Ex-diretor de manicômio, Valencius Wurch é alvo de protestos após nomeação na Saúde

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3 min readFeb 19, 2016
Foto: Alice V/Democratize

Após ser nomeado com o cargo de coordenador de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas no Ministério da Saúde, o ex-diretor de manicômio Valencius Wurch tem sido alvo de vários protestos pelo país. O assassinato do psicólogo e militante pelos direitos humanos, Marcus Vinicius de Oliveira, coloca ainda mais em evidência o avanço contra direitos no Brasil.

Nesta quinta-feira (18), centenas de pessoas participaram do terceiro ato pela saída de Valencius Wurch do seu cargo na Coordenação Nacional de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas, do Ministério da Saúde. Diretor do hospital Casa de Saúde Doutor Eiras, Wurch é acusado desde 2000 por diversos abusos. As denúncias motivaram o governo federal a pedir, na época, uma investigação do Ministério Público. A medida levou a um processo de intervenção que terminou com o fechamento do local, em 2012.

Mas, cerca de 3 anos depois, Wurch volta ao foco dos militantes de direitos humanos com sua nomeação no Ministério da Saúde.

O protesto ocorre após o assassinato do psicólogo e defensor dos direitos humanos Marcus Vinicius de Oliveira. Marcus atuava na mediação de conflitos de terra entre comunidades rurais e fazendeiros na Bahia, além de ser declaradamente militante pela luta antimanicomial. Ele foi assassinado na noite do dia 4 de fevereiro, no povoado de Pirajuia, município de Jaguaripe, numa emboscada.

Amigos e conhecidos relatam que Marcus tinha um papel emblemático para a construção de uma psicologia comprometida com os direitos humanos e as lutas sociais. Sua contribuição foi fundamental para a primeira coordenação do Brasil na Corte Interamericana, no caso Damião Ximenes — torturado até a morte em uma clínica psiquiátrica.

Foto: Alice V/Democratize

Os manifestantes temem um retrocesso na chamada reforma psiquiátrica, que acontece desde 2001, quando foi publicada a Lei 10.216, garantindo uma série de direitos a pacientes psiquiátricos.

Um dos principais objetivos da reforma psiquiátrica é acabar com os hospícios, considerados prisões por militantes da área que denunciam um histórico de internações indevidas e maus tratos nesse tipo de estabelecimento. Desde o início da reforma, manicômios vêm dando lugar aos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), que são serviços da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) destinados a dedicar atenção a pessoas com transtornos mentais. O atendimento nessas instalações deve buscar estreitar os laços entre os pacientes e suas famílias. Para entidades contrárias à nomeação de Duarte Filho, o psiquiatra representa justamente o modelo antigo que se pretende aposentar.

Entidades como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme) e o Movimento Nacional pela Luta Antimanicomial (MNLA) já se posicionaram com preocupação sobre a nomeação de Wurch para o cargo.

“Quem foi diretor de um hospício com aquele histórico durante anos não tem legitimidade para assumir essa coordenação e conduzir o avanço da saúde mental comunitária brasileira”, ressaltou a professora e pesquisadora Cristina Ventura, do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, em entrevista ao jornal O Globo.

Foto: Reinaldo Meneguim/Democratize

O Ministério da Saúde, pasta que fez parte da série de “trocas” realizadas pelo governo para manter o apoio do PMDB no Congresso, reafirma que a escolha de Wurch é um avanço social na questão da humanização do tratamento a doentes mentais.

Já para ativistas e partidos de oposição na esquerda, a pasta da Saúde hoje serve apenas para manter privilégios políticos aos aliados do governo petista, arriscando a qualidade do sistema de saúde ao redor do país por conta do governismo “a qualquer custo” da presidenta Dilma Rousseff.

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