Olimpíadas Suburbanas: contrastes no cotidiano em torno do “Engenhão”

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4 min readAug 8, 2016
Foto: Bárbara Dias/Democratize

O bairro do Engenho de Dentro, onde se localiza o Estádio Olímpico João Havelange, para nós cariocas o “Engenhão” será palco de disputas de partidas de futebol e atletismo nas olimpíadas Rio 2016. Neste domingo (7), partimos para lá, para observar o movimento e nos deparamos com várias situações tipicamente contrastantes e bem característica da realidade carioca.

Por Bárbara Dias

Sob forte esquema de segurança o Engenhão está completamente sitiado, na estação de trem de Engenho de Dentro observamos soldados do Exército, e nas ruas no seu entorno todas fechadas, pode-se ver com frequência a presença da Polícia Militar (incluindo Cavalaria e Tropa de Choque), Força Nacional e Guarda Municipal.

A sensação de segurança para quem estava indo assistir a partida é reforçada pelas revistas obrigatórias a todos que acessam o estádio, e passavam por uma das dezenas de máquinas de aparelhos de raio x (idênticos aos dos aeroportos).

Apesar da aparente organização e sinalização, reforçadas por muitas placas e pessoas com “mãozinhas de seta” indicando as entradas e acessos ao estádio, além de muitos voluntários com megafones orientando os torcedores, observamos a formação de filas bem grandes para a entrada no estádio.

Foto: Bárbara Dias/Democratize

O estádio do Engenhão passou por obras de adaptação e adequações elétricas que receberam investimento de R$ 52 milhões de reais. Observamos também muitas melhorias na estação de trem do Engenho de Dentro que foi totalmente revitalizada por conta dos jogos.

No entorno do estádio, uma antiga praça do trem, que teve os galpões restaurados e recebeu nova iluminação, paisagismo, além de reforma urbanísticas e construção de calçadas e ciclovia, além de um belo painel de 400 metros quadrados com desenhos de vários artistas grafiteiros inspirados em comportamentos tipicamente cariocas e em pontos turísticos da cidade.

Foto: Bárbara Dias/Democratize

Não podemos prever para além das olimpíadas o legado dessas obras para o subúrbio do Rio de Janeiro, o fato é que quem chega para assistir aos jogos e as competições tem uma boa impressão mesmo que de maneira “maquiada”, pois, basta se afastar alguns metros e começamos a ter um cenário mais suburbano e de abandono pelo poder público, como por exemplo calçadas quebradas e ruas mal iluminadas.

O que mais nos chamou a atenção para além da mega estrutura foi a presença de muitos moradores, que se aproveitando do movimento aumentado e da pouca estrutura de comércio na região, que transformaram suas casas em verdadeiros pontos de vendas de comidas e bebidas para saciar a fome de quem estava indo acompanhar os jogos.

Churrasquinho, cerveja, refrigerantes e várias camisas de times e bandeiras eram vendidas, me aproximei para conversar com alguns desses vendedores que afirmaram que o movimento estava bom e que estava dando para garantir uma boa renda extra:

Foto: Bárbara Dias/Democratize

“Aqui é a verdadeira Olimpíada suburbana, estamos nos virando para dar suporte aos torcedores do Engenhão, o movimento foi melhor no sábado (6), mas hoje até que está melhor que no primeiro dia” (vendedor de churrascos e bebidas).

O que temos que avaliar antes, durante e após os jogos é se valeu a pena, a cidade ter sofrido tantas intervenções, impactos de obras gigantes e remoções de milhares de famílias. Nos últimos anos foram destinados investimentos altíssimos do Governo Federal, Estadual e Municipal, que poderiam ser usados em aéreas mais prioritárias em nossa cidade, como por exemplo: saúde e educação.

Apesar de toda a crítica, as obras olímpicas aconteceram (e continuam a acontecer), cabe a nós avaliarmos se elas irão beneficiar quem mora aqui, seja da Zona Sul a Zona Norte, e não apenas os turistas, as empreiteiras e os empresários. Mas isso, só vamos saber com o tempo e após o fim dos jogos. seguiremos acompanhando o legado olímpico, que até o momento parece ter mais segregado do que incluído os pobres e suburbanos da cidade.

Bárbara Dias é professora da rede pública de ensino e fotojornalista pela Agência Democratize no Rio de Janeiro

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