Onde estão os verdadeiros arranha-céus (Dica: Dakota do Norte)

Muitas das mais altas estruturas no mundo não são projetadas por grandes arquitetos, e você provavelmente nunca as viu

Curioso e Cia.
9 min readMar 11, 2015

por Casey Tolan

Nomeie as estruturas mais altas do mundo. Talvez arranha-céus chamativos na China ou nos países árabes vêm à mente. Ou talvez você está pensando em ícones dos EUA, como One World Trade Center, em Nova York ou a Torre Willis em Chicago.

Você provavelmente não está pensando em torres de TV. Mas dezenas de torres quase anônimas ao redor dos Estados Unidos, a maioria em pequenas comunidades rurais, são algumas das mais altas estruturas feitas pelo homem no mundo.

A KVLY-TV Tower em Dakota do Norte. Foto: Flickr / Raymond Cummingham

Veja a KVLY-TV Tower, em Blanchard, Dakota do Norte, um município de 26 pessoas ao norte de Fargo. Com 2.063 pés (628,8 metros), é a estrutura mais alta do hemisfério ocidental e a quarta mais alta estrutura do mundo.

Ou a Diversified Communications Tower na comunidade não registada de Floyd Dale, Carolina do Sul. Com 2.000 pés (609,6 metros), tem quase o dobro da altura da Torre Eiffel.

Em todo o país, torres de transmissão de TV como estas, desconhecidas, mas às vezes recordistas, mantém milhões de norte-americanos conectados. E como a nossa forma de ver TV está mudando, a indústria por trás dessas estruturas imponentes enfrenta tempos turbulentos.

Burj Khahifa (2717 pés), Tokyo Sky Tree (2080 pés), Shanghai Tower (2074 pés), KVLY TV Tower (2063 pés, centralizada), One World Trade Center (1794 pés), Empire State Building (1454 pés), Eiffel Tower (1063 pés). Foto: Flickr / Raymond Cummingham

A KVLY Tower cresce para fora do campo plano como uma agulha. É tão estreita que é apenas uma linha vertical no horizonte até você chegar perto. Construída em 1963, foi a estrutura mais alta do mundo por muitos anos.

“A nossa população não é exatamente muito densa aqui, então você precisa cobrir uma grande área para chegar ao número suficiente de pessoas”, diz Doug Jenson, o engenheiro-chefe na afiliada da NBC, que transmite a partir da torre. Blanchard, Dakota do Norte, é “apenas um pontinho na estrada”, diz.

Um elevador sobe a maior parte do caminho para o topo.

“Você pode ver as formas da pradaria, e embora haja uma espécie de neblina no horizonte, é muito legal”, diz Jenson. “Especialmente quando você tem outra torre de 2.000 pés pela qual você pode olhar”.

É isso mesmo — a cinco milhas de distância da KVLY Tower, há uma segunda torre de TV que atinge 2.060 pés. Aquela torre, KXJB, que transmite uma estação concorrente, já caiu e foi reconstruída duas vezes — pela primeira vez em 1968, quando um helicóptero se enroscou nos cabos de sustentação, matando quatro, e novamente em 1997, após o que Jenson chama de “grotesca tempestade de gelo”.

Nenhuma torre é exatamente pitoresca — apenas tiras estreitas de metal vermelho e branco, cerca de 10 pés em cada face, ancoradas ao solo por fios grossos.

KVLY 11 — Torre que atende Fargo e Grand Forks (Dakota do Norte) — Torre de 2063 pés, construída em 1963

Quando foi construída pela primeira vez, a KVLY Tower foi um grande negócio. Turistas viriam para ver a estrutura mais alta do mundo, e os moradores estavam orgulhosos de ter um marco em seu quintal. Veteranos lembram de um drink "torre alta" servido em um bar na cidade vizinha de Mayville — vinho Bali Hai, vodka e granadina, servidos em um grande copo de vidro fosco — por 75 centavos.

Nos dias de hoje, no entanto, a torre não recebe quase tanta atenção.

“É um elemento, ele está lá. Você realmente não pensa sobre isso”, diz Kathy Carlstad, o gerente do Top Hat Lounge, que serviu o drink. Ele não está mais no menu.

Jenson, que viveu na região por toda a sua vida, concordou. “Torres de 2.000 pés não são mais exclusivas”, diz ele.

De acordo com registros da Comissão Federal de Comunicações (em inglês: Federal Communications Commission — FCC), 16 torres no país chegaram aos 2.000 pés ou mais, com dezenas de outras a apenas alguns metros da marca. Regulamentos da Administração Federal de Aviação (em inglês: Federal Aviation Administration — FAA) proíbem a construção acima desse limite, e portanto apenas três torres ainda são exceções à regra.

(a sigla 2000' significa 2000 pés)

Torres podem ainda ser “estaiadas”, dependendo de cabos de sustentação amarrados ao chão para se manter, ou “independentes”, sem fios. Torres independentes são geralmente mais curtas do que as estaiadas (também chamadas de mastros estaiados).

Em destaque, helicóptero. Foto: Flickr / Raymond Cummingham

A KVLY Tower perdeu seu título da estrutura mais alta do mundo pela primeira vez em 1974, depois da conclusão do Warsaw Radio Mast, que chegou a 2.121 pés. Mas essa torre caiu em 1991, e nunca foi reconstruída com a mesma altura. KVLY foi novamente a estrutura mais alta do mundo até 2008, quando o arranha-céu Burj Khalifa, de 2.722 pés, foi construído em Dubai.

O Burj, a Tokyo Sky Tree e a Shanghai Tower, finalizada em 2013, são as únicas outras estruturas do mundo que chegam a mais de 2.000 pés, de acordo com o Conselho de Edifícios Altos e Habitat Urbano (em inglês: Council on Tall Buildings and Urban Habitat — CTBUH), o órgão oficial de arbitragem de edifícios e estruturas. Daniel Safarik, o editor de publicações do concelho, diz que seu grupo não acompanha torres de transmissão estaiadas. “Há milhares delas”, disse ele em um email.

Em todo o mundo, outros arranha-céus estão próximos de ultrapassar a marca de 2.000 pés. A Kingdom Tower em Jedá, na Arábia Saudita, por exemplo, está projetada para alcançar um quilômetro de altura, ou 3.307 pés, em 2019.

Mas, em números absolutos de superaltas estruturas, os EUA bate todos os concorrentes. Isso se deve ao amor nacional pela televisão e pela topografia escancarada de grande parte do país. A maioria das torres estão situadas em localizações rurais, planas. Algumas são colocados estrategicamente para cobrir várias cidades, outras precisam ser tão altas por causa da baixa densidade populacional.

“Você também precisa de muito espaço para construir uma torre dessa altura, e as terras rurais são muito mais baratas”, diz Don Doty, CEO da Stainless LLC, a maior fabricante de torres altas de transmissão no país. (Cerca de metade das torres no país foram fabricados pela Stainless desde que a empresa foi fundada em 1947.)

Imagem: Bing Maps

Torres de TV superaltas não são apenas um fenômeno rural, no entanto. Após os ataques de 11 de setembro, uma emissora de New York considerou a ideia de construir uma torre de transmissão com 2.000 pés a poucos quilômetros do centro de Manhattan, a fim de substituir a antena na torre norte do World Trade Center, que a maioria das estações de notícias locais utilizavam. Ao invés disso, decidiram usar a antena no topo do novo One World Trade Center.

Depois que um projeto de torre recebe aprovação da FCC, leva cerca de um ano para ser concluído. Enquanto a KVLY Tower custou US$ 50.000 para ser construída em 1963, uma torre simples de 2.000 pés hoje custa cerca de US$ 3 milhões. As partes da torre são fabricados fora do local e, em seguida, levantadas uma a uma. Finalmente, as antenas de transmissão são montadas e conectadas à torre, que é enfim ativada.

A indústria de construção de torres como um todo está se afastando da construção de antenas altas de TV. Muitas empresas estão focando em torres de celulares e dados sem fio, mais lucrativas, que possuem geralmente de 200 a 300 pés.

“Nos últimos quatro ou cinco anos, houve realmente um ciclo de expansão neste setor”, diz Todd Schlekeway, o diretor-executivo da Associação Nacional de Montadores de Torres (em inglês: National Association of Tower Erectors — NATE), um grupo de indústrias. Em grande parte, isso é graças a operadoras de telefonia móvel que investem em redes 4G LTE.

Mas torres de radiodifusão (televisão e rádio) ficaram de fora do ‘boom’. “Já se viu a maior parte da força de trabalho migrar para trabalhos relacionados a telefonia celular”, ao invés de erguer novas torres de transmissão, diz Schlekeway. “Algumas dessas torres certamente serão demolidas”, prevê.

Foto: Flickr / Raymond Cummingham

Uma grande razão é a regulamentação do governo. A FCC retardou os pedidos de novas estações de transmissão de TV em 2013, antecipando uma realocação de frequências de transmissão nos próximos anos.

“Isso é, essencialmente, encerrar o negócio”, diz Doty.

Outra ameaça é uma mudança na forma como os telespectadores verão televisão, à medida que mais e mais pessoas, especialmente jovens, o fazem ao invés de utilizar as estações de TV. No início deste mês, a Dish TV lançou um novo serviço de streaming de televisão que vai permitir aos espectadores assistir cerca de 14 canais online.

Enquanto as torres de celular são a opção economicamente mais viável para as empresas de construção de torres, há uma arte na construção de torres de transmissão superaltas que você não há em uma torre mais baixa de celular. Doty comparou como a “construção de um navio de cruzeiro e a de uma lancha”.

“Torres sem fio são estruturas mais leves, muito menores, a maioria padronizadas”, critica Doty. “Torres altas são customizadas. Eles são enormes”.

Com o ‘boom’ nas torres de celular, também houve um aumento nas lesões e mortes em construções. Doze trabalhadores morreram no trabalho em 2014, acima de um dígito nos últimos anos, disse o porta-voz do Departamento de Trabalho Lauren North. (Nenhuma fatalidade foi relatada até agora neste ano.)

David Michaels, o Secretário Assistente do Trabalho para a Segurança e Saúde Ocupacional, em um comunicado.

O grupo industrial NATE, está trabalhando com os reguladores do Departamento do Trabalho para definir novas regras para a formação e para a segurança dos 10.000 a 15.000 técnicos que trabalham com torres de transmissão e sinais sem fio.

“Sempre que você estiver trabalhando em elevação, a segurança é primordial, não há espaço para erros”, diz Schlekeway. “Nossa missão principal é uma força de trabalho mais segura”.

Torres de radiodifusão não enfrentam os mesmos níveis de acidentes e mortes, em parte porque não há muitos trabalhando nelas nos últimos anos. Mas segurança ainda é uma preocupação.

“Você tem que ser um especialista para trabalhar em nossa indústria de elevação”, diz Schlekeway. “E você não pode, obviamente, ter medo das alturas”.

Apesar das mudanças na indústria e na forma de as pessoas utilizarem suas TVs, os engenheiros e técnicos que passaram suas carreiras olhando para estas torres esperam por alguma continuidade. Para Jenson, é uma fonte de orgulho que a sua torre seja uma das estruturas mais altas do planeta — mas o mais importante, que presta um serviço público.

Sem a KVLY Tower, durante décadas, seria impossível para os telespectadores espalhados pela zona rural de Dakota do Norte acompanhar as notícias da TV local. Por ela, há alertas quando nevascas e tempestades podem atingí-los, o que ajudou a mantê-los informados e conectados a grandes distâncias.

“Nós tentamos e trazer os pontos de vista locais, os acontecimentos locais e as coisas de interesse primordial para os telespectadores da área”, afirma Jenson. “Estou esperançoso de que a transmissão pode continuar a ser o que é hoje”.

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