Sobre a Revista Krinos

Revista Krinos
Revista Krinos
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3 min readMay 1, 2016
Identidade Visual da Revista Krinos

Somos um Coletivo Crítico. Coletivo porque, das definições disponíveis, não nos propomos e nos impomos a submissão do indivíduo a uma vontade geral. Nem tampouco sobrepomos o indivíduo ao aspecto social de estar junto e conviver. Coletivo porque queremos superar essa dicotomia anacrônica que opõe, como categorias opostas, sociedade e indivíduo. Negamos, assim, uma natureza antitética nesses conceitos, tendo o Coletivo como representante de sua superação e procurando nos colocar acima do individualismo sem perder nossa individualidade e acima de organizações ou instituições sem perder o aspecto da vida coletiva que nos torna o que somos: seres em construção. No entanto, considerar um falso problema a dicotomia indivíduo-sociedade como um entre tantos problemas decorrentes do dualismo cartesiano (que cria uma oposição substancialista), nos obriga a sermos críticos. É na crítica que podemos desmascarar a reificação que decorre da consideração das objetivações históricas como objetos naturais e, com isso, tentar compreender mais profundamente tudo aquilo que nos faz agir como agimos e a sociedade ser como é e, mais precisamente, o sistema de domínio e controle que caracteriza nossa sociedade. Mais do que o individualismo que fragmenta ou da organização social que determina de forma transcendente o indivíduo, nos propusemos a nos constituir enquanto imanência: fruto de relações. Aprendemos, crescemos e nos apreendemos enquanto indivíduos sempre a partir da relação com o outro. É isso a que um Coletivo se propõe. Ubuntu — “Sou porque Somos”.

Se na superação do binarismo, ou mais especificamente, na superação das dicotomias, nos obrigamos a ser críticos, isso explica o próprio nome escolhido para a Revista. Krino (κρινω) é o verbo grego que designa “separar, discernir, selecionar, escolher, julgar, aprovar, resolver” e do qual se originou os substantivos Crítica e Crise. Crise é um estado e Crítica nasce de um estado crítico, de uma crise. Krisis (κρισις) é o substantivo grego que designa também tanto Crise quanto Crítica e que denota uma quebra, uma ruptura, uma disjunção. Crítica enquanto ato significa discernir, separar os cernes de algo complexo para poder emitir um juízo sobre seu sentido e condições.

Há de se notar que a acepção pejorativa da palavra Crise se agregou a nossa língua a partir do vocabulário médico, sobretudo pela percepção das pessoas nos períodos críticos pelos quais passavam os pacientes que, segundo a tradição antiga, acontecia no 7º, 14º, 21º e 28º dias da evolução de uma doença. Curiosamente nesses dias esperava-se tanto a cura quanto a morte, como momento decisivo, portanto crítico. O porquê, ao longo do tempo, Crise perdeu o sentido da cura e só prevaleceu o da morte, talvez se devesse ao primitivismo da medicina praticada. Em outras culturas, com a mesma raiz etimológica para a palavra, como no sânscrito (Kri), Crise tem a acepção de purificação, distinção, desembaraçamento e depuração.

Enquanto disjunção podemos muito bem recorrer a ideia de que a Crise faça parte da própria realidade com a qual teríamos que lidar, justamente, de forma crítica e com o intuito de escolhermos os melhores caminhos ou os menos danosos. Se a crise é da própria constituição do tecido da realidade, se é uma ruptura de um suposto sentido que a realidade deveria ter, ou se é o tombamento da percepção de uma consciência diante do incompreensível, só saberemos mediante a Crítica.

Mas não pensem, no entanto, que esse discernimento tem uma forma fixa e dada para ser feito. Nosso discernir possui não apenas gradações, mas linguagens variadas, assim como níveis de profundidades e amplitudes variadas. Quanto mais específicos queremos ser, tanto mais podemos fugir do todo. Quanto mais tentamos olhar o todo, tanto mais podemos ser difusos. Portanto não há uma linguagem privilegiada para esse discernimento: ela pode estar na arte, na ciência, na filosofia e na experiência mística catártica. Dessa forma, o aspecto crítico desse coletivo não irá apenas fazer uma crítica diante da crise, mas provocará e denunciará a crise na própria crítica. Mais do que isso, enquanto indivíduos socializados dentro de esquemas organizacionais transcendentes, estar em coletivo nos termos aqui colocados, nos cobra sermos, sobretudo, autocríticos.

Seja bem vindo à Revista Krinos. Leia, comente, compartilhe, reflita conosco.

Equipe de Editores.

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