

  • Metido na política a mais de trinta anos, o economista carioca nascido em 1958 começou sua carreira filiado ao PRN como primeiro secretário da campanha de Fernando Collor à presidência em 1989 — sim, aquele presidente que sofreu impeachment. Sua grande sacada foi descobrir a falha que impediu a candidatura de Silvio Santos e, assim, definiu o resultado das eleições.
  • Nomeado por Collor para a presidência da Telerj, teve seu nome envolvido num escândalo de superfaturamento. Com a descoberta do Esquema PC, foi exonerado. Negou participação.
Reprodução Jornal O Globo, 15/06/1992
  • Em 1999 foi nomeado pelo então governador do Rio, Anthony Garotinho para a Companhia Estadual de Habitação.
  • Pouco mais de seis meses depois, foi exonerado após ter seu nome envolvido em denúncias de favorecimento a uma construtora em licitações de um grande projeto habitacional. Negou participação.
  • Em outubro de 2000, após a gravação de um programa para a radio Melodia FM (na qual apresenta programa diário), sofreu uma emboscada na zona portuária do Rio de Janeiro. Perseguido por um carro e duas motos, o veículo no qual se encontrava levou mais de vinte disparos. Afirmou que não foi um atentado, mas uma tentativa de assalto.
  • Em 2002, com apoio de Garotinho, elegeu-se deputado federal pelo PP.
  • Em 2003, trocou o PP pelo PMDB. Foi reeleito nas eleições de 2006.
  • Em outubro de 2007, em discurso na Assembleia Legislativa do Rio, a deputada estadual Cidinha Campos acusou Cunha de manter relações comerciais com o megatraficante colombiano Juan Carlos Abadia, preso no Brasil. “Um deputado federal negocia com o maior traficante do mundo duas vezes: uma para vender a casa, e outra, depois, para comprar a mesma casa. Fez sem querer? Ele não sabia? Bom, ele sabia que tinha que declarar, pois um deputado federal não pode comprar uma casa — ou vende-la por 800 mil dólares — e não declarar no Imposto de Renda.” Negou com veemência todas as acusações e processou Cidinha Campos.
  • Reeleito de novo nas eleições de 2010. Ao TSE declarou ter recebido R$ 4,64 milhões em doações de campanha.
  • Em 2011, apresentou um projeto de lei para criminalizar a discriminação contra os heterossexuais e instituir o “Dia do Orgulho Heterossexual”.

“No momento que discutem preconceito contra homossexuais, acabam criando outro tipo de discriminação contra os heterossexuais. Além disso, o estimulo da ‘ideologia gay’ supera todo e qualquer combate ao preconceito”
(Eduardo Cunha)

  • Ainda em 2011, série de reportagens de Chico Otavio e Tatiana Farah em O Globo mostrou como o deputado usava influência política nas decisões da companhia Furnas que pagou 78 milhões de reais a mais numa negociação para um grupo de empresários ligados a ele. Negou participação embora tenha admitido que o PMDB indicou diretores para a companhia. O próprio presidente de Furnas, Carlos Nadalutti, declarou na época que só chegou ao cargo graças à indicação do partido.
  • Eduardo Cunha questionou a ética, acusou Chico Otávio de estar a serviço do PT e o atacou no twitter: “Em primeiro lugar, o mesmo repórter já por mim processado e em campanha contra mim recentemente, e que será alvo de novos processos, volta à carga tentando me criar novos embaraços que, certamente, acarretarão mais processos. Só falo com ele dessa forma. Quanto a esse novo questionamento, não existe e nunca existiu gestão Eduardo Cunha. Isso certamente é documento elaborado sob a liderança de setores de atraso que combati em meu Twitter”, disse, em email enviado à redação de O Globo.
  • Em 2013, foi eleito líder do PMDB na câmara.
  • Em 2014, se elege para mais uma legislatura com 232.708 votos. Declarou ao TSE ter recebido R$ 6.832.479,98 em doações.
  • Em janeiro de 2015, na Barra da Tijuca, o carro em que estava foi atingido por seis disparos vindo de um motoqueiro. Mais uma vez, negou que tenha sido atentado, mas sim uma tentativa de assalto.
  • Em fevereiro de 2015, foi eleito presidente da câmara com 267 votos.
  • É reu em 22 processos que correm no Supremo Tribunal Federal,
O presidente do Senado, Renan Calheiros, o vice-presidente Michel Temer, o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, na posse do ministro Fachin (Valter Campanato/Agência Brasil)

Facebook Jesus

Cunha possui 288 domínios de internet em seu nome, incluindo gmailjesus.com.br, crentecompra.com.br e facebookjesus.com.br. Apresentou um texto alternativo ao Marco civil da Internet brasileira sem neutralidade da rede.

Dois pra lá, dois pra cá

Evangélico, é membro da Igreja Sara Nossa Terra de Robson Rodovalho e da Assembléia de Deus de Madureira do pastor Manoel Ferreira.

Eduardo Cunha com Benjamin Netanyahu, presidene de Israel. Em junho passado Cunha teve agendas de compromissos oficiais no Oriente Medio. (Amos Ben Gershom/ GPO via Fotos Publicas)

ParlaShopping

Em editorial, o Estadão afirmou que leis não são obstáculos aos interesses do deputado.

Deus e o Diabo na Terra do Sol

Como noticiou Lauro Jardim em seu Radar, na revista Veja, desde a última quarta feira (03/-7/2015) a hashtag #CunhaPresidente começou a pipocar no Twitter, assim como também foi ativada uma página com esse nome.

Reportagem de Jefferson Puff para BBC Brasil assinala que setores conservadores da política admitem que é mera questão de tempo até o Brasil ter seu primeiro presidente evangélico — e Eduardo Cunha se coloca como expoente e liderança política desse segmento.

Será Eduardo Cunha o primeiro presidente da República evangélico da história do Brasil?

Siga o Trombone: Facebook | Twitter | Instagram | Youtube

--

--

Redação Trombone
Trombone Media

Do Rio de Janeiro para o mundo. Do mundo para o Rio. Contexto da forma como as pessoas consomem informação hoje em dia.