A Incrível História da Mulher que Sobrevive de Bolsa Família

Felipe J.S. Ant
6 min readDec 2, 2015

Tão comum quanto capim no campo, o argumento de que o Bolsa Família cria pessoas encostadas e preguiçosas pode ser encontrado facilmente nas redes sociais. Está na ponta da língua de qualquer liberal, trabalhador da classe média paulista ou opositor do governo atual, governo que tem nesse programa uma das bases de seu sucesso eleitoral.

O viés eleitoral pode muito bem ser questionado, porém para fins desse texto e considerando que o embrião desse programa foi criado no governo FHC; sua consolidação se deu nos governos Lula e Dilma e que em uma eventual eleição em 2018 nem os mais radicais conservadores teriam coragem de acabar com o programa, vou desconsiderar todas essas implicações e assumir que estamos falando de uma politica de Estado! (uau, olha só, o Brasil tem uma!)

Sendo assim, focando apenas no argumento de que legiões de desocupados e encostados no governo federal estariam se formando em cada canto desse país, resolvi descobrir quanto dinheiro estão ganhando esses supostos parasitas.

Imagem divulgada pela fan page do Senado Federal — Nov/2015

Baseado na didática tabela divulgada pelo Senado Federal e em algumas outras informações apresentadas a frente. Apresento a vocês…..

A Incrível História da Mulher que Sobrevive de Bolsa Família !!!!!

Inicialmente o caro eleitor já pode perguntar — “Porque você está escolhendo uma mulher e não um homem? ” — Bem, eu explico, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social , 93% dos titulares dos cartões são mulheres, portanto nada mais significativo que nossa protagonista seja uma delas. Também isso me faz lembrar da ocasião em que presenciei uma entrega de cartões na minha cidade, onde uma mulher avisava repetidamente em um megafone — “O cartão é da mulher! Não é do marido, não é do pai, não é do filho. Esse cartão é de vocês, não emprestem, não o percam.” — Nunca tinha me ficado tão claro que, em uma situação normal, esses cartões poderiam ser subitamente surrupiados por maridos, pais e filhos abusados que o gastariam em itens que não fossem realmente vitais para o sustento da família.

Pois bem, voltando a nossa história, a mágica de ser escritor me permite que me faça em Deus e em uma aparição repentina diga em voz retumbante: — Mulher! Tome essa tabela do Senado e essa varinha de condão, use-a de modo que extraias o máximo desse programa social, pois dele sobreviverás até o fim dos tempos! — Bumm, e desapareço em uma nuvem de fumaça.

Pois bem, de posse do itens nossa protagonista começa a fazer seus cálculos:

Capitulo 1 — Terás Renda básica.

O primeiro item da lista reza que, se a família tem renda per capita menor que R$ 77,00 ela passa a receber R$77,00 . Sendo ela sozinha e desempregada, temos a conta “Zero divido por um igual a Zero” . Ok, ela já passou no requisito.

Capitulo 2— Terás filhos para enriquecer.

Certamente com pouco mais de um décimo de um salário mínimo não dá para fazer muita coisa, nossa protagonista segue para o próximo passo da cartilha e descobre que se tiver até 5 filhos de 0 a 15 anos, receberá generosos R$ 35,00 para cada um deles. Um total de R$ 175,00! Graças a nossa varinha de condão vamos dispensar o marido nesse momento, o que pode até ser um beneficio visto os casos supracitados e , afinal, mais um desempregado nessa família seria apenas mais uma boca para alimentar.Fazendo uso de sua varinha de condão, ela invoca cinco filhos!

E temos uma mãe solteira com cinco filhos recebendo a bagatela de R$ 252,00 !

Capitulo 3— Se não deu, apeles para os Adolescentes!

Ninguém realmente deseja filhos adolescentes, eles são chatos, questionadores, criam confusões e nos afrontam. Porém a coisa está meio difícil apenas com esses duzentos e poucos reais. Nossa batalhadora então apoiada na variável vinculada ao adolescentes , invoca dois adolescentes de 16 anos! O governo então aumenta sua bolsa em R$ 42,00 para cada um deles.

Porém, apesar de adolescentes valerem mais na conta, ela ainda é uma mãe solteira, com sete filhos, dois deles adolescentes, ganhando o montante de R$ 336,00

Capitulo 4— Os céus são dos pequeninos!

Como as contas não estão exatamente batendo, ela toma mais uma medida para aumentar a renda mesmo que por apenas seis meses, nossa receosa mãe decide usar a variável Nutriz, que acrescenta 35,00 reais para cada bebê entre 0 a 6 meses.

Visto que é impossível ter cinco bebês em seis meses, ela resolve por transformar seus cinco filhos não adolescentes em gêmeos quíntuplos!!

Ah, agora sim, são mais R$ 175,00! Totalizando, R$ 511,00

Capitulo 5 — Crescei-vos e Multiplicai-vos !

Agora vamos dar um desconto a nossa heroína, ela anda um pouco ocupada demais sendo mãe solteira, com cinco bebês gêmeos e dois adolescentes. É muita fralda, mamadeira, choro e reclamação sobre acnes e espinhas. Em um momento de impulso , ela aponta a varinha para uma das suas filhas adolescentes e apela para a Variável Gestante!

Shazam! És mãe solteira, com cinco bebês gêmeos, dois adolescentes, sendo que uma delas está grávida. Total: R$ 546,00

Capitulo 6 — É…. estás um pouco apertada.

“O que eu mais temia, aconteceu comigo; o que eu receava, me atingiu. Não dissimulo, não me calo, não me aquieto: a ira de Deus veio sobre mim!”

- Jó, ligeiramente irritado com Deus

Pois é, sendo uma família de 8 pessoas, com renda de R$ 546,00, a coisa não está necessariamente confortável. Ela quebra a varinha em duas, me xinga de nomes que prefiro não citar, se encaminha para o guichê do Ministério. E chora.

É ….pelo menos na extrema pobreza (menos de 70 reais por familiar) ela não vai ficar. Dá para subir para R$ 560,00.

Acho que, como Deus, devo desculpas a ela. Acho que alguns comentáristas do Facebook também.

Essa página contém textos , pensamentos e hoje, uma breve aula de economia doméstica nos tempos de Jó.

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Felipe J.S. Ant

Quando escrever um livro, me chamarei escritor. Enquanto isso, vou tentando