Mais da metade dos senadores que irão analisar impeachment já se envolveram em escândalos

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7 min readApr 26, 2016

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Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

O Senado elegeu nesta segunda-feira (25) a comissão que irá analisar o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Dos 21 senadores eleitos para o trabalho, pelo menos 12 já se envolveram em escândalos de corrupção.

Na prática, a eleição apenas referendou a indicação feita pelos líderes dos seis blocos partidarios da Casa. O PMDB de Michel Temer é a legenda com maior integrantes — cinco.

Nesta terça (26), os membros da comissão devem eleger o presidente e relator — a presidência deve ficar nas mãos do senador Raimundo Lira, também do PMDB.

Mas o fator mais irônico é que mais da metade dos senadores que devem decidir o futuro da presidente da República já foram envolvidos em escândalos de corrupção e até tráfico de drogas.

Dos 21 senadores escolhidos para o trabalho, pelo menos 12 não se encontram em uma boa situação com a Justiça.

Se formos considerar entre os blocos pró e contra o impeachment, teremos na comissão: 9 senadores pró-impeachment envolvidos em escândalos de corrupção e tráfico de drogas; 3 senadores contra o impeachment envolvidos em escândalos.

O Democratize analisou cada um desses 12 senadores. Veja abaixo.

Zezé Perrella — senador pelo PTB (oposição)

Em 2013, Perrella se envolveu em um dos escândalos mais notórios da última década. Um helicóptero com mais de 400kg de pasta base de cocacína foi apreendido em uma propriedade da família de Zezé no Espírito Santo.

Ex-presidente do clube de futebol mineiro Cruzeiro, foi investigado em meados de 2010 por suspeita de lavagem de dinheiro na venda do zagueiro Luisão, em 2003, e por suposta ocultação de patrimônio. Zezé é dono de uma fazenda em Minas Gerais avaliada em 60 milhões de reais.

Wellington Fagundes — senador pelo PR (oposição)

Ainda deputado, no ano de 2006, Fagundes foi acusado pelo empresário Luiz Antônio Vedoin de ter feito acordo para receber comissão de 10% do valor de cada emenda de sua autoria que viesse a ser executada por prefeituras ou entidades não-governamentais, com o objetivo de favorecer o esquema das sanguessugas. Conforme a acusação, Fagundes e um assessor chamado Cinésio Nunes de Oliveira, se encarregaram de fazer contatos com prefeitos para “acertar detalhes do direcionamento das licitações”.

Vedoin diz também que pagou R$100 mil em espécie ao então deputado, sendo que parte do dinheiro teria sido entregue pessoalmente e outra parcela teria sido passada por intermediário do assessor.

Glason Cameli — senador pelo PP (oposição)

No mês passado, o senador Cameli passou a ser investigado por formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de ativos. O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), aceitou a representação criminal proposta pela Procuradoria Geral da República — além de outros 34 políticos vinculados ao seu partido, o PP, e também do PMDB.

A investigação, segundo reproduziu o ministro Zavascki, tem como eixo:

“[…] esquema criminoso montado dentro da Petrobras, especialmente na Diretoria de Abastecimento, na Diretoria de Serviços e na Diretoria Internacional, contava com a relevante participação de grupos políticos, ligados a pelo menos três partidos diferentes: PP, PT e PMDB.

Esse grupos agiam em associação criminosa, de forma estável, com comunhão de esforços e unidade de desígnios, no intuito de praticar diversos crimes, dentre os quais corrupção passiva e lavagem de dinheiro.”

A senadora Vanessa Grazziotin e o senador Gladson Cameli, durante sessão deliberativa ordinária no Senado | Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

Vanessa Grazziotin — senadora pelo PCdoB (governo)

A Procuradoria da República no Distrito Federal, em 2013, abriu um inquérito civil para investigar denúncias de que a senadora Grazziotin teria empregado funcionários fantasmas quando era deputada federal (entre 1999 e 2007). A investigação foi motivada por pedido da Federação Nacional dos Estudantes de Direito e pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

Fernando Bezerra — senador pelo PSB (oposição)

Até 2012, Bezerra era investigado em pelo menos 4 ações pelo Ministério Público Federal, por suspeita de improbidade administrativa na época em que foi prefeito de Petrolina, no Pernambuco.

Numa das ações, sobre possíveis irregularidades num convênio de R$ 24,4 milhões da prefeitura de Petrolina com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), outro investigado, além de Bezerra, é seu irmão Clementino de Souza Coelho — atual presidente interino da Codevasf e então diretor de engenharia do órgão, tendo assinado a liberação da 1ª parcela do convênio.

Outra das ações do MPF trata de supostas irregularidades na contratação, pela prefeitura de Petrolina, em abril de 2001, da empresa SP Síntese Ltda., com dinheiro do SUS. A empresa foi contratada sem licitação para fornecimento de próteses e órteses para o Hospital Dom Malan.

Gleisi Hoffmann — senadora pelo PT (governo)

Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Hoffmann foi investigada pela Operação Lava Jato, por conta de documentos que indicavam que uma empresa envolvida no caso pagou pelos serviços da senadora.

A Consist é investigada na Operação Lava-Jato por indícios de desvios de recursos em contrato de crédito consignado com o Ministério do Planejamento. O material aponta pagamentos também ao ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo (PT-PR), marido de Gleisi. As evidências foram encontradas durante busca e apreensão realizada no escritório do dvogado Guilherme Gonçalves, investigado na fase “Pixuleco 2” da Lava-Jato.

Lindbergh Farias — senador pelo PT (governo)

Também na Lava Jato, o senador petista esteve na lista de investigados que o procurador-geral da República encaminhou para o Supremo Tribunal Federal, em 2015.

Em depoimento de delação premiada, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, disse que trabalhou para o petista na eleição ao governo do Rio de Janeiro no ano passado como arrecadador de recursos de empreiteiras para financiar a campanha. Costa contou aos investigadores da operação que empreiteiras pagavam propina em troca de contratos com a petroleira.

Cássio Cunha Lima — senador pelo PSDB (oposição)

Até 2012, o Supremo Tribunal Federal moveu pelo menos 2 inquéritos contra Cássio. Os processos são anteriores ao mandato do tucano e mudaram de instância porque ele passou a ter foro privilegiado. As investigações são de supostos crimes eleitorais e de crimes contra a lei de licitações.

Um dos inquéritos foi movido pelo Ministério Público Eleitoral, e além de Cássio Cunha Lima investiga o vice-governador Rômulo Gouveia (PSD). A investigação apura se os dois cometeram crimes eleitorais durante as eleições de 2008, quando Rômulo disputava a prefeitura de Campina Grande e Cássio era o governador da Paraíba.

“O inquérito diz respeito a um evento ocorrido no Hotel Garden durante as eleições de Campina Grande. Foi movida uma representação que apontava que não houve prestação de contas desse evento e que servidores teriam sido liberados do expediente para participar”, disse o advogado Luciano Pires, que representa Cássio no processo.

O senador Anastasia, durante campanha para o senado em 2014 | Foto: Daniel Messias

Antônio Anastasia — senador pelo PSDB (oposição)

Citado nas investigações da operação Lava Jato, o senador tucano teria recebido pelo menos R$1 milhão do policial Jayme Alves de Oliveira Filho, preso na 7ª fase da operação. O fato teria sido declarado durante depoimento.

Jayme afirmou: “Fui numa casa em Belo Horizonte, em 2010, perto de um shopping, numa rodovia. Fui fazer uma entrega a pedido do Youssef e, segundo ele, o dinheiro era para o Anastasia, entreguei a uma pessoa que não se identificou”.

Perguntado se já sabia de quem se tratava, Jayme disse: “não tinha a menor ideia. Tempos mais tarde, vendo os resultados eleitorais, identifiquei que o candidato que ganhou a eleição em Minas Gerais era a pessoa para quem eu levei o dinheiro”. “Uma mala com aproximadamente R$ 1 milhão”.

Aloysio Nunes — senador pelo PSDB (oposição)

No ano passado, o senador tucano passou a ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal. Sendo acusação, Aloysio teria recebido propina no valor de R$500 mil para obter contratos com a Petrobrás.

A investigação foi feita com base nas declarações do empresário Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, em delação premiada.

Waldemir Moka — senador pelo PMDB (oposição)

Em 2010, o jornal Folha de S. Paulo denunciou que o então deputado Waldemir Moka gastou cerca de R$12 mil da Câmara dos Deputados para imprimir 40 mil exemplares de um boletim em que divulgava sua candidatura ao Senado.

No boletim, chamado “Moka Senador”, o deputado aparece sorrindo em uma foto na qual simula a votação para o Senado na tela da urna eletrônica. O informativo foi distribuído entre filiados do PMDB em Mato Grosso do Sul.

O gasto com a impressão foi autorizado pela Câmara dos Deputados, embora a regra para uso da Ceap (Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar), proíba o pagamento de despesas “de caráter eleitoral”.

O caso foi encaminhado para o Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul, porém não se sabe o andamento das investigações.

Simone Tibet — senadora pelo PMDB (oposição)

Em 2014, a senadora do PMDB passou a ser investigada por contrato ilegal com Fundação para prestar serviços de saúde.

Na época, Simone ainda era vice-governadora do Mato Grosso do Sul. Ela tentou escapar das investigações afirmando que o caso já teria prescrito, mas o Ministério Público Federal não aceitou e ainda pediu a inclusão de seu nome no polo passivo da ação.

O MPF investiga desde 2012 a contratação irregular de serviço de saúde da Funfarme (Fundação Faculdade Regional de Medicina de São José do Rio Preto), realizada em 2009, época da administração da vice-governadora no estado enquanto prefeita de Três Lagoas.

Simone foi investigada por dispensa ilegal de licitação para contratação da Funfarme, segundo relatório do TCE (Tribunal de Contas do Estado).

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