Projetando o Anti-Objeto Perfeito

Hilton Lima
2 min readNov 3, 2014

Eis o Banco de Camden. Este bloco amorfo e incolor de concreto foi projetado para resistir ao contato com qualquer coisa que possa existir em uma cidade. O Banco de Camden, que leva o nome do conselho municipal que o encomendou, possui um revestimento especial resistente a pichações e vandalismo. Sua superfície entroncada e sem traços característicos não oferece esconderijos para traficantes guardarem seus estoques secretos. Os lados angulares afastam skatistas, cartazes, lixo e chuva. O topo arqueado expulsa moradores de rua em busca de um lugar para dormir. Na verdade, ele foi especificamente projetado para garantir que não tenha nenhum outro uso além de um banco, o que faz dele um estranho artefato, definido bem mais pelo o que não é do que pelo o que é. O Banco de Camden é um esforço conjunto para criar um não-objeto.

Um enigma arquitetônico (Imagem: Factory Furniture)

Dessa forma, o Banco de Camden é uma estranha espécie de ponto nulo arquitetônico. É uma parte da cidade que, em sua concepção, não irá interagir com ela de forma alguma. Por muito pouco, não deixou de ser também um banco — é pouco confortável e não possui nenhuma das qualidades que o tornariam mais do que um simples lugar para sentar. Essa é a única condição para que o banco faça parte da cidade. Condição que é exercida com a menor convicção possível.

Gostaria de ver qual seria a aparência do Banco de Camden se não tivesse que ser um banco. Se essa derradeira restrição em seu design fosse retirada, no que ele se tornaria? Apenas um pedaço de concreto indistinto? Será que iria encolher, ou crescer? Será que seria ao menos visível, ou será que existiria sob a forma de um espaço escondido por trás de uma dobradura em um mapa? O Não-Banco de Camden seria como uma pérola sólida na boca de uma ostra, um objeto da cidade, mas que não faz parte dela. Apenas um bloco inerte.

Eu me preocupo que o Banco de Camden seja um símbolo da liberdade que perdemos em nossos espaços públicos — a liberdade para usar esses espaços do jeito que bem entendermos. Também temo que ele seja um ameaçador símbolo do futuro da Grã-Bretanha, um mundo onde o contrarianismo — seja através do sono, do skate, ou de rabiscos — não será apenas ilegal; será também impossível.

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