Uma feira do MST no coração de um bairro nobre

eDemocratize
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3 min readOct 25, 2015
Foto: Fernando DK/Democratize

O bairro é Perdizes, um dos mais tradicionais da cidade de São Paulo. E no coração dele, no Parque da Água Branca, o MST (Movimento dos Sem-Terra) realizou na semana passada sua 1° Feira Nacional da Reforma Agrária, onde a população teve acesso a toneladas de alimentos a preços populares, produzidos nas áreas de assentamento do MST.

Não existe no Brasil um movimento popular mais odiado e amado do que os sem-terra. Perseguidos por décadas por uma cobertura midiática negativa massiva, sendo rotulados como “invasores” e até mesmo “terroristas”, é pouco — ou quase mínimo — o debate central sobre a sua existência: a necessidade de ser aplicada uma reforma agrária no Brasil.

Em tempos de ódio desenfreado e principalmente desinformado, o MST mostrou que está disposto ao diálogo com a população, ao realizar a sua primeira Feira Nacional da Reforma Agrária em um dos bairros mais nobres da capital de São Paulo: Perdizes. Melhor ainda, no Parque da Água Branca.

Caminhando pelo parque, era possível ver senhores e madames com olhares curiosos sobre o que estava acontecendo. Entre jargões ali e aqui, como “petistas” e até mesmo “comunistas”, algumas outras pessoas demonstravam interesse. E não era por acaso: o evento mostrou a diversidade da produção brasileira, com centenas de agricultores de todo o país exibindo e vendendo seu trabalho a baixo custo, e com ótima qualidade. Tinha de tudo: açúcar mascavo, café, farinha, arroz, feijão, rapadura, mel, leite integral, doces, melado, castanhas, mate, fubá, xarope, algas marinhas desidratadas, frutas, queijo, sucos, cachaça.

“As feiras já são muito tradicionais no interior deste Brasil. A ideia é fazer uma amostragem geral. Normalmente se conhece o MST pelo conflito, pela ocupação. O MST é luta, mas também é produção”, diz o dirigente nacional Gilmar Mauro, para reportagem da Rede Brasil Atual, que continuou: Um dos objetivos é dar visibilidade à produção de acampamentos e assentamentos, que costuma não ter espaço na mídia tradicional. “Não é todo mundo, por exemplo, que sabe que a maior produção de arroz orgânico da América Latina pertence aos assentamentos da reforma agrária”, diz Carla Guindani, do setor de produção do MST. Os organizadores esperam reunir 800 produtores de todos os estados e comercializar 200 toneladas de produtos.

Foto: Fernando DK/Democratize

O evento ainda contou com seminários e o show Beatles para Crianças, Pereira da Viola, Chico César e Zé Geraldo, além de um ato político do MST. O ex-presidente Lula (PT) também compareceu ao evento.

Só que mais do que isto, a importância de um evento como esse em um bairro nobre como Perdizes, reforça a possibilidade de integração da sociedade com a ideia transmitida sobre o movimento, sobre o que realmente é reforma agrária, e porquê a necessidade de termos uma no Brasil. A qualidade dos alimentos, o valor abaixo do mercado, e principalmente a simplicidade e pureza transmitida por seus agricultores é uma demonstração de que não precisamos apenas mudar a nossa visão política sobre o aspecto geral no qual nos encontramos, como também a forma sobre como nos alimentamos no dia-a-dia.

Em tempos de anti-petismo e anti-coxinhismo, quem saiu dando o primeiro passo pelo diálogo, quem diria, foi o MST.

Foto: Joka Madruga

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