Campo Grande Não É o Castelo da Cinderela…

Guilherme Braga Alves
Zona Oeste Social Clube
4 min readJul 23, 2015

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Mas é melhor não chegar depois da meia-noite.

Com mais de 328 mil habitantes, Campo Grande é o bairro mais populoso do Rio de Janeiro. Também é o terceiro maior em área. Só estes dois dados já mostram que o transporte público é fundamental por aqui. Afinal de contas, muita gente + grandes distâncias = dependência dos ônibus.

Linha 397 é uma das poucas a circular em Campo Grande durante a madrugada. © Fernando Souza / Agência O Dia

Se durante o dia já existem problemas graves, como a falta do BRT Campo Grande / Alvorada e linhas de ônibus que deixaram de circular, durante a noite a situação é pior ainda. Pra saber quão pior está, o Nós de Campo Grande fez uma pesquisa sobre os ônibus do bairro. Os resultados podem surpreender.

A Pesquisa

Nas madrugadas dos dias 11 e 12 de julho de 2015, Nós monitoramos 59 linhas de ônibus que tem seu itinerário, total ou parcialmente, passando por Campo Grande. O monitoramento foi feito através da ferramenta RioBus e se deu a partir da 1h30, ou seja, o pico da madrugada.

No primeiro dia, a madrugada de sexta para sábado, das 59 linhas pesquisadas, apenas dez (397, 398, 853A, 854A, 855A, 864, 866, 867, 883A e 884) foram encontradas em circulação. O número de veículos também impressiona: só 28 ônibus serviam o bairro.

No primeiro dia de pesquisa, apenas 17% das linhas tinham ônibus rodando durante a madrugada. No segundo, o número foi ainda menor: 15%.

Já na madrugada de sábado para domingo, das mesmas 59 linhas pesquisadas, só 9 circulavam, de acordo com os dados apresentados pela ferramenta de monitoramento via GPS. Eram elas: 397, 853A, 854A, 855A, 864, 867, 883A, 884 e 898. Vinte e seis ônibus operavam estas linhas. A com mais veículos era a 397, Campo Grande / Candelária, que contava com 10 carros. Já na 884, apenas um ônibus realizava o trajeto entre Campo Grande e Sepetiba.

Você pode ter acesso ao relatório completo da pesquisa, incluindo metodologia e dados coletados, no endereço bit.ly/onibusCG.

Cadê o Ônibus?

A escassez, que já parece generalizada, torna-se completa quando nós aplicamos estes dados coletados num mapa. A junção entre números e imagem mostra que determinadas áreas do bairro não tem nenhuma opção de transporte público durante a madrugada.

Na primeira imagem, as vias por onde passaram ônibus na madrugada de sábado, 11 de julho. Na segunda, o mapa de ônibus da madrugada de sábado para domingo, 12 de julho. Mapa: Google. Elaboração: Nós de Campo Grande

Como podemos verificar, não há serviço de ônibus municipais nas estradas do Mendanha, Tingui, Pedregoso, Guandu-Sapê, Santa Maria e Carvalho Ramos. Na estrada do Campinho, uma das principais do bairro, nenhum ônibus foi encontrado no sábado. No domingo, dois veículos da linha 898 eram as únicas opções de transporte.

Eu Não Sou Cinderela

Levando esta situação em conta, e considerando que a falta de transporte noturno não é um problema exclusivo de Campo Grande, o Nós lançou uma nova campanha chamada #EuNãoSouCinderela, em referência ao conto de fadas que estabelecia a 0h como limite para a volta pra casa.

A Lei Orgânica do Município estabelece, em seu artigo 414, que “é obrigatória a manutenção das linhas de transporte coletivo no período noturno em freqüência a ser estabelecida por lei e que não poderá ser superior a sessenta minutos”.

Para pressionar o secretário, basta clicar aqui e preencher um quadro igual a este.

Para garantir o cumprimento desta lei, os cidadãos podem pressionar o secretário municipal de Transportes aqui, através do envio de um e-mail, num procedimento rápido, que leva menos de um minuto. Além disso, todos podem espalhar a campanha nas suas redes sociais usando a hashtag #EuNãoSouCinderela.

#EuNãoSouCinderela é uma campanha feita pelo Nós de Campo Grande, que faz parte do faz parte do Nós do Meu Rio, o primeiro programa de formação de núcleos de mobilização local da Rede Nossas Cidades.

Nós também temos campanhas ativas para a implantação do BRT Campo Grande / Alvorada e para a reativação das linhas que eram operadas pelas empresas Andorinha e Rio Rotas.

Você pode saber mais sobre o Nós de Campo Grande e entrar em contato conosco na nossa página no Facebook: facebook.com/NosdeCG.

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Guilherme Braga Alves
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