Como é a administração de uma ecovila?
O que é uma ecovila?
Como se administra uma ecovila?
Qual a diferença entre uma ecovila e uma comunidade alternativa?
Como acontece a gestão em uma comunidade intencional?
Foram essas inquietações que me levaram a escolher a gestão de ecovilas como tema da minha dissertação de Mestrado em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina, que concluí em julho de 2012. Para realizar minha pesquisa, fiz um mapeamento das ecovilas, comunidades intencionais sustentáveis e comunidades alternativas existentes no Brasil. Encontrei referência a pelo menos 99 comunidades ativas no país.
Morei, junto com minha família, durante 4 meses em uma ecovila no sul da Bahia, onde pude observar na prática como acontecia a gestão daquela comunidade. Investiguei a economia, a sociedade e os ritos, espiritualidade e cultura dessa organização. Conheci centenas de pessoas, fiz amizades, observei conflitos e participei de confraternizações. Estive imerso no turbilhão de acontecimentos da vida e da gestão de uma ecovila.
Minha dissertação, entitulada “Tensão entre as racionalidades substantiva e instrumental: estudo de caso na ecovila Itapeba”, é a primeira da Ciência da Administração a estudar a gestão de uma ecovila. Além disso, trata-se de um inédito trabalho antropológico e etnográfico de observação participante em uma população com essas caraxterísticas. Inauguro assim um novo campo de estudos: a administração de ecovilas e comunidades intencionais sustentáveis.
Um estudo inovador, feito com entusiasmo e embasado na abordagem substantiva de Alberto Guerreiro Ramos, mas que se debruça sobre um fenômeno contemporâneo recente e se resplada na observação sistemática da realidade e das práticas de gestão e tomada de decisões.
Baixe na íntegra minha dissertação de mestrado:
Dissertação (Mestrado em Administração) — Curso de Pós-Graduação em Administração
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012.
Palavras-chave: ecovilas, racionalidade substantiva, tensão.
Esta dissertação teve como objetivo compreender as manifestações da tensão entre as racionalidades substantiva e instrumental no processo de comunicação e relações interpessoais na gestão da Ecovila Itapeba.
Trata-se de um estudo qualitativo ex-post-facto. O método utilizado foi o etnográfico, por meio de observação participante realizada entre maio e setembro de 2011.
Teve como base teórica a abordagem substantiva das organizações, mais especificamente o campo de estudos de racionalidade na prática administrativa. Este trabalho introduziu na Ciência da Administração o estudo de um tipo de organização inédito, a ecovila. Buscou-se entender como os membros da organização dão significado à tensão, de que forma os gestores lidam com esta tensão e de que forma os sujeitos respondem à mesma.
A análise dos resultados do trabalho de campo aponta às seguintes conclusões:
I) Racionalidades instrumental e substantiva não são excludentes;
II) O processo de comunicação permite equilibrar a normatividade autoimposta pelo modelo de gestão com as aspirações, os valores e a autorrealização;
III) Encontros regulares, tomada de decisão, gestão de conflitos, rituais, celebrações e encontros não planejados compõem o universo das relações interpessoais no âmbito das comunidades sustentáveis;
IV) A criação de espaços para tomada de decisão e exercício da vida política que privilegiem a racionalidade substantiva não implica na redução dos espaços técnicos e burocráticos típicos da racionalidade instrumental;
V) A participação no processo decisório, o acesso às instâncias políticas e de poder e a possibilidade de afirmar princípios pessoais são essenciais para conciliar as expectativas pessoais e as exigências organizacionais;
VI) As ecovilas representam uma síntese entre conhecimento e ação, entre teoria e prática, configurando-se como uma das diversas respostas possíveis à crise civilizatória da atualidade.
“Uma vida humana associada de bases substantivas é imediatamente possível e está ao alcance de todos que estejam dispostos a levar a melhor sobre o mercado”
Gabriel Siqueira
“São as nossas utopias que tornam nosso mundo tolerável. Utopia é a vida real, aqui ou em qualquer lugar, levada até o limite das suas possibilidades ideais. (…) Com um pouco de fé e audácia poderemos ainda desarmar as inteligências castradas que se preparam agora para mascarar a sua insanidade e impotência políticas num sacrifício de toda a vida aos seus rituais dementes e aos seus Deuses Nucleares.
Nessa vitória, se a alcançarmos, não procuraremos a utopia num horizonte histórico de um futuro longínquo, e muito menos na Lua ou num planeta remoto. Encontrá-la-emos nas nossas próprias almas e na terra debaixo dos nossos pés, ainda disponível para alimentar as forças da vida e do amor, e para restaurar no próprio homem o sentido de suas potencialidades mais que humanas”
Lewis Mumford, 1922.
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