O dia em que perdi o show do Raein

Parte II

Renan Castro
3 min readFeb 14, 2014

Estava eu todo feliz, pois além de conhecer a terra da macarronada, era uma viagem como parte do curso que estava fazendo. Então, além de observar tudo ao redor em exercício para um projeto de estudo, poderia fazer o roteiro taxadão de arrematar uma pizza, um vinho ou um sorvete italiano.

Até que por glória descubro que na mesma data que eu estaria na cidade, rolaria um festival de música, mas que para mim consistia em ver apenas uma: Raein. O gosto pela banda vem assim como descrito na parte um dessa emboscada disfarçada de aventura.

Imagine a declaração de alegria: inclinação da cabeça pra cima, soltar uma risada e finalizar com uma palminha. Fazer isso tudo estando numa sala vazia, de forma que a vergonhice de si aumenta por jamais ter entendido as pessoas que conversam sozinhas.

Depois, já na cidade à milhão, porém com um novo problema: sair sem planos para rua, sem mapa, telefone, relógio ou direção. Toda informação que eu tinha era minha confiança. Resolvi testá-la pois sempre que anoto as coisas, acabo por lembrar facilmente dos nomes e esquemas mentalizados. Pois não deu outra: com minha calma bruta, parti para o rolê atrasado e procurando estação do metrô, mesmo sem saber a localização precisamente. Como coordenadas: “Tá. Eu pego esse ponto, desço lá e deve ser mais ou menos por ali” diria minha intuição. Fui na fé mesmo, afinal se alguém tomou conta de colocar a minha ida até lá em uma mesma data desse evento, todo o restante era mero detalhe. Estava claro que essa porra ia acontecer. E foi aí que segui meu feeling maldito: perguntei a tantas pessoas onde ficava o local e ninguém sabia dizer. Reparava atentamente no caminho alguns sinais: “Esse cara tem cara de que vai colar lá também. Vou seguir ele”. Mas não. Rodei, rodei e fiz perguntas. Nunca dependi tanto de falar italiano ou talvez de que italianos falassem mais o inglês. Não deu. Depois de muito procurar, desisti e fodeu. Voltei para o hotel só para chegar e olhar no google maps o quão perto eu estava. Estive perto, mas não estive tão próximo. O plano falhou. Confiei em mim e ganhei a própria frustração. Da próxima vez (se houvesse), não sei o que faria diferente. Talvez faria igual. E ainda uso de uma frase de meu pai para ilustrar o que temos aqui. Segundo ele, o melhor café é sempre aquele que está por vir. Pois bem, para mim agora também é assim: o melhor show da vida será sempre aquele que não fui.

Dias depois, uma imagem captada por alguém que esteve lá.

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Renan Castro

Escritor da NewOrder.in onde publica ensaios + textos sobre processo criativo, comportamento de consumo & comunicação. Estratégia & Insights na Mutato.