Depois que você desistiu

Bia Bonduki
2 min readMay 1, 2021

Depois que você desistiu, muita coisa aconteceu.

Na semana seguinte, eu fui pra Paranapiacaba com um amigo para me distrair e parar de chorar.

Minha banda fez shows no Rio, em Brasília e num festival em São Paulo.

O cara de antes voltou na minha vida por um breve tempo, e depois eu comecei a namorar aquela garota do Rio que estava no seu show.

Fiquei loira, meu avô morreu, interrompi minha pós-graduação e fui morar no Colorado, onde descobri que eu era uma ótima vendedora. Quando voltei, retomei a pós e voltei a trabalhar em agência.

Meus pais se divorciaram no mesmo dia que eu me mudei para Brasília, para morar com aquele cara que andava com a gente, lembra? Acabou que ficamos juntos por dois anos e meio. Em Brasília eu virei secretária de embaixada, engordei pra burro, fiquei deprimida e fiz amigos pra vida toda. Me separei na metade da temporada e decidi ir embora quando completei um ano trabalhando para o Catar.

Voltei para São Paulo, trabalhei com moda, com sites, com assessoria, ganhei muito, ganhei pouco, levei calote, montei um apartamento, pensei em me matar, fiz muitos amigos, me desfiz de muitos amigos. Pessoas foram e voltaram, mas hoje em dia eu quero que elas permaneçam onde estão.

Em 2015 eu comecei um negócio. Em 2016 eu fiquei tão pobre e ao mesmo tempo tão realizada com esse negócio que foi difícil tomar decisões práticas. Em 2017 eu me mudei para o interior e fiquei um tempo sendo tutelada por minha mãe.

Retomei meu negócio, ampliei, cansei, mudei o foco, voltei pro que era — tudo aquilo que acontece quando se tem um negócio. Eu falo muito disso porque nesse período eu não namorei mais ninguém.

Em 2018 eu ganhei um sobrinho e fui conhecê-lo do outro lado do mundo. Aliás, nesse tempo todo, além do Colorado, eu visitei duas vezes Nova York, fui pra Cuba e pro Chile a trabalho, fiquei um mês na Europa, fui atrás de homem na Argentina, conheci o fim do mundo, passei duas temporadas na Austrália e, quando for possível, ainda vou fazer a rota 50. Antes eu pensava em terminar o trajeto te visitando. Agora, fazer o oposto, para poder encerrar a viagem em Glenwood Springs e ficar num hotel histórico.

Em 2020, depois de uma vida relutando, eu assumi para mim mesma que sou bissexual. Foi difícil e eu passei umas horas chorando no carro antes de voltar para casa da terapia. Hoje estou contente com essa percepção.

Em 2021 decidi escrever um livro, e acabou que ele vai ser sobre você. Não quero que você saiba nada desse livro, mas dedicarei ele à sua mãe. Porque, antes de você existir, era ela quem me fazia escrever.

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