A longa jornada das fotografias perdidas da Segunda Guerra Mundial

A restauração de uma misteriosa coleção de filmes revela o olhar de um soldado sobre a vida dos militares

João Brizzi
Revista Poleiro

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Por Brendan Seibel
Tradução por João Brizzi

O punhado de rolos de filme antigos não era exatamente o sonho de um dono de loja de antiguidades. Sua autoria era desconhecida, metade deles estava sem qualquer tipo de identificação e ninguém sabia o quanto o passar dos anos havia os deteriorado, mas um caçador de câmeras antigas viu potencial nos negativos. A caixa de velharias atravessou o país até suas mãos e, após horas de um exaustivo trabalho, um expert na recuperação de negativos conseguiu salvar algo da emulsão. E o que ele descobriu foi um verdadeiro tesouro: o registro fotográfico de um soldado europeu durante a Segunda Guerra Mundial.

A coleção de instantâneos teria permanecido perdida no tempo se não fosse pelos esforços da The Rescued Film Project e de seu fundador, Levi Bettweiser. É um ofício feito de coração na casa de Bettweiser, em Boise, onde cada rolo de filme é individualmente tratado à mão. Tudo é processado gratuitamente e arquivado online junto de outras fotos encontradas sobre os mais diversos assuntos. A coleção se construiu a partir de envios de escavadores de lojas de antiguidade e catadores de lojas de pulgas.

“Temos uma relação com a pessoa que as comprou em um leilão”, declara Bettweiser sobre a procura dos rolos da Segunda Guerra. “Ele comprou as fotos e depois as vendeu diretamente pra gente. Eu não acho que ele tenha tido muita competição para comprá-las.”

Lidar com 31 rolos de fotos antigas não é fácil. Metade da coleção era composta por filmes americanos e metade por filmes europeus, fazendo com que houvesse diferentes formatos de fotografia a serem trabalhados. Bettweiser organizou-os por tamanho e por tipo de processo de revelação com o intuito de simplificar o trabalho e não gastar produtos químicos de maneira desnecessária. A mistura para a revelação era feita na cozinha e os filmes eram mergulhados dentro do banheiro, na total escuridão.

Foi só quando as imagens estavam prontas para serem escaneadas que os resultados começaram a aparecer. Com mais alguns ajustes no computador, um mundo distante de soldados, barcos e acampamentos antigos veio à tona e, no final das contas, quase a totalidade dos 150 negativos digitalizados continha alguma imagem aproveitável.

“Eu acredito que o mais importante de tudo é não se dar por vencido e acreditar que, apesar de impossível de ser vista a olho nu, há uma imagem nos negativos”, diz Bettweiser. “Eu escaneei alguns filmes em que eu não necessariamente conseguia ver uma imagem, mas assim que as tive na tela de meu computador e as editei, consegui enxergá-las e delinear as cenas.”

Embora os filmes sejam muito desgastados para serem impressos, tudo está disponível online para todo o mundo. A reação das pessoas tem sido enorme, jogando luz sobre um projeto que só veio a público com sua singular missão há seis meses. Seguindo o lançamento das fotos da Segunda Guerra Mundial, os e-mails e perguntas da mídia chegaram tão rápido que Bettweiser teve de atrasar seu cronograma de trabalho.

Toda a atenção dispendida, no entanto, se provou inestimável. Algumas organizações de historiadores entraram em contato com ofertas para ajudar na pesquisa e verificar onde as fotos foram tiradas, aproveitando a pouca informação encontrada junto aos filmes e contribuindo com o projeto.

Também houve um número significativo de doações, o que alivia os investimentos que Buttweiser fez de seu próprio bolso usando seu dinheiro vindo de trabalhos como fotógrafo freelancer e produtor de vídeos. Todo o dinheiro que entra vai diretamente para a compra de produtos de revelação e acelera o contínuo esforço de encontrar mais fotos órfãs pelo mundo e trazê-las à luz.

Assista ao vídeo que documenta os esforços do The Rescued Film Project para recuperar as fotos mostradas neste artigo.

Todas as imagens e o vídeo são propriedade do The Rescued Film Project

Outros Voos é a seção de traduções da Poleiro. Selecionamos o melhor do conteúdo internacional e traduzimos para você. A história de hoje veio da Vantage.

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João Brizzi
Revista Poleiro

Designer e jornalista no The Intercept Brasil. Antes, trabalhei na revista piauí e fundei a Revista Poleiro.