Flor de Sal — Memórias de um Hedonista — Livro I — Agora no Medium

Definitivamente o mundo mudou.

Robson Felix
Flor de Sal
Published in
4 min readMay 25, 2016

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Qual o autor que não deseja ser eternizado em um livro físico? Pois bem, eu também desejava. Mas o longo processo de publicação me cansou, um pouco. Foram anos escrevendo e mais alguns anos revisando até que eu encontrasse uma editora que não me pedisse um rim em troca da impressão do meu primeiro livro. Eu até tentei a autopublicação virtual, mas era muita dispersão no gerenciamento da coisa toda... e pouca produção.

Quanto às revisões?

Ah, tudo bem. Meu desejo era escrever um livro que eu gostasse de ler. Como meu livro é meio biografia, meio ficção, eu não me cansava de lê-lo porque eu vivi cada capítulo do que está escrito nele e as passagens que (eventualmente) não vivi, eu desejaria tê-las vivido.

Meu projeto megalomaníaco era fazer uma tetralogia.

Imagina?!

Eu só precisava de uma editora atômica.

Depois da parceria selada com a editora, que me exigiu apenas o conteúdo, ainda foram mais alguns meses de idas e vindas em revisões, diagramações, detalhes da produção gráfica, opções de capa, mais alterações do conteúdo...

Enfim.

Além das minhas revisões de conteúdo eu ainda contratei, via editora, uma revisora profissional que teve a pachorra de colocar mesóclises, ênclise (e os carai)… nos personagens do MEU livro! Isso me forçou a revisar tudo de novo descendo para a embocadura coloquial a fala dos meus personagens cariocas (Jorge amado dizia que se seus personagens dissessem algo como: ‘Dê-me água’, eles morreriam de sede)”.

Mas, valeu a experiência de ter me envolvido em todo o processo de produção do meu primeiro livro atômico.

Eu nunca imaginei Flor de Sal de outra forma, senão materializado no mundo físico.

Mas, para quê mesmo?

De onde eu me encontro agora poderia dizer que os sentimentos se misturam como em uma receita: um pouco de vaidade, uma pitada de exibicionismo, uns goles de desafio, mais algumas lâminas de vaidade, uma redução de teimosia, mais uma talagada de desafio…

Enfim.

Até que um dia eu vi Flor de Sal impresso.

Deveria ser o dia mais feliz da minha vida de escritor, certo? Mas, não foi. Mesmo após a sua impressão, algumas coisas ainda me incomodavam nele. Era como se eu quisesse, ainda, editá-lo, revisar uns preciosismos que eu deixei passar. Nada grave. Mas, eu ainda queria dar uns “tapas” em alguns detalhes. Eu queria meu texto VIVO de novo. Mas, não havia mais nada a fazer. Flor de Sal já estava eternizado no mundo físico e alterá-lo só seria possível numa segunda edição — algo que, certamente, jamais aconteceria.

Não foi uma experiência ruim, mas agora eu diria que foi um pouco vintage.

Além do mais, eu não sou nenhum Paulo Coelho e meu universo potencial de leitores ficou restrito aos quarenta amigos que se dispuseram a ir no meu lançamento em dia de ensaio da cidade para as Olimpíadas.

Mas, eu queria mais.

Eu quero mais.

Todos sabemos que o índice de leitura no Brasil é baixo, mas um escritor com um público de quarenta pessoas? Quero dizer… muito menos. Quantas dessas quarenta pessoas de fato leram o meu livro?

Claro que eu desenvolvi estratégias nas redes sociais divulgando o ponto de vendas virtual de Flor de Sal, mas obtive principalmente likes culpados dos mais de novecentos amigos que tenho no Facebook e que não foram ao lançamento do meu primeiro livro. Se eles soubessem que, se eu pudesse, nem eu iria ao lançamento do meu livro em dia de ensaio para as Olimpíadas.

Publiquei alguns capítulos na fanpage de Flor de Sal no Facebook, mas a quantidade de informação que tem por lá não ajuda na concentração e essa dispersão toda não facilitou em nada o índice de leitura dos capítulos (salpicados aleatoriamente) do meu livro de estreia, na rede social de Zuckerberg.

Neste meio tempo eu fui repensando a vida atômica.

Comecei a ler livros no formato epub no celular em um aplicativo maravilhoso chamado Aldiko. Fui apresentado ao NETFLIX (tardiamente, eu sei) e entrei (logo de cara) em um relacionamento sério com o Medium. Lentamente me dei conta da força do conteúdo em um mundo não atômico.

E…voalá!

Decidi publicar a íntegra do meu primeiro livro aqui no Medium.

Quero alcançar mais pessoas, mais leitores de meus delírios. Pessoas interessantes, que não me conhecem, mas que se sentem o mesmo prazer que eu tenho em ler e escrever.

Então é isso.

Resolvi me desquitar do mundo físico e acreditar num conceito muito difundido pelo já citado escritor/mago Paulo Coelho e abrir todo o conteúdo do meu livro de estreia na internet. Segundo a teoria do mago, quando seus livros foram integralmente disponibilizados na web suas vendas obtiveram um sensível aumento, ao contrário do que previam seus críticos. Sua teoria se baseia na ideia de que quem realmente gostar do conteúdo de algum de seus livros, após tê-lo lido na internet, o comprará fisicamente — pessoas do século passado certamente (como eu) que ainda lutam para se desapegar do mundo dos átomos. Ademais, para mim, as vendas do meu livro não farão muita diferença, mesmo. Definitivamente não vou ficar rico vendendo livros e nem é esse meu foco criativo. Da nuvem da vaidade literária eu caí, já faz algum tempo.

Parafraseando alguém que eu não vou me lembrar quem é, mas que dizia que “o pagamento do ator é o aplauso”, eu diria que o (verdadeiro) pagamento do escritor é ser lido.

Sejam bem-vindos a bordo do navio Flor de Sal — Memórias de um Hedonista.

E boa viagem!

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