O talento está em todo lugar

O talento da L’Oreal faz uma leitura da sua estrada:
o dinheiro vale mais quando tem uma boa história

Nicollas Witzel
Revista Poleiro
Published in
6 min readMar 7, 2015

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Por Nícollas Witzel

Na Boca do Caixa, a conversa imita a vida e gira em torno de uma só coisa: grana. Quebramos o tabu e falamos de maneira aberta sobre o mais importante dentre os assuntos menos falados de nossa sociedade.

Genesson Honorato sempre acreditou em talentos. Saiu da pequena Mascote para crescer profissionalmente e, no caminho, pegou caronas como auxiliar de escritório e trocador de ônibus até chegar a Salvador. Estudando na catraca, conseguiu uma bolsa do ProUni, se formando em Psicologia pela Faculdade de Tecnologia e Ciências. Ainda na Bahia, deu aulas no SENAC e, após ser um dos vinte selecionado entre treze mil candidatos para trabalhar como trainee na L’Oreal Brasil, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde atualmente cursa sua pós-graduação em Marketing Digital e Design na ESPM.

Se você pudesse descrever sua relação com o dinheiro em uma palavra, qual seria?

Ambiguidade. Tenho uma vontade imensa de me desvencilhar da dependência do dinheiro mas, ao mesmo tempo, estando em uma sociedade baseada no capitalismo e levando em consideração o que esse cenário pode oferecer, sinto-me impelido a trabalhar dia após dia para usufruir do que o dinheiro pode me proporcionar nesse contexto.

Quanto costuma ficar parado na sua conta?

Me considero uma pessoa do agora, faço poucas projeções para o futuro e por isso o que fica parado em minha conta é o que não consigo gastar ou investir. Uma média de R$2.000 a R$3.000 por mês.

Qual foi o melhor investimento que você já fez na vida?

O melhor investimento que já fiz foi, sem sombra de dúvida, a compra dos meus skates, o primeiro por R$700 e o que tenho hoje por R$1600. Descobri que andar de skate me proporciona uma aproximação do meu Eu. Gosto de sair com ele nos finais de semana, e é em cima dele que tiro conclusões e tomo decisões importantes para a minha vida.

Qual é a coisa mais cara que você tem agora?

Um MacBook. Ele sai por R$7.000 aqui no Brasil. Comprei porque sou um apaixonado por mídia, edição de áudio e vídeo, edição de imagem, etc. E além disso, me irrita demais esperar 5 minutos para que o computador ligue, ou ter que reiniciar tudo porque o Word parou de funcionar (risos).

Você já teve problemas financeiros?

Muitos. Minha família é muito pobre, moramos no interior da Bahia, em uma cidade muito pequena. Mas lá, mesmo sem os recursos da cidade grande, não é tão difícil viver. Temos banana, mandioca, pesca… As pessoas se ajudam diante das dificuldades. Passei por alguns problemas mais complicados quando decidi sair da minha cidade para fazer faculdade. Nem a grana para pegar o transporte até uma cidade maior eu tinha, muito menos onde ficar. Morei de favor na casa de um amigo que me ajudou desde a comida até um dinheiro para eu não andar a pé pela cidade enquanto procurava emprego.

De quanto dinheiro você precisou pra dar um start definitivo na sua vida profissional?

Não precisei de muito dinheiro, o que precisei foi de foco, confiança e coragem. Fui empregado como cobrador de ônibus e imediatamente saí da casa dele — que pedia para que eu ficasse mais um pouco. Foi complicado, ganhava quase nada e a grana ia toda pra pagar o quartinho que aluguei. Tive momentos em que dividia um panetone em três pedaços para café, almoço e jantar. Quando me mudei para Salvador, finalizando meu curso de Psicologia, também tive um momento em que não tinha mais dinheiro, então fui trabalhar como vendedor em uma loja de eletrônicos no shopping da cidade.

Quando participei do Programa de Trainee da L’Oreal, lembro de pensar que caso a dinâmica (que foi realizada em Salvador) tivesse sido feita em qualquer outra cidade eu teria que desistir do processo seletivo. A grana para pagar as passagens de ônibus para ir até o hotel onde aconteceu a seleção foi um empréstimo que peguei com uma ex-professora, hoje minha amiga. Para ser um grande profissional não basta dinheiro, tem que sonhar e correr atrás. Não adiantaria eu ter ido de táxi ou com uma camisa de marca se não tiver construído uma história antes.

Quantos zeros precisam estar em jogo para influenciar uma relação não-profissional?

Alguns. Não falo por mim, para influenciar uma relação comigo basta ter um sorriso no rosto. No entanto, em uma sociedade de capital, creio que quando se tem algumas dezenas de zeros na carteira ou no banco, as coisas ficam muito mais fáceis. Mas não significa dizer que serão perenes.

Você abre mão de princípios pessoais por uma relação comercial promissora?

Não. Deito em cima dos meus valores e durmo tranquilo, creio que não valha a pena. Duvido que isso desencadeie algo promissor.

Você se permite algum luxo? Já se arrependeu de algum?

Tenho um bom relógio, óculos de sol caros e coleciono tênis para andar de skate. Mas sim, já me arrependi de alguns. O principal deles é o meu saxofone, que pensei em aprender e já fui comprando, à vista, um exemplar de R$4.000. Hoje está parado no armário. Sou impulsivo às vezes, já comprei óculos caros em Nova Iorque, por exemplo, e quando cheguei em casa percebi que não gostava deles. Grana jogada fora, e isso me trás um pouco de arrependimento, mas só um pouco (risos).

O que você venderia primeiro se precisasse de dinheiro urgente?

Meu computador. Não seria difícil vendê-lo, e vale uma boa grana.

Com os investimentos que fez até aqui, você se sente financeiramente seguro?

Ainda não, mas tenho alguns projetos pessoais que podem fazer essa resposta mudar nos próximos dois anos.

Qual é a sua próxima meta financeira/sonho de consumo? Quanto tempo você achar que levará para atingir esse objetivo?

Tenho alguns sonhos que se derem certo me trarão uma tranquilidade financeira. Um deles é trabalhar fora do país, de preferência em Nova Iorque, e creio que dentro de um ano saberei se isso será possível ou não. Outro é ter o meu próprio negócio, e já estou investindo tempo e dinheiro na concepção do projeto, também acho que um ano é o tempo necessário para começar a colher alguns frutos. Por fim, a compra do meu apartamento, e esse depende do sucesso dos dois primeiros.

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Jornalismo na contramão do consumo descartável.

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Written by Nicollas Witzel

Repórter do jornal O Globo e editor da @RevistaPoleiro. Aproveite enquanto o sonho é grátis